Autores
Iací Dandara Santos Brasil
Tarcila Rosa da Silva Lins
Ernandes Macedo da Cunha Neto
netomacedo878@gmail.com
Emmanoella Costa Guaraná Araujo
Engenheira florestal e mestra em Ciências Florestais - Universidade Federal Rural de Pernambuco e doutoranda em Engenharia Florestal – Universidade do Paraná (UFPR)
Carlos Roberto Sanquetta
Engenheiro florestal e PhD – Japan Society for the Promotion of Science e professor da UFPR
Os solos desempenham função de sustentação e fonte de nutrientes para a cobertura vegetal, sendo a base de todas as cadeias alimentares. Formado por minerais, matéria orgânica, organismos vivos, ar e água, sua estrutura e longevidade dependem das atividades exercidas nele.
São constantemente degradados por meio de uma intervenção humana, como as causadas por práticas agrícolas impróprias. Desta forma, boa parte da matéria orgânica é removida, o que reflete nas suas características químicas, físicas e biológicas.
A intervenção humana inadequada provoca erosão, compactação, perda da cobertura vegetal e da serapilheira que cobre o solo, deixando-o frágil e pobre para o desenvolvimento de uma cultura agrícola ou florestal, e também para uma sucessão ecológica rápida da vegetação. Solos descobertos e frágeis são vulneráveis às intempéries do ambiente e sua recuperação depende do nível de degradação que se encontram.
A função da serapilheira
A matéria orgânica do solo é composta por restos de vegetais e animais, constituindo o que se pode chamar de necromassa ou serapilheira, que pode atingir diferentes estágios de decomposição, sendo o carbono seu principal constituinte. Após ser decomposto, este material contribui para sua fertilidade e condicionamento, além de criar um ambiente favorável para manutenção da vida no solo.
Este processo é conhecido como ciclagem de nutrientes, que se inicia quando a matéria orgânica é depositada na superfície do solo e vai até os nutrientes retornarem disponíveis no solo, para que as plantas possam absorvê-los. A ciclagem de nutrientes é essencial para manter o equilíbrio do ecossistema e garantir as boas condições de estabelecimento e desenvolvimento para os vegetais presentes no local.
Benefícios
Quanto aos benefícios para o meio ambiente, a matéria orgânica atua como fonte de alimento para microrganismos que decompõem a serapilheira; favorece o aumento da população de minhocas, besouros, fungos, bactérias e outros indivíduos que contribuem para a manutenção do ciclo dos nutrientes, sem contar que protege o solo contra erosão e evaporação da água, destacando a importância de se manter a matéria orgânica no solo, evitando a perda de nutrientes daquela área. Assim, os elementos que um dia foram utilizados pelas plantas serão devolvidos para o solo e estarão disponíveis novamente para absorção.
Além da função mencionada, a presença da serapilheira ajuda a proteger o solo da ação dos fatores climáticos, como a exposição à luz solar que causa perda de água por evaporação; e reduz o impacto causado pela chuva, amenizando a queda da água que irá infiltrar no solo de maneira mais vagarosa.
Fauna do solo
Os indivíduos que vivem no solo são importantes na cadeia alimentar, seja como presas ou predadores. Além disso, reduzem o tamanho da matéria orgânica em pedaços menores, o que facilita o processo de decomposição e retorno dos nutrientes para o solo. A quantidade e diversidade de espécies depende do tipo de vegetação e das características do solo.
Estes organismos são importantes, pois indicam que há equilíbrio no ambiente. A fauna do solo pode ser classificada, de acordo com seu tamanho, em macro, meso e microfauna. Os macros invertebrados (minhoca e besouros, por exemplo) desenvolvem ações que lhes dão destaque, pois não conhecidos como engenheiros do solo, e são eles que começam o processo de redução da matéria orgânica.
As funções que estes organismos desempenham podem ser agrupadas em: química, que envolve as reações necessárias para decompor material orgânico presente no solo; regulação biológica, que ajuda a equilibrar as populações por meio da cadeia alimentar; e manutenção da estrutura do solo, abrindo galerias e transportando partículas de solo da superfície para o interior e vice-versa.
Esta movimentação ajuda a evitar perda de solo e facilita a passagem de água e oxigênio no interior deste.
Indicador de qualidade
Os organismos presentes no solo podem servir como indicadores de qualidade, além dos tradicionalmente utilizados: físicos e químicos. A grande diversidade de seres vivos no solo pode ser um indicativo de boa qualidade, que por sua vez, está relacionada ao equilíbrio do ecossistema, ao avaliar que muitos dos atributos físicos e químicos, exigidos para o excelente desenvolvimento vegetal, são afetados diretamente pelos processos bióticos.
A qualidade do solo é normalmente algo difícil de quantificar e a combinação destas informações fornece uma avaliação mais completa.
Principais organismos do solo e seu comportamento
Nos solos, os insetos mais importantes são as formigas (ordem Hymenoptera, família Formicidae), os cupins (ordem Isoptera), os besouros (ordem Coleoptera) e moscas (ordem Diptera) (Coleman; Crossley, 1996). As formigas são insetos sociais e suas atividades são divididas de acordo com a função de cada um no formigueiro. Elas constroem os seus ninhos no solo, sendo responsáveis por transportar subsolo para a superfície, ajudando no equilíbrio.
Como as formigas, os cupins pertencentes à ordem Isoptera também são caracterizados como insetos sociais do solo (Assad, 1997). Vivem em colônias, num sistema de divisão de tarefas bem organizado e desenvolvido (Zucchi et al., 1992) e se alimentam de grande variedade de produtos de origem vegetal, como madeira e papel, e de produtos de origem animal, como o couro e a lã.
As minhocas, da ordem Oligochaeta, influenciam na fertilidade e produtividade do solo, pois à medida que abrem túneis na superfície do solo, se alimentam da matéria orgânica que sai parcialmente decomposta nas suas fezes, permitindo que outros organismos continuem o processo de ciclagem de nutrientes.
A abertura destes túneis também facilita a entrada, retenção e escoamento da água no solo, e a passagem de ar, trazendo benefícios para as raízes das plantas e evitando problemas relacionados à perda de solo.
Sendo assim, a presença da fauna no solo contribui para se ter um solo mais rico e bem estruturado, fornecendo melhores condições de estabelecimento e desenvolvimento para as plantas nele presentes.
Recuperação do solo e da fauna presente
A perda da matéria orgânica com a degradação do solo causa efeitos destrutivos no complexo vivo. No entanto, existem algumas soluções aplicáveis para recuperação da biodiversidade do ambiente: administrar de forma rigorosa a aplicação de nutrientes, tanto em quantidade como na forma de aplicação, realizando análises antes da instalação e ao longo do seu ciclo como forma de minimizar as perdas; aplicar fertilizantes orgânicos numa perspectiva integrada de fertilização, já que com a dupla função de corretivos e de adubos, fornece, ao mesmo tempo, elementos nutritivos para a cultura, é meio de sustento para a atividade metabólica da flora e da fauna do solo; quando possível diminuir a intervenção de máquinas agrícolas (Martins, 2017).