Autora
Andreza Martinez
Um dos principais desafios do setor de defensivos agrícolas é garantir o emprego correto dos produtos no campo. Isso porque os defensivos foram desenvolvidos para combater pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras de maneira eficaz sem causar riscos para o meio ambiente, à saúde do trabalhador rural e ao consumidor de alimentos provenientes de lavouras protegidas por esses produtos durante seu manejo.
Os defensivos agrícolas são produtos químicos e biológicos que possuem diferentes graus de toxicidade. Como essa é uma característica de cada produto, os cuidados para reduzir o risco de contaminação ou intoxicação durante seu manuseio e a aplicação devem ser direcionados para diminuir a exposição aos pesticidas. Na prática, algumas medidas simples podem ser adotadas para reduzir essa exposição, como, por exemplo, manusear os produtos com cuidado, observando todas as recomendações de utilização, usar os equipamentos de aplicação calibrados e em bom estado de conservação e sempre utilizar vestimentas de proteção adequadas e esterilizadas.
No entanto, ultimamente, tem sido bastante comum relacionar a segurança na aplicação de defensivos agrícolas somente ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs), porém promover a segurança envolve o controle de risco em três fases: na fonte do processo, na trajetória e no indivíduo que está aplicando o produto – para ser mais clara, vou explicar cada uma dessas fases.
O controle na fonte é a forma mais efetiva de precaução porque visa eliminar o risco já no início do processo, por meio de ações diretas, para garantir boas condições e um ambiente de trabalho seguro. Pontos que levamos em conta nesse momento, antes da necessidade de aplicação, são a diversificação e a rotação de culturas, o manejo ecológico e o manejo integrado de pragas, como formas alternativas para diminuir a necessidade de uso de defensivos. Uma vez identificada a necessidade real da aplicação, condicionada ao controle de praga na lavoura, e que tenha atingido o nível de dano econômico na cultura, o controle na fonte deve ser feito seguindo a recomendação de um engenheiro agrônomo, por meio da prescrição através de receituário agronômico de um produto devidamente registrado para a cultura e alvo, bem como utilizando equipamento de pulverização em bom estado de conservação e funcionamento e a regulagem adequada do pulverizador.
Já o controle na trajetória é composto por medidas de barreira para eliminar o contato entre o defensivo agrícola e as pessoas potencialmente expostas a ele. São exemplos desse controle o uso de acessório do tipo “chapéu de napoleão” – utilizado em pulverizadores costais e que mantém o jato direcionado a uma área restrita, reduzindo a deriva do produto – tratores cabinados e barras protegidas, como as usadas em citros, café e florestas plantadas.
Por fim, o controle no indivíduo é complementar aos anteriores e visa proteger o indivíduo exposto ao risco, contribuindo para reduzir essa exposição. É basicamente o uso de EPI apropriado, que precisa ser selecionado de acordo com o risco, e que proporcione conforto térmico adequado, como previsto na legislação nacional e no rótulo e bula dos produtos. Para garantir a proteção, a legislação prevê ainda que algumas das responsabilidades sejam do empregador – como fornecer EPIs adequados ao trabalho, instruir e treinar quanto ao uso dos equipamentos, fiscalizar e exigir o uso de EPIs e fornecer equipamentos descontaminados a cada nova aplicação, repondo os danificados. Ao empregado cabe usar os EPIs e informar a necessidade de sua substituição por desgaste e/ou por defeito apresentado.
Para cada atividade envolvendo o uso de defensivos agrícolas existem EPIs específicos, que constam nas bulas de cada produto. Para a aplicação e o manuseio dos defensivos podem ser usados os seguintes equipamentos de proteção: vestimentas (como calça, jaleco e touca/capuz), luvas, respiradores, viseira facial ou óculos de proteção, touca árabe, avental e botas. Esses equipamentos de proteção são indicados conforme a cultura, o tipo de pulverizador e as condições de aplicação. As vestimentas, de forma geral, são confeccionadas em algodão, trazendo conforto térmico ao usuário e devem conter tratamento hidrorepelente para oferecer segurança e proteção contra respingos e possíveis névoas durante o manuseio e/ou pulverização. Em relação aos aventais, é importante que protejam o usuário até a altura dos joelhos. Já o comprimento da touca árabe deve proteger totalmente o pescoço e parte do ombro do trabalhador. As luvas devem ser nitrílicas ou de neoprene – que são adequadas para proteger as mãos contra contaminações químicas, e as botas devem ser fabricadas em PVC, pois botinas de couro podem absorver os produtos.
É bom ressaltar que os EPIs devem ser usados sempre que forem manipuladas embalagens de defensivos (cheias ou vazias), durante a preparação da calda, durante a aplicação e sempre que alguém entrar em uma área recém-tratada, antes de finalizar o período de reentrada – que é o período após a aplicação do defensivo agrícola na lavoura em que é vedada a entrada de pessoas sem uso de EPIs. Por esse motivo, é fundamental sinalizar as áreas recém-tratadas, informando o período de reentrada.
Como foi possível ver nesse artigo, o uso correto de EPIs é fundamental para garantir a segurança dos trabalhadores e esses equipamentos devem ser utilizados em todas as situações de aplicação e manuseio de defensivos agrícolas, independentemente do tamanho da propriedade. Além disso, a garantia do uso correto e seguro dos defensivos agrícolas está vinculada às recomendações de aplicação dos produtos constantes em rótulo e bula e mediante a prescrição de receituário agronômico assinado por um engenheiro agrônomo, uma exigência legal desde 1989 para a compra e uso de todo e qualquer defensivo agrícola.
Andreza Martinez é mestre em Entomologia Agrícola, graduada em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal de Viçosa e Gerente de Assuntos Regulatórios do Sindiveg.