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domingo, novembro 24, 2024
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Ferrugem do cafeeiro – Qual a situação real?

Autor

José Braz Matiello
Engenheiro agrônomo do MAPA/Procafé
jb.matiello@yahoo.com.br

A ferrugem é a doença mais grave e prejudicial na lavoura cafeeira. O ciclo de evolução da ferrugem, nas condições da cafeicultura brasileira, tem se mostrado bem definido, repetindo-se ano a ano. A doença evolui em função do clima, com aumento da infecção a partir de novembro/dezembro até abril/maio, com o “pico” acontecendo em julho/agosto.

A origem

O fungo que causa a ferrugem no cafeeiro infecta as folhas causando pústulas, as quais, num primeiro momento, diminuem a área foliar ativa e, em seguida, provocam a queda das folhas atacadas, adicionando perda foliar ainda maior. 

As plantas, assim desfolhadas, perdem suas reservas, a parte nova do ramo lateral fica prejudicada em seu crescimento, e os ramos chegam a secar ponteiros. A desfolha influi negativamente no pegamento da florada futura, tudo isso resultando em perdas produtivas na safra seguinte.

Em diversas pesquisas foi verificada uma perda de produtividade variável de ano para ano. Depois de um forte ataque da ferrugem e de grande desfolha, a produção cai muito no ano seguinte, em percentual elevado. No entanto, no ciclo seguinte a planta produzindo pouco se recupera e volta a produzir bem. Deste modo, considerando um ciclo bienal, em duas safras pode-se ter perdas médias de 25-50%, sem o devido controle.

Identificação

A doença é fácil de ser identificada. Pode-se ver na face superior das folhas manchas amarelas, que com sua evolução acabam ficando com o centro enegrecido. Mas para confirmar, com certeza, basta virar as folhas e observar a sua parte baixa, onde as manchas ou pústulas apresentam um pó alaranjado, que constitui os esporos ou sementes do fungo. As pústulas podem variar de um número por folha até quase cobrir a folha toda.

Em campo

No campo, o sistema de avaliação da ferrugem tem sido praticado pela verificação, em folhas ou ramos ao acaso, tomados no terço médio das plantas e avaliadas folhas adultas, situadas no 3º-4º par.

No sistema de folhas ao acaso, calcula-se o número daquelas infectadas e determina-se o percentual de infecção, ou seja, o número das infectadas sobre o total amostrado. Antigamente, determinava-se, também, o número médio de pústulas por folha, porém, com o tempo abandonou-se esta determinação, porque se verificou que o percentual de infecção se correlacionava com o número de pústulas.

Isto acontece porque os esporos do fungo da ferrugem se distribuem na área da folhagem, não distinguindo se é uma mesma ou outra folha. No sistema de ramos ao acaso, a determinação também resulta no percentual de folhas infectadas, como o anterior, só que a leitura é feita em todas as folhas do ramo amostrado. No final do ciclo, no pós-colheita avalia-se, ainda, em ramos ao acaso, lendo-se nos seis últimos pares a percentagem de desfolha.

No sistema de determinação de percentual de folhas infectadas, os números resultantes logo permitem a interpretação. Se a testemunha tiver, por exemplo, 90% de folhas infectadas, qualquer um vai saber que a doença atingiu praticamente todas as folhas, o que se torna visível observando as plantas no campo.

Esta infecção, com certeza, vai resultar em alta desfolha. Além disso, com base em centenas de ensaios realizados, ao longo de muitos anos, a Equipe Técnica do ex-IBC, hoje Fundação Procafé, publicou no livro Cultura de Café no Brasil os critérios ou padrões que podem ser considerados, em relação aos níveis de eficiência de controle.

Estes níveis são os seguintes:

9  Níveis de infecção finais (junho-julho) inferiores a 10% de folhas infectadas e desfolha inferior a 20% – elevada  eficiência de controle.

9  Níveis de 10-20% de infecção e desfolha inferior a 30% – controle bom.

9  Níveis de infecção de 20-40% e desfolha de 30-50% – controle pouco eficiente.

9  Índices de infecção superiores a 40% e desfolha superior a 50% – falta de controle.

 Nessa condição média considerada, a testemunha apresentaria infecção de 60-90% e desfolha de 70-90%.

Regiões mais afetadas

Todas as regiões cafeeiras do País são afetadas. Onde existe um pé de café, a ferrugem está lá, e se dissemina muito facilmente, mesmo a longas distâncias, com os esporos ou sementes do fungo sendo transportados pelo vento. Veja um exemplo: no Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, existem alguns pés de café, sendo sua situação muito isolada, mas, mesmo assim, lá está a ferrugem em suas folhas.

As regiões onde a ferrugem se torna mais grave são exatamente aquelas que produzem muito café, pois a doença é estreitamente ligada à produtividade das plantas. A doença ataca tanto cafeeiros arábica como robusta/conillon.

Causa

A doença evolui em função do clima, com aumento da infecção a partir de novembro/dezembro até abril/maio, e com o “pico” da doença, com maior número de folhas infectadas, acontecendo em julho-agosto, decaindo, em seguida, pela desfolha natural e colheita.

A predominância de calor e umidade no período infectivo favorece a doença, coincidindo, também, com a maior suscetibilidade dos cafeeiros, em função do deslocamento de reservas das folhas, para a granação dos frutos. Por isso, outro fator importante na evolução do ataque é a carga pendente das plantas – quanto maior for a produtividade, maior será o ataque.

Controle (preventivo e curativo)

Existem duas formas de controle da ferrugem – o controle químico, realizado na maioria das áreas por se tratar de lavouras com variedades suscetíveis, como Catuaí e Mundo Novo, e o uso de variedades resistentes, hoje disponíveis e cujo plantio vem sendo ampliado ano a ano.

No controle químico existem dois processos: o uso de produtos via solo, atualmente menos eficientes no controle, embora com bons efeitos tônicos sobre os cafeeiros, e o uso de produtos fungicidas em pulverização na folhagem, e, ainda, a combinação de ambos tipos de aplicação.

Ambos tipos têm efeito mais preventivo do que curativo, já que os fungicidas mais curativos, os triazois, vêm diminuindo sua eficiência e, por isso, vem sendo combinados com estrobilurinas e outros fungicidas, como os cúpricos e, mais recentemente, com as carboxamidas.

A maior inovação em produtos é o uso combinado deles, visando reduzir o efeito de resistência dos fungicidas a um determinado grupo deles.

Erros

Primeiro erro – mais comum entre produtores de menor nível tecnológico, é não acreditar muito na ferrugem, ou seja, acham que ela desapareceu. Na realidade, quando não se vê a doença é por que ela está se preparando para evoluir.

O segundo erro, atualmente, é terminar as aplicações muito cedo dentro do ciclo normal de controle, que deve ir de dezembro até abril.

Para evitar esses erros, deve-se voltar a oferecer melhor assistência técnica aos produtores e, dentro desse campo, tentar evitar ações, por vezes mal intencionadas, de vendedores dos produtos.

Prevenção x controle curativo

A prevenção ou métodos curativos dependem muito do sistema e dos produtos usados. No geral, combinando o uso via solo, mais duas a três pulverizações, gasta-se de produtos de R$ 500,00 a R$ 800,00/ha, mais o custo operacional. Se for mecanizado, uma média de três horas de trator por hectare, ou seja, R$ 240,00, ou se for aplicação manual de oito a 10 dias de serviço, ou seja R$ 600,00 a R$ 800,00 por hectare. Somando produtos e operações, teríamos de R$ 740,00 a R$ 1.040,00 por hectare, com mecanização, e R$ 1.100,00 a R$ 1.600,00 manualmente.

Por fim, o controle da ferrugem deve ser encarado ou considerado no conjunto das práticas na lavoura, podendo-se combinar o uso de outros defensivos na calda de aplicação dos fungicidas para ferrugem, tanto via solo como foliar.

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