Em tempos de Covid-19, o desafio é crescente. Com o aumento de novos casos no mundo e no Brasil, observam-se desdobramentos diretos na produção de alimentos, com impactos na cadeia do agronegócio e na distribuição de alimentos, principalmente durante o pico de contaminações no País – previsto para os meses de abril a junho
Neste momento de incerteza, o campo nos brinda com notícias animadoras. A Conab trouxe em seu boletim de março uma expectativa de produção 251,9 milhões de toneladas de grãos, crescimento de 4,1% em comparação à safra passada, quase 9,9 milhões de toneladas incrementais.
Já para área cultivada, espera-se um crescimento de 2,4%, chegando a 64,78 milhões de hectares. Segundo Marcos Fava Neves, professor da USP e da EAESP/FGV, especialista em planejamento estratégico do agronegócio, a soja deve bater recorde de produção devido às boas condições climáticas, chegando a 124,2 milhões de toneladas com incremento de 2,6% da área.
“A área com algodão deve crescer 3,3%, enquanto que milho segunda safra aumenta 2,1%. A primeira safra de milho registrou incremento de 3,2% na área e deverá produzir 25,6 milhões de toneladas. Aparentemente, a chuva vem caindo na segunda safra de milho, que é absolutamente importante neste momento, avalia o especialista.
Ainda de acordo com a análise, na carona desses bons preços em reais e da produção citada pela CONAB, o MAPA aponta para um valor bruto da produção de 2020 estimado em R$ 683 bilhões (8,2% acima do valor de 2019). De fevereiro a março, a estimativa subiu praticamente R$ 9,1 bilhões. “Deve subir ainda mais com esse novo patamar do real (desvalorizado). Nas lavouras esperam-se R$ 448,4 bilhões gerados (9% a mais), sendo que na soja deveremos ter R$ 160,2 bilhões (16% a mais). Milho também cresceu 15%, chegando a R$ 74 bilhões. Nas cadeias da pecuária, o valor está em R$ 234,8 bilhões, sendo R$ 1,3 bilhão menor que a última projeção, mas ainda assim quase 7% maior que o ano passado. Imaginemos o Brasil doente e ainda sem a geração desse caixa, dessa renda, como estaria a situação”, ressalta Neves.
Os cinco fatos do agro para acompanhar agora são:
• Os impactos do Covid-19 na economia mundial, nas nossas exportações do agronegócio e nos preços das commodities;
• Os graves impactos do Covid-19 na economia brasileira e o andamento dos problemas, das operações logísticas, a governança política e a gestão da crise instalada;
• O comportamento do clima na segunda safra de milho, não podemos ter problema na oferta;
• China e Ásia: seguir as notícias dos impactos da peste suína africana na produção da Ásia nos preços e quantidades de carnes importadas do Brasil. Assunto ficou meio esquecido com a crise do Covid-19, mas segue presente;
• Expectativas da safra a ser plantada nos EUA e os destinos do milho que não será usado para etanol.
Do lado de cá
O mercado do agronegócio é uma atividade essencial para o País (e mundo). “Todos dependem do fornecimento de alimento e nós, como fabricantes de insumos, não podemos parar. Todos os participantes dessa cadeia produtiva possuem papéis igualmente importantes para a entrega do alimento na mesa da população. A pior coisa que pode acontecer (além das perdas de poder aquisitivo e de vidas) nesse momento, é a população das cidades imaginar a falta de alimentos à mesa”, argumenta Wladimir Chaga, presidente da Brandt do Brasil.
Ainda para ele, após a pandemia, algumas práticas como atendimentos pontuais, poderão ser realizadas de forma remota com maior eficiência, assim também como outras práticas tradicionais como a visita a campo, treinamentos técnicos, palestras e eventos serão realizados como de costume, de forma presencial.
“A produção e o fornecimento de alimentos são de extrema importância, em especial nesses tempos de incertezas. Uma das características de quem vive o agro é ser resiliente. Compartilhamos este sentimento que nos dá ânimo para continuar trabalhando e investindo, pois o agro é essencial e não pode parar. Nós da BASF seguimos comprometidos em atender com qualidade, preservando a saúde e segurança dos nossos colaboradores, parceiros e clientes, para assim continuarmos contribuindo com o legado da agricultura brasileira. Este não é um desafio que alguém superará sozinho, e estamos prontos para cooperar e ajudar”, compartilha Eduardo Novaes, diretor de Marketing da BASF.
Eduardo Santos, gerente sênior da diretoria centro da BASF, informa que, diante do avanço do novo coronavírus e com objetivo de assegurar a saúde de cada parceiro, cliente e funcionário, a empresa adotou algumas medidas de prevenção. As visitas presenciais tornaram-se virtuais e toda assessoria prestada foi direcionada para comunicação online. “Também, estamos realizando semanalmente reuniões estratégicas com objetivo de identificar outras oportunidades de se comunicar e de estar presentes, mesmo distantes. Apesar do momento de adversidade, continuamos focados em entender e atender o agricultor para ajudá-lo na construção do legado do seu negócio”.
Segundo levantamento realizado pela consultoria Cogo – Inteligência em Agronegócio para o Canal Rural, divulgado no dia 30 de março, o Covid-19 pode beneficiar algumas culturas e impactar negativamente outras.
A estimativa é de que a cadeia dos grãos não sofra tanto com a crise, visto que os estoques estão elevados e a colheita mundial foi acima do esperado, não havendo possibilidade de falta de alimentos. O desafio que se configura para o setor é a logística para escoamento da produção, a distribuição às plantas industriais e a exportação.
O macrossetor do agribusiness movimenta cerca de U$$ 20 trilhões no mercado global, incluindo toda a cadeia produtiva do “antes, dentro e pós-porteira” das fazendas. E, com os preços altos das commodities e do dólar, são ótimas as perspectivas para o Brasil. Representando 25% do PIB brasileiro, apesar do cenário instalado pela pandemia, o horizonte é positivo, com a manutenção da produção e mais vantagens para exportadores do que para aqueles que comercializam no mercado interno. A opinião é do professor da FECAP e especialista na área José Luiz Tejon Megido.
Segundo ele, o campo não para, mas o setor assistirá em 2020 a uma diminuição dos negócios no “pós-porteira” das fazendas. “Estamos colhendo a maior safra de grãos da história. Somos os maiores produtores do mundo de laranja e inicia agora a colheita do café. Temos também a cana-de-açúcar. O campo, ‘o antes da porteira’, seguirá firme em sua produção”.
Para o especialista, o ponto positivo que faz o Brasil sair na frente é o fato de sermos autossuficientes em muitas cadeias produtivas e fornecedores de produtos que já estão com preços elevados internacionalmente, como soja, milho, proteína animal, café, açúcar, papel e celulose e citrus.
Tejon vê ainda potencial de expansão considerável em muitas outras vertentes do setor. “Somos o terceiro maior produtor mundial de frutas e exportamos apenas cerca de 3% do que produzimos. Ou seja, com foco, planejamento e plano de negócios, temos no agronegócio a grande oportunidade de reiniciar o País, alavancando nossa economia nos próximos três anos com fundamentos sólidos e realistas”, prevê o professor.
Ele acredita ainda que é possível dobrar o agronegócio brasileiro de tamanho, visando receitas de U$$ 1 trilhão de dólares nos próximos cinco anos. “É possível e temos inteligência e condições de fazer. Esta crise pode ser o chacoalhão que nos levará a isso. E neste cenário, o cooperativismo terá papel fundamental em todo o País e nas relações da intercooperação no mundo todo”, comenta.
Luta acirrada
Para o especialista, a batalha do produtor agro de mercado interno é contra a guerra de desinformações e bloqueio de fluxos e estradas pelas cidades do Brasil. “O agronegócio é essencial, devendo manter todos os fornecedores atuando. Da mesma forma as cooperativas, que reúnem mais de um milhão de famílias produtoras e respondem por cerca da metade de toda a produção agropecuária”, opina Tejon.
Outro ponto a ser destacado é que a queda do preço do petróleo afeta a velocidade da adoção dos biocombustíveis, o que pode prejudicar produtos como o biodiesel e o etanol brasileiros. No entanto, o professor visualiza crescimento do cooperativismo e investimentos apoiando o empreendedorismo de produtores rurais, principalmente nos países em desenvolvimento e mais pobres.
“Vamos ver um fortalecimento da ciência e tecnologia, do antes da porteira, com suporte e apoio aos micros e pequenos produtores mundiais. A retomada do pós-porteira deve ocorrer em 2021”, opina.
Cenário para as indústrias
O agro é fundamental nesse momento de crise. A importância do produtor rural é de zelar para que não falte alimento à mesa da população brasileira. “Como parte essencial da cadeia de produção agrícola, o objetivo do Sindiveg é garantir a continuidade da operação das nossas indústrias para proteger a agricultura de forma responsável, apoiando o produtor rural no fornecimento de alimento saudável à população brasileira”, diz o presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), Júlio Borges Garcia.
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