Autores
Marco Túlio Gonçalves de Paula
Engenheiro agrônomo e mestrando em Qualidade Ambiental – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
mtulio.agro@gmail.com
João Paulo Diniz dos Santos
Graduando em Agronomia – UFU
joaopaulo.conteagro@gmail.com
Dentre as doenças mais comuns de plantas nos cultivos comerciais brasileiros, o oídio tem mostrado considerável relevância. Causado por fungos evoluídos e parasitas obrigatórios do gênero Erysiphe, engloba um grupo diverso de hospedeiros, podendo causar danos e prejuízos em culturas de extrema importância econômica, como soja (Glycine max), feijão (Phaseolus vulgaris), tomate (Solanum lycopersicum), ervilha (Pisum sativum), beterraba (Beta vulgaris esculenta), entre outras.
A soja é a principal leguminosa produzida no Brasil, e por ser cultivada no verão geralmente o desenvolvimento do fungo causador do oídio nas plantas é desfavorecido, apesar de ocorrer esporadicamente na cultura.
Considerando que parte da produção de feijão é cultivada em épocas do ano favoráveis ao oídio, a ocorrência desta doença merece devida atenção e deve ser manejada corretamente para amenizar as perdas, que podem chegar a até 69% quando a incidência acontece em fases iniciais do desenvolvimento da cultura.
Os sintomas que caracterizam a doença são detectados inicialmente nas folhas e posteriormente nas hastes e vagens. As lesões se apresentam na parte adaxial das folhas, primeiro como mancha escura, evoluindo para uma massa acinzentada formada de uma fina rede de micélios e esporos do fungo sobre a superfície foliar, fazendo a retirada de nutrientes por meio de pequenos prolongamentos que invadem as células da planta, os haustórios.
A mancha do oídio tem capacidade de cobrir toda a superfície foliar, assim prejudicando o desenvolvimento da cultura e interferindo na capacidade fotossintética da planta. Infecções severas podem levar à desfolha prematura.
Os danos causados variam de acordo com o estádio vegetativo em que ocorre a infecção pelo fungo, as condições ambientais e a cultivar em uso. Dificilmente o oídio leva a planta à morte, visto que, sendo o fungo causador um parasita obrigatório, necessita dela viva para se desenvolver e reproduzir, completando seu ciclo de vida.
Regiões mais afetadas
O desenvolvimento do oídio na planta é potencializado quando a estrutura de sobrevivência viável do patógeno está presente no ambiente, quando as condições de clima e temperatura são favoráveis e quando o hospedeiro possui maior suscetibilidade ao fungo.
É uma doença com alta capacidade de disseminação, seja pelo vento, por respingos de chuva ou por contato entre plantas. Fatores naturais, como a presença de luz e a temperatura influenciam no processo de disseminação da doença. Ambientes secos com temperaturas amenas favorecem o crescimento do fungo, por isso os cultivos de inverno devem se prevenir quanto ao ataque da doença.
Por hospedar também espécies silvestres e plantas invasoras, os conídios do fungo Erysiphe sp. facilmente estão presentes no campo. Visto que o patógeno tem preferência por temperaturas amenas e épocas mais secas, os cultivos de feijão que se dão no período de inverno com uso de irrigação apresentam maior desvantagem em relação ao oídio.
Locais de maior altitude e a região sul do Brasil, em épocas com menores umidades, se tornam berço para o desenvolvimento e proliferação dos conídios do fungo.
Fosfitos no controle do oídio
Normalmente, o manejo das doenças de plantas se dá usando ferramentas que atuam diretamente no patógeno e seus sintomas, porém, a indução de resistência da planta é um método que vem crescendo ao longo dos anos, devido a ser um manejo alternativo no controle de doenças e pragas.
Essa indução é parcial e inespecífica, então não há o risco de suplantação do patógeno. Uma característica da indução de resistência é que ela se baseia na expressão de informações genéticas latentes e não na alteração de informação genética das plantas, mediada por alterações genômicas.
O fosfito está presente na formulação de insumos usados para indução da resistência, servindo também como fonte nutricional. Eles possuem rápida absorção pelas plantas, bons complexantes, ajuda na absorção de potássio, cálcio, boro, zinco, molibdênio, manganês, entre outros nutrientes essenciais.
O fosfito, composto por fósforo e outros macronutrientes, apresenta funções bioquímicas importantes na formação do material genético (DNA e RNA), na molécula de ATP e constituinte do sistema de membranas celulares. A planta tratada com fosfito apresenta melhor capacidade fotossintética, crescimento radicular acentuado, maior resistência às condições ambientais adversas, ativação fisiológica mais evidente, além da estimulação dos mecanismos naturais de defesa contra as doenças.
Atuação
Podem atuar por meio de dois mecanismos de ação, um de forma direta, quando a molécula de fosfito age como fungicida sobre os patógenos, principalmente os oomicetos, ocasionando a morte ou inibição do desenvolvimento destes.
Agem também de forma indireta, ao ativarem o sistema de defesa das plantas, estimulando a produção de fitoalexinas – substâncias químicas naturais de defesa. Por esse motivo, as aplicações de fosfito devem ser sempre preventivas e constantes, nos períodos de maior incidência da doença.
Além das vantagens fisiológicas na planta, a utilização dos fosfitos no manejo pode reduzir o custo de produção e favorecer o controle do oídio, além de outras doenças que apresentam menor severidade ao atacar plantas mais resistentes.
Geralmente complementam os produtos de nutrição foliar (fosfito de manganês, por exemplo), não necessitando do investimento em aplicações exclusivas, e resultando em lavouras com melhor sanidade e mais lucrativas.
Manejo preventivo x manejo curativo
Como todo manejo de doenças foliares, o principal erro consiste no timing de aplicação e na observação do estágio de desenvolvimento que o fungo se encontra na planta. A opção por estratégias curativas e/ou preventivas deve anteceder a compra de produtos fitossanitários e a aplicação deve ser acompanhada de avaliações das áreas de incidência.
No manejo preventivo com o uso dos fosfitos, o ideal é que a pulverização anteceda o momento ideal de ataque do fungo, respeitando o estágio fenológico da planta que ele tem preferência e as condições climáticas adequadas ao seu desenvolvimento.
A vantagem do manejo preventivo é a condição de imunização (ou indução de resistência) da planta ao oídio, levando à redução da incidência e severidade, não causando danos produtivos na cultura do feijão e demais hospedeiras.
A aplicação dos produtos à base de fosfito deve ser feita juntamente com as principais pulverizações no manejo que antecedem a fase crítica da doença, tanto no manejo de plantas infestantes pós-emergentes quanto no controle de insetos-pragas até o enchimento de grãos.
Vários fertilizantes foliares à base de fosfito (fosfito de potássio, fosfito de manganês, entre outros) podem entrar no manejo, suprindo assim a necessidade de determinado nutriente e já atuando como indutor de resistência.
Sem errar
A escolha pelo manejo curativo é uma prática em que as observações de campo se tornam ainda mais indispensáveis, pois a escolha do defensivo agrícola relacionada à fase de desenvolvimento da doença é o que define a eficiência do controle.
No caso do uso de produtos de contato, que secam o micélio ou massa acinzentada do oídio sobre a folha, a tecnologia de aplicação e a pulverização com volume de calda suficiente para cobrir todo o dossel de plantas é a garantia de um bom controle, até mais que a escolha do produto.
Nesse tipo de manejo, no momento da tomada de decisão já existe uma perda de produtividade significativa, visto que a planta se encontra sob o ataque da doença e já tem sua área foliar e atividade fotossintética reduzida.
O custo do manejo curativo é relativamente mais alto que o preventivo, principalmente em decorrência dos fertilizantes que trazem consigo o fosfito em suas formulações. Esse decréscimo de custo no manejo preventivo também se dá pela redução da incidência e severidade do oídio e da menor necessidade do uso de produtos curativos no manejo fitossanitário da cultura do feijão.
Custo
Levando em consideração que os fertilizantes que contêm fosfito na formulação podem adicionar ao custo cerca de R$ 10,00 a R$ 15,00 por aplicação e aproveitar uma pulverização já programada, três aplicações preventivas equivalem a menos de uma aplicação curativa, que pode exigir entrada de pulverização exclusiva para sanar o oídio.
Considerando áreas de feijão que realizam duas a três aplicações de defensivos no controle curativo do oídio, o manejo preventivo com fosfito reduzindo pelo menos uma dessas aplicações representa uma queda de 40%, em média, do uso de defensivos agrícolas de contato.
Quando elevamos essas considerações de custo para o patamar de doenças em geral, o uso de fosfitos se torna uma ferramenta extremamente viável na produção de feijão e outras culturas, sem contabilizar os ganhos de produtividade advindos da redução do estresse das plantas, que, quando tratadas preventivamente, não sofrem redução fotossintética por perda de área foliar ativa.
Resultados em campo
Durante o acompanhamento em lavouras de soja, feijão e milho, fica evidente que o manejo nutricional, quando feito com produtos apresentando fosfito em suas formulações, resultam em lavouras com melhor qualidade sanitária e em áreas mais produtivas.
Importante ressaltar que, além do uso dos fosfitos, o manejo nutricional suprindo todas as necessidades de macro e micronutrientes para uma boa produtividade gera plantas mais desenvolvidas e com melhores condições de resistir ao ataque de patógenos e pragas.
Trabalhos realizados objetivando avaliar o uso de fosfitos no manejo de doenças de plantas resultaram na redução da incidência de mancha preta (Asperisporium caricae) nas folhas e frutos do mamoeiro, na queda significativa na incidência e severidade do míldio em cultivos de videira quando pulverizado de forma preventiva e também auxiliou no controle da ferrugem asiática da soja, por meio de aplicações foliares de molibdênio e fosfito de potássio.
No cultivo de feijão em áreas com condições ambientais favoráveis ao oídio, o manejo preventivo com uso de fosfitos como indutores de resistência é uma excelente ferramenta para garantir a sanidade das plantas, reduzir a incidência e severidade do fungo causador e obter altas produtividades.