Â
Moeda valorizada, que neste momento ajuda o produtor, pode jogar contra na próxima safra. As alternativas assinaladas por especialistas são o barter e vendor, modalidades que podem servir de seguro à lavoura
O agronegócio será a boia de salvação do PIB em 2015. É o que aponta uma projeção do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), afirmando que setor deve expandir-se 1,2% nesse ano. Trata-se de uma boa notícia em meio a um mar de números ruins ““ e, se não permite a ninguém nadar de braçadas, é essencial para evitar naufrágios.
Especialistas preveem uma retração de 0,8% no resultado geral da economia. A indústria, segundo revelou um estudo da Fiesp, deve sofrer um recolhimento de 4,5%. Comparado a outros segmentos, o agrícola tem conseguido se manter praticamente imune à crise.
Há duas explicações para entender de onde brota a força do agronegócio, mesmo em tempos de crise interna. A primeira é que ele foi o único setor a registrar um ganho real de produtividade, adubo essencial para o crescimento do País.
Enquanto em outras áreas o aumento do custo com a mão de obra corroeu a competitividade das empresas (basicamente porque os salários subiram acima da produtividade), no agronegócio os avanços obtidos com pesquisa e tecnologia mantiveram o país em condições de disputar o mercado internacional.
Nos últimos 35 anos, a área plantada de soja espraiou-se 248%, enquanto a produção subiu 506%, segundo um estudo da Conab. E aà vem a segunda explicação para a boa situação do setor: a produção brasileira é voltada para a exportação, não apenas para o mercado nacional.
Por isso, é por natureza mais competitiva e sofre menos com a queda na atividade interna. Explica o secretário nacional de PolÃtica Agrícola, André Nassar: “Em vez de um país com 200 milhões de pessoas, o nosso mercado é o mundo todo, com 7 bilhões“. O Brasil, atualmente, é o maior exportador de soja, açúcar, carne bovina e frango do planeta.
A situação poderia ser ainda melhor, não fosse pela retração no preço internacional das mercadorias que o Brasil exporta. Nesse particular, a valorização do dólar ajudou.
Calculadora na mão
Desde que o dólar cruzou a barreira dos R$ 3,00 em março, os produtores brasileiros começaram a fazer contas. Depois de quase uma década de expansão, eles podem ser obrigados a reduzir o plantio de grãos no próximo verão. Se por um lado a alta da moeda destrava os negócios e ajuda a exportação da safra que está sendo colhida, por outro pesa nos custos de produção e desenha um cenário duvidoso para a temporada 2015/16.
Segundo André Pessôa, coordenador do Rally da Safra, projeto que mapeia todos os anos a produção de soja e milho no país, a subida do dólar beneficiou os produtores, que conseguem preços e margens melhores do que os previstos inicialmente.
“Mas, antes de tudo, plantar vai exigir muito planejamento“, alerta o analista da FCStone, VinÃcius Xavier. Mesmo com a queda de 55% na cotação do petróleo, o que, teoricamente, deixaria os preços de alguns insumos mais baratos, a taxa de câmbio deve anular esse ganho ou até provocar aumento, explica o consultor da Cerealpar, Steve Cachia.
O grande desafio de 2015 será acertar a tendência do dólar e a melhor forma de se proteger é eliminar o risco da volatilidade, recomendam os especialistas. “É preciso tomar cuidado para não assumir um custo de largada alto e depois acabar tomando um tombo se o dólar voltar a cair“, pontua Xavier. Ele recomenda o barter, modalidade de compra de insumos com pagamento em produto em que as relações de troca são travadas na hora da contratação.
“Um dólar a R$ 4,00 pode significar valores maiores na hora da venda, mas também custos de produção mais elevados. Por outro lado, um dólar recuando de volta para próximo a R$ 3,00 seria sinônimo de preços em queda no mercado interno, mas não necessariamente custos de produção caindo tão cedo ou tão rapidamente“, compara o analista da Cerealpar.
Dicas importantes
Â
O aumento do dólar vai impactar o custo de produção da soja com uma previsão de aumento de cerca de 30%. O alerta foi dado pelo analista da Embrapa Agropecuária Oeste, Alceu Richetti.
Ele explica que o custo total médio, por saca produzida, na safra 2014/15 foi de R$43,00 por hectare. Na próxima safra, os cálculos realizados, com taxa de variação cambial estimada de R$-3,044, o valor deverá saltar para R$55,75, um expressivo aumento, que ainda deverá ser confirmado na prática quando as atividades de plantio da soja tiverem início, a partir de setembro.
Segundo Alceu, além do dólar, o aumento no valor dos combustÃveis e dos insumos também contribui para essa significativa elevação do custo. Na safra 2014/15, o custo por hectare com o combustÃvel, que era de R$ -162,24, passará para R$ 173,46 por hectare na próxima safra.
O pesquisador concorda com a afirmação anterior VinÃcius Xavier, da FCStone, quando reafirma que a próxima safra vai exigir muito planejamento dos produtores. “O produtor deverá anotar detalhadamente tudo o que for investido, pois somente assim poderá calcular corretamente o seu custo de produção. Deve, ainda, manter os dados organizados”, acrescenta.