Autora
Camila Queiroz da Silva Sanfim de Sant’Anna
Engenheira agrônoma, mestre em Genética e Melhoramento de Plantas e doutora em Produção Vegetal
agro.camilaqs@gmail.com
A armazenagem de grãos é uma etapa crucial para muitos produtores, podendo incidir em grandes perdas da produção. Por ser um produto natural, não-químico, a terra de diatomáceas, assim como as argilas, constituem excelente alternativa, sobretudo para uso no controle de pragas de grãos armazenados provenientes do sistema orgânico de produção e que há milhares de anos são usados de forma empírica por nativos da América do Norte e África.
A terra de diatomácea, também denominada de sílica em pó, dióxido de silício ou diatomita, é obtida a partir de rocha sedimentar biogênica, formada por resíduo silicoso fossilizado de diatomas, plantas aquáticas unicelulares microscópicas, com uma fina concha formada de sílica opalina (SiO2 + nH2O).
Sua composição à base de sílica, quando em contato com o inseto, causa sua morte por dessecação, os quais morrem quando perdem 60% de sua água ou, aproximadamente, 30% de seu peso corpóreo total, em um período que pode compreender entre um a sete dias, dependendo da espécie-praga.
Apesar de ampla aplicabilidade (jardins, hortas, aditivos alimentares, na fabricação de ração, controle de pragas na agricultura e conservação de grãos e sementes, etc.) seu uso no Brasil ainda é pouco difundido, sendo em países como Austrália e Estados Unidos, por exemplo, amplamente utilizado.
Origem
A extração da terra de diatomácea ocorre mediante restos fossilizados de algas diatomáceas. No Brasil, há poucas jazidas ativas, sendo a empresa BioMarkan, localizada no Ceará, referência na produção da terra de diatomácea. A empresa oferece a sílica em pó de alta qualidade e de muitas aplicabilidades, sendo utilizada na indústria de construção civil, agricultura, uso pet, carcinicultura, saúde humana, entre outros.
Ademais, os produtos da marca comercial Insecto® da Bequisa e Keepdry® são a base de terra de diatomácea devidamente registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Composição
A formulação comercializada da terra de diatomácea é em pó inerte à base de sílica amorfa, sendo um produto seguro, tanto para aqueles que o manipulam quanto para os consumidores dos grãos tratados com a terra de diatomácea, não possuindo período de carência pós tratamento dos grãos.
Além disso, sua ação inseticida é duradoura, chegando de um ano e meio, ou mais, sem perda de seu efeito, e necessitando de apenas de uma aplicação.
O modo de aplicação do produto procede-se misturando a dose de 1,0 kg/tonelada de grãos limpos e secos. Ressalta-se que os grãos devem estar completamente secos, em torno de 13 a 14% de umidade, a fim de que o efeito da terra não seja neutralizado pela umidade do grão.
Vantagens
Os produtores que utilizam a terra de diatomácea garantem que o prolongamento do tempo de armazenamento pode ser estendido por dois a três meses em relação ao uso de produtos convencionais (químicos). Outra vantagem da aplicação é quanto à redução dos custos.
Segundo relatos dos próprios produtores, como o agricultor Luis Fernando Dall Evedone, de Marília (SP), é possível uma economia de, pelo menos, 20% substituindo os defensivos químicos pela terra de diatomácea.
Outra ressalva é que com a aplicação da terra de diatomácea o produtor possui maior flexibilidade quanto à oferta do produto no mercado, ou seja, consegue estender o armazenamento do grão até a entressafra e, assim, obter melhores preços para o escoamento de sua produção.
Agricultores preocupados com manejos mais naturais, como Felipe Ricca, do Centro-Oeste, passaram a utilizar há mais de 30 anos o uso do tratamento de grãos de milho, após o processo da colheita, com a terra de diatomácea empregada como defensivo natural no tratamento de caruncho.
Pelo mesmo viés, buscando produtos que se adequassem à legislação orgânica, o agrônomo Márcio Luiz Mondini optou pelo uso da terra de diatomácea, sendo natural, eficiente, sem riscos e aceito pelas certificadoras.
Culturas beneficiadas
As culturas que mais utilizam a terra de diatomácea para o tratamento de seus grãos e sementes é o milho, trigo, feijão, arroz e cevada. Sendo assim, é um produto seguro ao meio ambiente, sem resíduos tóxicos, de fácil manuseio e com ação inseticida comprovadamente duradoura, além de ser uma alternativa mais rentável economicamente.
Os principais problemas com o uso de pó inerte, como a terra de diatomácea, está em razão de aderir à superfície dos grãos, o que pode culminar no aumento da fricção entre os mesmos e assim, não fluir tão facilmente durante o escoamento, além de poder não ter ação tão eficaz no controle de insetos de grãos úmidos, em comparação aos grãos secos, visto que seu modo de ação é por meio do dessecamento do inseto.