Autor
Aldemir Chaim
Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente
aldemir.chaim@embrapa.br
Um hectare de cultura pode possuir vários hectares de folhas e a área foliar é diretamente relacionada à produção das plantas. Alguns tipos de insetos e doenças atacam as folhas, provocando a perda de suas áreas, consequentemente reduzindo a fotossíntese e a produção da cultura.
Essas pragas e doenças ocupam determinados nichos nas plantas, ou seja, seus ataques podem ocorrer na parte apical, mediana ou basal das plantas. Quando os problemas ocorrem na parte apical das plantas, a aplicação de agrotóxicos químicos ou biológicos pode solucionar o problema fitossanitário com certa facilidade, desde que o problema não ocorra na parte abaxial (inferior) das folhas.
Quando os problemas ocorrem na parte mediana ou basal das plantas, o controle fica extremamente dificultado, porque as folhas da região apical funcionam como um guarda-chuva, impedindo a correta distribuição da dose do agrotóxico nas regiões inferiores, ou seja, onde os problemas se localizam.
Detalhes
A aplicação de agrotóxicos praticada atualmente é realizada com gotas com diâmetros superiores a 200 micrômetros. Essas gotas são lançadas pelos bicos de pulverização e se sedimentam sobre as plantas pela ação da gravidade.
Os bicos hidráulicos produzem alguma turbulência no ar que, somando à movimentação provocada pelo deslocamento do equipamento de pulverização, pode, em alguns casos, melhorar o efeito da penetração. Mas, esse benefício é muito pequeno, pois pesquisas realizadas durante mais de 30 anos pela Embrapa Meio Ambiente revelaram que as deposições se concentram na parte apical das plantas.
Ainda assim, devido a vários problemas a quantidade dos produtos encontrados nas plantas apresentam-se em quantidade muito inferior àquela aplicada.
Evolução
Entre as décadas de 70 e 80, quando ainda existia um grande número de formulação de agrotóxicos próprios para aplicação em volumes muito baixos, ou seja, entre 1,0 a 50,0 litros por hectare, utilizavam-se gotas entre 20 e 80 micrômetros. Esses produtos saíram de mercado e, infelizmente, gotas nessa faixa de tamanho não podem ser utilizadas porque não existem no mercado produtos anti-evaporantes.
Durante um processo de pulverização, o espectro de gotas produzido por um bico hidráulico é extremamente desuniforme, existindo uma grande porcentagem de gotas que são perdidas por evaporação. Mas, se um litro de calda puder ser dividido em gotas uniformes, é prevista, por exemplo, uma produção de 238.731.856 gotas de 200 micrômetros ou 15.278.838.808 gotas de 50 micrômetros.
Uma gota de 200 micrômetros de diâmetro é 64 vezes maior que uma gota de 50 micrômetros. Em condições de temperatura de 30ºC e umidade relativa de 50%, uma gota de 200 micrômetros demoraria 65 segundos para se evaporar completamente, ou atingiria um percurso de 39 metros, antes de sua extinção, sendo que na mesma situação uma gota de 50 micrômetros duraria quatro segundos ou percorreria apenas 0,15 metros antes de sua extinção.
Possibilidades
Atualmente, existem algumas possibilidades de melhoria na deposição e, principalmente, distribuição os agrotóxicos nas plantas. Uma das possibilidades seria a utilização de pulverização pneumática, em que um jato de ar fragmenta o líquido em gotas e também arremessa a nuvem de partículas para o interior da cobertura vegetal.
Essa tecnologia pode ser associada à eletrificação das gotículas, que ajudaria na deposição nas hastes dos ramos e região abaxial das folhas das plantas. Outra possibilidade seria a utilização de ventiladores para assoprar as gotas produzidas por bicos hidráulicos.
Em ambos os casos, poderiam ser utilizadas as melhores gotas pequenas, sem problemas de evaporação, porque elas se deslocariam em alta velocidade até atingir os alvos e, principalmente, com um vento com umidade relativa alta. Também nesse caso haveria possibilidade de eletrificação de gotas.
Tecnologias
No caso das culturas rasteiras, atualmente a indústria de máquinas de aplicação de agrotóxicos está extremamente interessada no desenvolvimento de equipamentos com grande capacidade operacional, ou seja, tratar uma grande área em pouco tempo.
Apesar de conhecer algumas alternativas para solucionar os problemas, a Embrapa Meio Ambiente não tem condições de montar esses equipamentos sem a parceria das empresas fabricantes de equipamentos de aplicação de agrotóxicos.
Para que se tenha ideia da importância da participação da iniciativa privada no desenvolvimento de tecnologias, há 5 anos a Embrapa Meio Ambiente conseguiu colocar uma tecnologia eletrostática no mercado, quando realizou parcerias com iniciativa privada.
Há 34 anos a Embrapa Meio Ambiente está desenvolvendo várias tecnologias eletrostáticas para aplicação de agrotóxicos para aumento da eficiência das pulverizações. No caso das culturas de pequenas áreas, a Embrapa Meio Ambiente já tem parceria com algumas empresas e alguns produtos já se encontram no mercado, com selo “Tecnologia Embrapa”.