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domingo, novembro 24, 2024
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Chegou a vez das PANCs

Autora

Cristina Maria de Castro
Pesquisadora científica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
cristinacastro@apta.sp.gov.br

Créditos Arquivo APTA

Major gomes, serralha, beldroega e capuchinha são plantas que eram consumidas no passado, mas que deixaram de estar cotidianamente inseridas na dieta alimentar. Conhecidas como Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), esse tipo de alimento tem conquistado parte da população interessada em uma dieta saudável e sustentável do ponto de vista econômico e ambiental.

Entenda melhor

O nome “não convencional” foi dado a essas plantas por não estarem convencionalmente na dieta alimentar do dia a dia e por não fazerem parte de uma cadeia produtiva já estabelecida. São plantas alimentícias antigas, utilizadas regionalmente por nossos antepassados.

Algumas fazem parte de nossa história recente e outras já eram consumidas mesmo antes do descobrimento do Brasil, como é o caso da araruta, utilizada pelos índios. Outras são consideradas PANC em uma região, porém, não em outra. É o caso do jambu, típico da região amazônica, onde suas folhas e flores são usadas diariamente na culinária local, enquanto no Sudeste está sendo introduzido como PANC.

Muitas plantas são disseminadas como mato nas cidades, ocupando jardins, praças e marquises e quase sempre passam despercebidas, ou são consideradas “daninhas”, sendo arrancadas e descartadas.

Como implantar a técnica?

O primeiro passo é identificar o que tem na região, pois na maioria são plantas que nascem espontaneamente nas hortas, praças públicas, até mesmo na beira de calçadas (como a beldroega) e muros, e já estão adaptadas às condições climáticas do local.

A partir daí, de acordo com a planta inicia-se a propagação, que pode ser no próprio jardim ou quintal. Já para produtores que pretendem comercializar, devem partir para as mais conhecidas e já utilizadas em outras regiões, como por exemplo os diferentes tipos de Cará, plantas da família Dioscoreacea, muito consumidas e disseminada na região nordeste, o jambu na região norte, já com técnicas e cartilhas técnicas publicadas sobre plantio e variedades.

Existem especificidades técnicas de acordo com a cultura – umas gostam mais de sombra, outras de pleno sol, mas na maioria são rústicas e demandam poucos tratos. Entretanto, devemos salientar que o simples fato de serem rústicas não significa que não precisam de tratos culturais. Existem algumas publicações disponibilizadas online gratuitamente, que dão dicas de cultivo.

Prática de campo

Produtores orgânicos que já atendem um público diferenciado que valoriza o alimento de qualidade têm apostado na diversificação, e porque não dizer no melhor aproveitamento das plantas. Nos canteiros de hortaliças tradicionais, como alface e rúcula, deixam o caruru, o picão e vendem em maços. Nos cantos das cercas plantam ora pro nobis, que é trepadeira; na época mais fria apostam no peixinho e na azedinha, muito consumidos e apreciados pelas crianças; nos locais mais sombreados e úmidos plantam taioba; e na meia-sombra a araruta, cúrcuma e mangarito.

Erros

Muitas vezes os produtores tentam plantar espécies de outras regiões na sua área, sem as condições específicas para a planta, como pouca umidade e calor, fazendo com que ela não se adapte ao local. Também, por acharem que é PANC, não realizam nenhum trato cultural, nem mesmo irrigação quando em épocas de secas muito prolongadas.

Para evitar tais erros, é preciso começar com plantas que já nascem espontaneamente no local, ou procurando aquelas que se adaptam às condições climáticas da região onde será implantada a cultura.

Como agregar à técnica

Muitas das PANCs são alimentos nutracêuticos, com propriedades medicinais já comprovadas, como a cúrcuma (Curcuma longa), que além de ser utilizado como condimento e corante natural na indústria alimentícia, é um poderoso antioxidante e anti-inflamatório; a Vinagreira (Hibiscus sabdariffa), utilizada em saladas e pratos regionais (arroz de cuxá – no Maranhão), seu chá é utilizado com propriedades diuréticas e digestivas.

A maioria das PANCs são produzidas a nível doméstico, ou por produtores orgânicos e familiares, ainda em pequena quantidade, devido ao pouco conhecimento e/ou valorização dessas culturas por parte do consumidor. Porém, devido grande repercussão na mídia e também utilização na gastronomia por Chefs renomados, este quadro está mudando, havendo uma maior demanda por produção.

Outro ponto importante a ser destacado, e que deve ser incentivado a nível de Políticas Públicas locais, é a utilização destas plantas muito mais ricas e nutritivas em programas de combate à fome e desnutrição, e também na inclusão da merenda escolar, como é o caso recente de inclusão de PANC na merenda do município de Jundiaí (SP).

Adubação e controle fitossanitário

Os solos para as PANCs devem ser preparados agronomicamente como as demais plantas comestíveis; com boa fertilidade, fazendo análise, correção de acidez excessiva e adubação, de preferência orgânica.

Quanto à fitossanidade, vale o produtor avaliar o que seria erva daninha – se for caruru, é uma PANC, e muito nutritiva, mas, de maneira geral, são rústicas. Pragas e doenças também são poucas, porém, quando aparecem deve-se procurar um controle menos agressivo, com caldas alternativas e controle biológico.

A capuchinha (Tropaeolum majus), PANC que faz parte dos jardins comestíveis, na qual se come, além de suas flores, as folhas e sementes, pelas suas flores coloridas e vistosas, é muito visitada por borboletas, que deixam seus ovos que viram lagartas (a mesma que visita a couve-manteiga – curuquerê-da-couve). Então, o controle pode ser feito com Bacillus thuringiensis.

Diversidade

As PANCs devem ser introduzidas no sistema produtivo e na alimentação de forma diferenciada, não se inserindo nos modelos de simplificação dos sistemas produtivos. A proposta de buscar diversidade no campo e na cultura alimentar das diferentes regiões, com alimentos mais ricos nutricionalmente e rústicos, pode trazer grande contribuição para a melhoria na soberania e segurança alimentar e nutricional da população.

As PANCs representam uma oportunidade em termos de “produto local” diferenciado, valorizando a cultura alimentar regional. A proposta deve vir acompanhada de um novo olhar sobre o alimento, para revermos o que colocamos no prato no dia a dia, se realmente é comida de verdade. Temos que mudar os modelos de produção visando somente o lucro, sem se preocupar com qualidade do alimento. O ideal é que seja rico em nutrientes, mas também isento de resíduos químicos, e sem degradar e poluir o ambiente onde é cultivado.

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