Miguel Borges
Doutor em Entomologia e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Raul Laumann
Doutor em Entomologia e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Maria Carolina Blassioli-Moraes
Doutora em QuÃmica epesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Lucia M. Vivan
Doutora em Entomologia e pesquisadora da Fundação MT
O percevejo marrom da soja, por ter se adaptado muito bem às regiões com temperaturas médias mais elevadas, como na região Centro Oeste do Brasil, é considerado uma dasprincipais pragas em diversas culturas. Na cultura da soja este inseto ataca diretamente os grãos e frutos a partir do estágio R3 (formação de vagens).
Os grãos atacados ficam menores, enrugados e chochos, tornando-se mais escuros, e nos campos de semente ocasiona perda de vigor. Quando o ataque é precoce, ao surgirem os ramos ocorre a “retenção foliar“ das plantas de soja, pois ao provocarem a murcha e a má formação dos grãos e vagens, a planta de soja não encerra seu ciclo normalmente, permanecendo verde na época da colheita. Além disso, induz o menor teor de lipÃdeos e proteínas, além de favorecerem/transmitirem doenças causadas por bactérias e fungos.
O percevejo marrom, além de ser a principal praga da soja no Centro-Oeste brasileiro, tem sido registrado em diversas culturas, ocorrendo também no algodão, feijão, girassol, milho, sorgo, trigo, entre outras.
Condições para o ataque
Com a alteração das práticas culturais no Brasil, ou seja, a intensificação do uso da terra, a mudança na paisagem, a adoção do sistema de cultivo em plantio direto e da alternância de culturas, plantas de cobertura, “ponte verde”, etc., os insetos têm encontrado recursos alimentares durante todo o ano, fator positivo para o crescimento de populações de pragas e inseguro para a sustentabilidade ambiental, pois inseticidas químicos têm sido utilizados indiscriminadamente, visando o controle de pragas.
O uso de inseticidas é prejudicial ao meio ambiente, sendo que seu uso indiscriminado favorece o estabelecimento de indivíduos resistentes, com impacto negativo sobre os inimigos naturais dos percevejos, como os parasitoides de ovos. Esses fatores favorecem ainda maiores níveis populacionais dos insetos-praga, uma vez que não há o seu inimigo natural no campo e os indivíduos presentes muitas vezes são os resistentes aos inseticidas.
A presença de indivíduos resistentes a inseticidas tem sido verificada de forma constante e crescente nos últimos 10 anos.
As armadilhas
A armadilha possui um atrativo constituÃdo pelo feromônio sintético de machos de Euschistusheros (Fabricius).Esse atrativo, chamado de feromônio, é um composto volátil, que é liberado lentamente pela armadilha, e assim atrai as fêmeas da espécie, as quais entram na armadilha e ficam presas.
Omodelo de armadilha que usamos é do tipo funil, e o feromônio é impregnado em septos de borracha ou “iscas“, que permitem a liberação do feromônio de forma lenta e controlada, podendoficar no campo por até 30 dias sem perder a eficiência.
Experimentos
Testes de campo com as armadilhas contendo o feromônio têm mostrado resultados positivos em relação ao modelo de armadilha testado, bem como da captura de outras espécies de percevejos do complexo da soja.
Já foram realizados vários testes com o feromônio no campo, e o último que conduzimos comparamos a captura de percevejos em armadilhas com o feromônio com a técnica do pano-de-batida, que é a utilizada para o monitoramento de populações de pragas da soja.
Os resultados demonstraram correlação entre os dois métodos amostrais, principalmente durante a fase reprodutiva da soja e nos estágios fenológicos R1 a R5, que compreende a etapa de formação e enchimento dos grãos.
Assim, a armadilha com o feromônio pode ser usada para avaliar a densidade de insetos no campo e para o monitoramento dos percevejos e tomada de decisão para a aplicação de inseticida.
Esta tecnologia estará disponível para áreas de produção comercial para o monitoramento do inseto. O método de monitoramento com feromônio é mais eficiente e menos laboriosoque o pano de batida.
Experimentos com as armadilhas iscadas com feromônio comprovaram a sua eficiência desde os estágios vegetativos até os estágios reprodutivos da soja com as armadilhas dispostas somente nas bordas da lavoura, fator que facilita sua leitura sem a necessidade de adentrar na mesma.
Adicionalmente, ao mesmo tempo em que a tecnologia do feromônio monitora a praga, os experimentos registraram a atração dos seus inimigos naturais, como os parasitoides de ovos auxiliando no manejo da praga, fator positivo para manter as pragas abaixo do nível de dano econômico.
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