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Como alcançar mais sanidade e produtividade nas cenouras

Autor

Givago Coutinho
Doutor em Fruticultura e professor efetivo do Centro Universitário de Goiatuba (UniCerrado)
givago_agro@hotmail.com

Créditos Shutterstock

A cenoura (Daucus carota L.) é uma planta originária da região onde atualmente se encontra o Afeganistão, e constitui uma das principais hortaliças cultivadas e consumidas no mundo.

Planta herbácea, a cenoura possui caule quase imperceptível que pode atingir até 1,5 cm na época de floração da planta e apresenta raiz pivotante, tuberosa, lisa, sem ramificações de formato cilíndrico ou cônico e de coloração alaranjada, sendo esta a parte da planta utilizada primariamente como alimento.

Atualmente, a principal inovação na cultura da cenoura é a introdução de híbridos de inverno, que possibilitam ganhos em produtividade, uniformidade das raízes, sanidade foliar, redução do ciclo, qualidade comercial e retorno financeiro.

Assim, vale ressaltar a importância do cultivo com híbridos de inverno, visando a sanidade e a produtividade das plantas com cenouras de alta qualidade, conforme será descrito a seguir.

Plantio de cenoura de inverno

A planta é bienal, contudo, os cultivos são praticados de forma anual e com programação adequada do plantio, por meio da escolha criteriosa. Intercalando-se o plantio entre cultivares europeias, japonesas e brasileiras, é possível semear cenoura ao longo do ano todo em muitas regiões produtoras. Geralmente, a safra de inverno tem início entre os meses de junho e julho e seguindo até os meses de dezembro e janeiro.

Expectativas

Ainda não se dispõe de dados referentes à safra 2018/19 para o cultivo de cenoura de inverno. Contudo, o Hortifrúti/Cepea divulgou dados para a safra de inverno de 2017 afirmando que houve redução na área de aproximadamente 14,3% frente à safra de 2016 na maioria das regiões acompanhadas.

Exceção foi a região de Cristalina (GO), que manteve a mesma área de cultivo entre as duas safras. Os dados referentes safra de inverno 2017 são mostrados na tabela 1.

Tabela 1. Dados referentes às safras de inverno de 2016/17 e 2017/18

Safra de inverno (julho a dezembro) Variedade Área plantada (ha)
Região Praças de coleta 2016 2017 Variação
Goiás Cristalina Cenoura safra de inverno 780 780 0,0%
Minas Gerais São Gotardo, Santa Juliana e Uberaba Cenoura safra de inverno 2.547 2.123 -16,6%
Bahia Irecê e João Dourado Cenoura safra de verão segundo semestre 1.000 800 -20,0%
Paraná Marilândia do Sul, Apucarana e Califórnia Cenoura safra de inverno 800 700 -12,5%
Rio Grande do Sul Caxias do Sul, Antônio Prado e Vacaria Cenoura safra de inverno 1.330 1.131 -15,0%

* As estatísticas de produção divulgadas pelo Cepea não representam a área total cultivada em cada região. Os dados refletem a opinião dos principais agentes do setor e são considerados as principais referências de mercado. (Fonte: Hortifrúti/Cepea, 2017).

Com a redução na área cultivada, houve consequente redução na oferta nacional do produto e, por conseguinte, aumento nos valores da raiz.

Híbridos

De maneira geral, as cenouras europeias são as mais exigentes em temperaturas mais amenas. Neste sentido, para o cultivo de inverno destacam-se as cultivares do grupo Nantes, devido a sua exigência por temperaturas amenas. Essas cultivares apresentam ciclo produtivo variando entre 90 e 110 dias.

De origem francesa, existem diversas cultivares deste grupo disponíveis no mercado. As plantas têm folhagem verde escura e podem atingir até 30 cm de altura. As raízes apresentam formato cilíndrico com 15 a 18 cm de comprimento, 03 a 04 cm de diâmetro e coloração alaranjada escura.

Entretanto, esta cultivar é muito sensível às doenças de folhagem, não sendo recomendável o seu cultivo em estação chuvosa e quente.

Características desejáveis

A substituição de cultivares de cenoura de polinização livre, ou Open Pollination, também conhecidas como OPs, por híbridos é uma realidade no mercado de sementes. A vantagem comparativa entre cultivares híbridas e OPs fez com que o mercado de sementes de cenoura aumentasse a demanda por cultivares híbridas, uma vez que esses genótipos possuem vantagens sobre as cultivares OPs, já que podem ser mais precoces, uniformes e com maior teto produtivo.

Lembrando que o mercado consumidor brasileiro tem preferência por raízes de cenoura bem desenvolvidas, com coloração alaranjada intensa, lisas, uniformes, com comprimento e diâmetro variando, respectivamente, de 15 a 20 cm e de 03 a 04 cm, e sem defeitos.

Cuidados

O planejamento correto acerca da época de plantio é o primeiro passo para o sucesso no cultivo. Este fator interfere diretamente na programação de colheita e por reflexo na época de comercialização do produto.

Dessa forma, a escolha da cultivar ideal, observando sempre as características climáticas predominantes no local na época de cultivo, auxiliam o produtor na determinação do ciclo produtivo das plantas, permitindo também o planejamento eficiente do escoamento da produção e o abastecimento do mercado consumidor na época programada.

Quanto ao manejo, vale sempre lembrar que a semeadura é feita de maneira direta, pois a operação de transplantio pode prejudicar o desenvolvimento das raízes, acarretando danos às mesmas.

Outro fator importante no cultivo é a irrigação, pois a cultura da cenoura é extremamente exigente em água em todo seu ciclo produtivo, já que a qualidade e a produtividade das raízes são influenciadas pelas condições de umidade do solo.

Custo produtivo

De maneira geral, o custo de produção médio para um hectare em cultivo de inverno é maior que o custo da safra de verão. Segundo a Hortifrúti/Cepea, na região de São Gotardo (MG), em 2015, o custo de produção de 01 hectare de cenoura na safra de inverno foi R$ 58.084,87 e o preço de venda por caixa alcançado na época foi de R$ 18,85.

Na safra de verão de 2015/16, foi de 45.641,07 e o preço por caixa foi maior em relação ao inverno, R$ 23,32, porém, a produtividade por hectare no inverno foi maior (3.081 caixas) que no verão (1.957 caixas).

Viabilidade

A cultura da cenoura constitui um produto de alto valor agregado, permitindo assim retornos econômicos pelo segmento de mercado em que está inserida, além de apresentar significativos ganhos de produtividade.

Em 2017, no início da safra de inverno, de julho até novembro, as cotações estiveram 57% superiores à anterior, com média de R$ 15,73/cx de 29 kg da raiz “suja”. O maior valor de comercialização da safra de inverno foi de R$ 28,33/cx da raiz “suja”.

Melhores preços de venda podem ser alcançados com cenouras vendidas in natura em embalagens de isopor (bandeja) com três raízes, cobertas com película de plástico, na forma de cenoura minimamente processada. Tal forma de comercialização agrega valor ao produto e melhora sua imagem frente ao mercado.

Além disso, a Embrapa/Hortaliças desenvolveu outra tecnologia de comercialização de cenouras com agregação de valor: a cenoura processada, também conhecida como cenourete e catetinho.


Novidade

Recentemente ocorreu a introdução no País de cenouras do grupo Nantes que apresentam raízes coloridas (roxas, vermelhas, creme e brancas). Contudo, ainda não é bem conhecida a aceitação dessas cultivares por parte do mercado consumidor, devendo seu cultivo ser realizado de forma mais criteriosa que as cultivares tradicionais.

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