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Thiago Hideyo Nihei
Mestre em Genética e Biologia Molecular; Doutorando em Agronomia, melhorista de milho
Com a evidente regionalização do cultivo de milho no Brasil, os programas de melhoramento vêm desenvolvendo híbridos adaptados a cada ambiente e cada vez mais responsivos ao uso de tecnologias. Isso, aliado a uma maior geração e difusão de informações de manejo e a constante incorporação de novas tecnologias, vem aumentando significativamente a produtividade da cultura no país.
A média de produtividade brasileira da última safra foi de 5.400 kg/ha, e, considerando a média de 10 anos atrás, cerca de 3.400 kg/ha, o Brasil vem mantendo uma taxa de crescimento de produtividade na ordem de 5% ao ano. Nesse mesmo período, aumentamos a área de plantio em 30%, enquanto que a produção cresceu 200%, demonstrando os grandes avanços genéticos e tecnológicos no período.
Nesse sentido, podemos destacar algumas características chave dentro dos programas de melhoramento genético da cultura e que vem sendo oferecidos aos produtores através das sementes híbridas:
– Adaptabilidade e estabilidade: o grande desafio de um programa de melhoramento é desenvolver um híbrido com boa previsibilidade, que seja altamente produtivo em ambientes favoráveis e que consiga imprimir uma produtividade mÃnima quando sob o efeito de algum tipo de stress. Contudo, a resistência e/ou tolerância ao stress é uma característica muito ampla, pois envolve problemas como seca, frio, doenças entre outros, e que via de regra não está correlacionada às altas produtividades.
– Precocidade: essa característica vem se tornando fundamental em qualquer híbrido de milho com alto desempenho devido à necessidade de antecipação da janela de plantio. Nas lavouras de verão do Sul, a precocidade tem sido importante para fugir dos veranicos de dezembro-janeiro e/ou viabilizar uma segunda safra, além de se precaver contra as geadas na safra de inverno. Nas lavouras do cerrado, ela tem sido uma ferramenta importantÃssima para evitar a seca característica na safrinha desses locais. Dessa forma, a precocidade é essencial para garantir o potencial produtivo do híbrido e fugir dessas intempéries.
– Produtividade: considerando o alto custo, principalmente de implantação, da cultura do milho, híbridos com alto potencial produtivo têm sido obrigatórios nas lavouras brasileiras. Essa característica é vital nos processos de seleção dentro da pesquisa, desde o potencial produtivo das linhagens para a obtenção das sementes híbridas até o potencial do híbrido em fornecer grãos com qualidade e quantidade.
– Tecnologias: o uso de novas tecnologias, como o tratamento industrial de sementes, permite a conservação do estande da lavoura em número e qualidade das plantas, submetendo-as a um menor estresse até a colheita. Isso proporciona melhores condições para cada planta individualmente responder ao ambiente e às práticas de manejo. Além disso, a biotecnologia vem contribuindo muito para auxiliar no controle de fatores bióticos (insetos, plantas invasoras) que interferem no crescimento do milho.
Considere
Uma máxima muito utilizada e que resume bem a dimensão do desafio do produtor em escolher o melhor híbrido é a de que não existe híbrido perfeito. Dentro de um programa de melhoramento buscam-se fundamentalmente três características essenciais para um bom híbrido: produtividade, defensividade e precocidade.
Obviamente um híbrido produtivo que apresente superprecocidade e tolerância/resistência aos fatores bióticos e abióticos da cultura é sempre o objetivo de qualquer melhorista, porém, na prática o que se percebe é que apenas duas dessas três virtudes são alcançadas com alta eficiência.
Dessa forma, um híbrido que apresente superioridade em ao menos uma característica que não necessariamente altÃssima produtividade, pode ser muito importante para a estratégia do produtor em diminuir os riscos da sua lavoura.
Nesse sentido, a combinação de dois ou mais híbridos pode ser a melhor estratégia para que eventuais períodos desfavoráveis à produção não ocorram entre o início do florescimento e a fase de enchimento de grãos, considerados os mais crÃticos do milho.
Diversificação
Como exemplo da importância da utilização de vários híbridos podemos citar o cultivo de milho safrinha no cerrado, onde as épocas de semeadura são divididas em: plantio do cedo, plantio normal e plantio do tarde.
O plantio do cedo (janeiro até 10 de fevereiro) é caracterizado por chuva em abundância e, frequentemente, alta pressão de doenças foliares (Ferrugem Polissora, E. turcicum, Mancha de Cercospora) nas terras altas (acima de 700 metros). Além disso, em alguns casos, pode ocorrer alta pressão de doenças de grãos.
Portanto, considerando todos esses fatores historicamente comprovados da região, o mais sensato é optar por híbridos de alta produtividade, pois se trata da época mais nobre para a região na cultura de safrinha, e o controle de doenças pode ser feito com o uso de fungicidas, melhorando a performance dos híbridos mais sensÃveis.
Já para as semeaduras no período normal ou intermediário (11 a 25 de fevereiro), também uma época nobre na safrinha, recomenda-se optar por híbridos que tenham um bom potencial produtivo e que apresentem tolerância a uma possível falta de água no período de floração.
Além disso, a resistência a doenças passa a ter mais importância, uma vez que esta época é caracterizada por uma menor presença de doenças foliares como a Ferrugem Polissora, porém, em regiões de altitude acima de 800 metros é comum ocorrer forte pressão de Mancha Branca e Mancha de Cercospora.
Para o plantio de fechamento ou tardio (26 de fevereiro a início de março), no qual a pressão de doenças normalmente é menor, o principal fator a ser considerado é a escassez de chuvas peculiar da região. Dessa forma, a preferência deve se dar por híbridos com uma característica de tolerância maior ao estresse hídrico e enchimento de grãos da espiga.