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Vagens e grãos verdes interferem na qualidade da soja que chega à indústria

 

Antonio Eduardo Pípolo

Pesquisador da Embrapa Soja

antonio.pipolo@embrapa.br

 

 Créditos Embrapa Soja
Créditos Embrapa Soja

Nos últimos anos, os produtores estão constatando aumento no número de plantas de soja com maturação desuniforme, o que se reflete em folhas, hastes e vagens verdes mesmo depois da lavoura alcançar maturidade normal. Esse problema tem se refletido principalmente na indústria, pois as vagens verdes embucham o sistema de recebimento. Além disso, a clorofila presente nos grãos verdes escurece o óleo e aumenta os custos para clarear a produção. Em alguns casos, pode até inviabilizar a comercialização.

Não existe um único fator responsável pelo aumento da ocorrência de vagens e grãos verdes, mas sim uma combinação de fatores, o que torna o problema difícil e complexo.

A presença de percevejos em alta população, por exemplo, é um dos fatores associados à maturação desuniforme. Durante os últimos anos, entretanto, este sintoma vem ocorrendo em áreas onde o percevejo não foi problema. Na safra 2013/14, por exemplo, a presença de grãos verdes também esteve associada à ocorrência de falta d´água no final do ciclo, o que provocou a morte prematura de plantas e, consequentemente, de grãos ainda verdes.

Para explicar o problema, pode-se recorrer ainda às mudanças ocorridas, a partir dos anos 90, no sistema de produção de soja. Com o grande crescimento da área de milho safrinha, a semeadura da soja foi antecipada em 20 a 30 dias, optando-se por cultivares precoces para viabilizar a exploração de duas safras por ano.

Além disso, em 2001, o aparecimento da ferrugem asiática e a utilização de fungicidas em soja reforçou a necessidade de utilização de cultivares precoces e com tipo de crescimento indeterminado para garantir porte e produtividade no plantio antecipado. A precocidade possibilita um menor número de aplicações de fungicidas, diminuindo os custos de produção.

Mas, devido à ocorrência de ferrugem asiática, o agricultor tem feito, em média, três aplicações de fungicidas na parte aérea da soja. Dados de pesquisa mostram que alguns fungicidas aumentam a retenção foliar e a porcentagem de haste verde em soja, quando comparado com a soja não tratada, sendo que os cultivares respondem diferentemente aos produtos normalmente utilizados.

Esses fatores vêm concorrer para o aumento da ocorrência de vagens e grãos verdes. Além disso, a colheita de soja foi antecipada para janeiro e fevereiro, que são meses chuvosos, o que favorece a maturação desuniforme.

Outro fator importante que ocorreu nesse período foi o crescimento do plantio direto, aumentando os teores de matéria orgânica, possibilitando maior altura de planta, eliminando as operações demoradas de preparo de solo e viabilizando rapidamente a semeadura.

Os grãos e vagens verdes prejudicam, principalmente, a indústria - Créditos Embrapa Soja
Os grãos e vagens verdes prejudicam, principalmente, a indústria – Créditos Embrapa Soja

Mudança de comportamento

Além disso, o tipo de crescimento indeterminado, ao contrário do tipo determinado, continua a crescer depois do florescimento, emitindo flores e folhas novas e retendo folhas por mais tempo. Há, também, ocorrência de vagens adiantadas e flores na mesma planta, o que não ocorre com o tipo de crescimento determinado. Todos esses fatores concorrem para a maior desuniformidade de maturação da soja.

Causas

O que é comum de se encontrar no campo é a ocorrência de haste verde quando as vagens e sementes estão maduras, enquanto a haste permanece verde. Em alguns casos a haste verde não está associada à perda de rendimento.

Quando a haste verde está associada à perda de rendimento, ou doenças, insetos (principalmente percevejos) e estresse ambiental (principalmente seca) estão associados, observa-se redução do número de vagens, o que altera a relação fonte/dreno em favor da fonte (tecidos vegetativos). A chamada “soja louca“, denominada assim por não atingir a maturidade, é um exemplo da alteração da relação fonte/dreno.

Nos diversos casos relatados de ocorrência de vagens verdes não houve perda de produtividade das lavouras (não houve alteração na relação fonte/dreno). Isso nos leva a concluir que esses sintomas são causados não por um fator isolado, mas por uma combinação de fatores, ou seja: cultivares x fungicidas x tipo de crescimento x clima x fatores bióticos; difíceis de isolar.

Reflexos diretos

Outro aspecto importante está relacionado com o esmagamento dos grãos para extração de óleo. Estas vagens trilhadas vão aumentar a concentração de grãos verdes (imaturos), que apresentam alta concentração de clorofila, resultando em coloração esverdeada do óleo, aumentando os custos de produção devido à necessidade de clareamento, ou mesmo inviabilizando a comercialização.

O que fazer

Como é difícil uma alteração no sistema de produção adotado atualmente, a solução do problema, a curto prazo, é a busca por melhoria dos sistemas de pré-limpeza para a retirada das vagens verdes. Os agricultores podem dar uma contribuição na redução do número de vagens verdes, aproveitando os mecanismos de regulagem das colheitadeiras no momento da colheita.

A cooperativa Comigo tem feito testes com máquinas que foram colocadas para receber os grãos e que minimizaram o problema. Há ainda o desafio de encontrar uma solução para os grãos já armazenados com o intuito de perder menos em quantidade e qualidade.

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