Autores
Regina Maria Quintão Lana
Professora de Fertilidade e Nutrição de Plantas – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
rmqlana@ufu.br
Miguel Henrique Rosa Franco
Mara Lúcia Martins Magela
Doutorandos em Agronomia – UFU
Por meio da legislação brasileira, perante a instrução normativa nº 23, de 31 de agosto de 2005, fertilizante organomineral é definido como: “produto resultante da mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos”. No capítulo III da instrução normativa nº 25, de 23 de julho de 2009, seção V, Art.8º, § 1º, são estabelecidas as atuais características, especificações e garantias para a produção dos fertilizantes organominerais sólidos, que descreve que os mesmos deverão apresentar no mínimo 8% carbono orgânico, CTC mínima de 80 mmolc/kg e umidade máxima de 30% (Brasil, 2009).
Algumas pesquisas vêm demonstrando os benefícios dos organominerais em diferentes cultivos, sendo que os resultados positivos são condicionados principalmente pela interação de fatores ambientais e biológicos do sistema produtivo (Levrero et al., 20019).
Benefícios
Como efeitos positivos do uso de fertilizantes organominerais podem-se citar as melhorias nas propriedades químicas do solo, como aumento da CTC e da eficiência no fornecimento dos nutrientes para as plantas, principalmente pela redução das perdas dos macro e micronutrientes do solo devido ao efeito de ‘slow release’, em que ocorre a liberação gradual do fertilizante no solo.
O efeito de ‘slow release’ é possível devido à ação de proteção que a fração orgânica do organomineral exerce sobre o mineral, o que proporciona uma nutrição mais balanceada para as plantas durante todo o seu período de crescimento (Teixeira et al., 2014). A aplicação conjunta de uma fonte orgânica e mineral também promove melhorias nas propriedades físicas do solo, como o aumento do carbono orgânico, da porosidade total e da retenção e disponibilização de água (Anderson et al., 2011; Atkinson et al., 2010; Chen e al., 2010 Jeffery et al., 2011).
Além disso, espera-se aumento da população de microrganismos no microambiente onde foi aplicado o fertilizante organomineral, devido ao fornecimento de energia advindo da fração orgânica, refletindo na maior ciclagem de nutrientes, principalmente na rizosfera (Nelissen et al., 2012; Farrell et al., 2013).
Nesse contexto de benefícios, alguns autores vêm sugerindo que o uso dos fertilizantes organominerais pode melhorar o desenvolvimento das plantas, sendo mais eficientes no fornecimento da demanda de nutrientes nos estágios iniciais das mesmas e na promoção de maior efeito residual no solo (Baron et al.,1995).
Outra vantagem do organomineral é em relação aos custos operacionais, uma vez que sua aplicação permite o fornecimento simultâneo do fertilizante mineral e da matéria orgânica durante a adubação (Tejada et al., 2005).
Formulações
Os fertilizantes organominerais podem ser farelados, granulados ou peletizados. Os resultados agronômicos obtidos pela aplicação do organomineral no campo variam com a matriz orgânica utilizada, concentração do nutriente na formulação, bem como pelo processo de compostagem envolvido na fabricação do produto; dureza e tamanho do pellet. Devido a essas variáveis, encontram-se no mercado fertilizantes organominerais com diferentes características químicas e físicas.
Deste modo, a recomendação deve estar pautada principalmente nas características físico-químicas do produto, do solo e na demanda nutricional da cultura. Fatores relacionados com a época de aplicação, uso de adequações de doses em relação ao fertilizante mineral e eficiência dos fertilizantes organominerais no sistema solo-planta devem levar em consideração a cultura, a escolha da tecnologia utilizada e o ambiente ao qual será aplicado.
Em campo
Especificamente em hortaliças, tais benefícios são notórios, pois esse nicho de produção caracteriza-se por conter espécies altamente exigentes em nutrientes e em matéria orgânica de qualidade.
Cardoso et al. (2017), estudando o uso do fertilizante organomineral peletizado comparado à aplicação de fertilizante mineral convencional sobre a produção de batata Ágata, na safra de verão e inverno, concluiu que o fertilizante organomineral foi mais eficiente em ambas as épocas, proporcionando maior produtividade e melhor qualidade de tubérculos, quando comparado aos resultados observados no fertilizante mineral.
Rabelo (2015), buscando caracterizar o desempenho e a produção do tomate industrial em função da adubação organomineral e mineral, avaliou a eficiência da fonte organomineral e verificou que o fertilizante organomineral apresentou aumento de massa fresca de frutos, número de frutos por planta, frutos sadios e produtividade média, quando comparado ao fertilizante mineral.
Com esses resultados, o mesmo autor concluiu que o fertilizante organomineral é mais indicado economicamente para aplicação na cultura do tomate industrial.
Luz et al. (2010), avaliando a produção de mudas de alface cultivar Vera e sua condução no campo, em função da aplicação de várias formulações comerciais, concluiu que na produção de mudas com organomineral teve maior eficiência nas variáveis: altura de plantas, número de folhas, massa fresca da parte aérea e massa das raízes, quando comparado à adubação mineral.
Quando Luz et al. (2010) avaliaram a produção comercial, as plantas de alface tratadas com fertilizante organomineral apresentaram maior diâmetro e maior massa fresca da parte aérea e da raiz, comparadas a adubação mineral.
Em trabalho conduzido por Luz et al. (2018), em cenoura, na Agrícola Wehrmann, localizada no município de Cristalina (GO), no período de março a agosto de 2018, observou-se que a aplicação de 80 e 100% da dose de recomendação da formulação organomineral 02-20-05, da empresa Vigorfert, resultou em maiores valores de produtividade comercial, classificação de cenoura em 2A, 1A e G, sendo a classificação 2A uma das classes de cenoura que apresenta maior valor agregado e maior interesse de comercialização (Tabela 1).
Resultados como estes enfatizam que é possível obter altas produtividades de cenoura com aplicação de organomineral em dosagens reduzidas (em até 20%), sem prejuízos à qualidade final da cenoura.
Tabela 1. Produtividade de cenoura (classes 3A a G) e Total. Cristalina (GO), 2018 | ||||
t.ha-1 | ||||
2A | 1A | G | Total comercial | |
100 % (M) | 12.94 bc | 8.35 c | 11.02 b | 70.42 a |
100 % (OM) | 15.90 a | 14.17 a | 9.99 b | 70.33 a |
80 % (OM) | 12.44 c | 11.72 b | 14.96 a | 69.22 a |
60 % (OM) | 11.49 c | 9.12 c | 6.31 c | 58.53 b |
40 % (OM) | 15.42 ab | 8.62 c | 4.92 c | 53.71 c |
CV (%) | 8.29 | 10.15 | 11.01 | 2.32 |
Média | 4.33 | 3.00 | 3.00 | 20.59 |
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de significância (LUZ et al., 2018). |
Destaca-se a importância dos fertilizantes organominerais como uma prática de adubação viável, sendo ainda necessária a divulgação de seus benefícios junto aos produtores e setores agropecuários.