Autores
Jeisiane Andrade
Engenheira agrônoma e mestranda em Fisiologia e Bioquímica de Plantas – ESALQ/USP
Paulo Roberto de Camargo e Castro
Doutor e professor Titular ESALQ/USP
prcastro@usp.br
A batata é um alimento de grande importância mundial, sendo atualmente a terceira fonte alimentar mais importante do mundo, superada apenas pelo arroz e o trigo. No Brasil, o consumo médio por habitante ao ano atinge 15 kg, o que é considerado baixo quando comparado aos 70-80 kg por habitante ao ano de países como Alemanha e Holanda. Atualmente, Minas Gerais é classificada como o maior produtor de batata do Brasil.
O cultivo dessa cultura pode ser realizado em até três safras – a safra das águas, da seca e a de inverno. Logo, a planta de batata é muito sensível ao déficit hídrico. Mesmo pequenos períodos de estiagem comprometem o sucesso da lavoura e, para tanto, a irrigação é recomendada em regiões e/ou estações com distribuição irregular de chuvas.
Porém, o excesso de água também pode afetar a produção, por reduzir a aeração do solo, favorecer a maior incidência de doenças e lixiviar nutrientes móveis. Sendo assim, a demanda de água pelas plantas é dependente das condições climáticas, da cultivar e do sistema de cultivo, principalmente.
O estádio inicial do desenvolvimento da batata começa com o plantio da batata-semente brotada até a emergência das hastes principais, o que ocorre após sete a 14 dias após o plantio. Nesse período, a planta utiliza a reserva de nutrientes da batata-matriz, já que o sistema radicular ainda não se desenvolveu.
Adubação
Posteriormente, no decorrer do ciclo, após ter esgotado as reservas da batata-matriz, a cultura demandará de nutrientes externos, o que faz da adubação via solo ou foliar imprescindível.
A adubação a ser realizada é baseada na análise de solo e exigências nutricionais da cultura. A forma de aplicação pode ser via solo. Em sua maioria, a adubação de base é feita via solo, e a adubação foliar é realizada para complementar, com o objetivo corrigir deficiências de macro e micronutrientes, uma vez que foi detectado sintoma nas folhas e confirmado por análise foliar em laboratório.
A aplicação de nutrientes via foliar é rápida e eficiente, superando a adubação de solo, porém, não a substitui. Sendo assim, a adubação foliar é uma estratégia adicional para a aplicação de fertilizantes nas culturas.
Os aminoácidos
Afim de potencializar o desempenho da cultura, o uso de aminoácidos tem sido empregado junto à fertilização foliar ou fertirrigação. Os aminoácidos estão presentes em todas as plantas, cujas principais funções são a síntese de proteínas, o preparo de substâncias reguladoras do metabolismo vegetal e também é ativador do metabolismo fisiológico.
Além disso, os aminoácidos possuem a função de interação com a nutrição da planta, aumentando a eficiência da absorção, transporte e assimilação de nutrientes. Em condições ideais de cultivo as plantas são capazes de sintetizar os aminoácidos por ela demandados, empregando o nitrogênio mineral que absorvem do meio, utilizando, para isso, diversas enzimas e energia, mas em momentos de estresse (excesso ou escassez de chuva, ataque de pragas e doenças) e em determinadas fases do desenvolvimento das plantas, como germinação, florescimento e tuberização, a exigência por energia é alta.
O nível de proteínas pode, então, ficar aquém do necessário, podendo tornar as plantas mais suscetíveis a agentes externos (como insetos-pragas e microrganismos fitopatogênicos), o que pode comprometer a produtividade da cultura.
Como alternativa a esse déficit, os fertilizantes foliares com adição de aminoácidos suprem a quantidade necessária para que a planta possa ter melhores condições para se desenvolver perante esses estresses, estimulando o melhor desempenho sob condições adversas.
Ainda, retardam o envelhecimento das folhas, prolongando o ciclo produtivo e reduzindo a fitotoxicidade de alguns herbicidas, fungicidas e herbicidas. Assim, a aplicação de aminoácidos, via solo ou foliar, proporciona economia energética.
Maior absorção
Os aminoácidos, aplicados via solo ou foliar, podem ser absorvidos e rapidamente transportados para as demais partes das plantas e empregados na formação de proteínas ou como matéria-prima, sem o gasto energético inicial, deixando uma provisão de energia para as demais demandas do vegetal.
Os aminoácidos aumentam a eficiência da absorção, transporte e assimilação dos nutrientes, devido ao seu poder complexante. Sendo assim, a associação de nutrientes minerais e aminoácidos é uma boa opção. A complexação de cátions com aminoácidos gera moléculas que são neutras eletricamente, melhorando a absorção e redistribuição dos nutrientes.
Resultados na bataticultura
Quanto ao cultivo de batata, pode-se considerar que o uso dos produtos com aminoácidos, via fertirrigação ou foliar, não irá aumentar o custo de produção. A aplicação pode ser conjunta com outras operações e os aminoácidos adicionados às caldas de defensivos (desde que haja compatibilidade).
Experimentos realizados em Espírito Santo do Pinhal (SP) em lavoura de batata, por fertirrigação, mostram que o uso de formulado comercial contendo aminoácidos e micronutrientes levaram a aumentos importantes de produção, entre 45 a 52%, dependendo da dose empregada.
Também se observou que o uso dos produtos com aminoácidos melhora a produção de tubérculos de melhor classificação para comercialização, diminuindo, assim, as batatas fora da padronização estabelecida.
Pesquisas mostram que aplicações ao longo do ciclo, aos 30, 50 e 60 dias de idade das plantas, mostraram bons resultados. Outras observações mostram que o uso apenas aos 40 dias favorece a tuberização, melhorando a produtividade. Além desse, outros estudos realizados na cidade de Perdizes (MG) mostraram que o uso de soluções à base de aminoácidos, extratos vegetais e micronutrientes favoreceram a produtividade de batata em 14%, se comparado a um plantio sem o uso desses produtos.
Portanto, no cultivo da batata, o uso de aminoácidos aplicados juntamente com os fertilizantes proporcionará rápido desenvolvimento inicial da cultura, melhor enraizamento, favorecimento da tuberização (maior número de tubérculos e ganho de peso), melhoria na qualidade dos tubérculos, além de maior tolerância ao estresse.
Em função da regulação do balanço hormonal e nutricional do vegetal, além da diminuição do efeito dos estresses pelos quais a planta passa durante o ciclo, capazes de reduzir o potencial de produção do cultivo, os aminoácidos podem ser de utilidade, por possibilitarem essa homeostase.