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Jesus G. Töfoli
Ricardo J. Domingues
Pesquisadores APTA ““ Instituto Biológico
A requeima, causada pelo oomicetoPhytophthorainfestans, é uma doença de importância mundial na cultura da batata (Solanumtuberosum L.). Caracteriza-se pelo rápido desenvolvimento, alto poder destrutivo e pelos graves prejuízos que provoca, afetando tanto o rendimento como a qualidade da produção.
Trata-se de uma doença que é favorecida por temperaturas amenas (12°C a 25°C) e alta umidade (90 a 100%), proporcionada por neblina, chuva, orvalho e irrigação frequente. Pode atacar a cultura em qualquer estágio de desenvolvimento, podendo ser encontrada em folhas, hastes, pecíolos e tubérculos.
Sintomas
Os sintomas da requeima podem variar de acordo com as condições climáticas ou com a resistência da cultura ao patógeno. Os primeiros sintomas da requeima em folhas são caracterizados por manchas de tamanho variável, coloração verde-clara ou escura, aspecto úmido, localizadas nas bordas ou ápices dos folÃolos.
Ao evoluírem estas se tornam escuras, irregulares ou parcialmente circulares, apresentando geralmente aspecto encharcado. Sob condições ótimas de temperatura (12 a 18°C) e umidade (100%), observa-se na face inferior das lesões a formação de um anel de esporulação formado por esporângios e esporangióforos do patógeno.
Este apresenta aspecto aveludado, coloração branca acinzentada e localiza-se principalmente ao redor das lesões nos limites entre o tecido sadio e o necrótico. Àmedida que o tecido foliar é afetado, as lesões tornam-se necróticas e ressecadas, apresentando um aspecto de queima intensa e generalizada. Nas hastes, as lesões são marrom-escuras, contÃnuas e aneladas podendo causar a morte das áreas posteriores à lesão.
Nos tubérculos as lesões são castanhas superficiais irregulares e com bordos definidos. No interior dos mesmos, a necrose é irregular, de coloração marrom, aparência granular e mesclada. Sintomas de podridão seca associados ao crescimento do patógeno também podem ser observados em tubérculos infectados.
Fungicidas
Os fungicidas desempenham um papel decisivo no controle da requeima, uma vez que a maioria das cultivares comerciais são suscetÃveis à doença. Eficácia, modo de ação, risco de resistência, efeitos colaterais, aspectos econômicos e sociais, e legislações, são fatores que devem ser tecnicamente considerados em programas de manejo que visem a sustentabilidade da cadeia produtiva da batata.
As estratégias de controle com fungicidas têm o objetivo de prevenir ou reduzir a ocorrência da requeima no campo. Para isso, é necessário que se conheça detalhadamente o potencial de controle desses produtos para que possam alcançar os melhores níveis de controle em programas de aplicação ou sistemas de previsão de doenças.
Variáveis como: suscetibilidade das cultivares, condições meteorológicas, escolha do produto, estádio fenológico da cultura, momento da aplicação e tecnologia de aplicação influenciam diretamente na eficiência de controle de um fungicida, bem como podem definir o sucesso ou o fracasso do tratamento.
O controle químico da requeima concretizou-se com o surgimento da calda bordalesa no final do século XIX. No último século grandes avanços têm sido obtidos pela proteção quÃmica com o objetivo de assegurar a produtividade, a qualidade e reduzir o impacto ambiental.
Inovação e diversidade na pesquisa e desenvolvimento de novos fungicidas têm proposto produtos seletivos, efetivos em doses baixas e com mecanismos distintos de ação. Características como: ação rápida; alto potencial protetor; resistência à ocorrência de precipitações; maior ação residual e baixo risco de selecionar raças resistentes são características cada vez mais exigidas em um fungicida para o controle da requeima.
Modo de ação
Em relação à planta, os fungicidas podem ser classificados em produtos de contato, mesostêmicos, translaminares e sistêmicos. Os fungicidas de contato caracterizam-se por formar uma pelÃcula protetora na superfície da planta, que impede a penetração do patógeno.
Geralmente são produtos inespecíficos, pois agem simultaneamente em vários sÃtios do metabolismo do fungo. Os fungicidas mesostêmicos apresentam alta afinidade com a camada cerosa superficial das folhas, podendo se redistribuir na fase de vapor ou ser absorvido pelo tecido, sem, no entanto, apresentar nenhum movimento.
Os fungicidas sistêmicos são aqueles que podem se movimentar na planta através de vasos condutores, podendo atingir locais distantes do local depositado, enquanto que os translaminares distribuem-se de forma limitada nos tecidos tratados. Os produtos mesostêmicos, translaminares e sistêmicos, em geral, são específicos, isto é, agem em um determinado sÃtio metabólico.
Quanto ao processo infeccioso, os fungicidas podem apresentar ação protetora, curativa, antiesporulante e residual. A ação protetora de um fungicida é expressa quando esse é aplicado antes do patógeno infectar os tecidos da planta.
A ação curativa refere-se à sua capacidade em limitar o desenvolvimento do patógeno, quando aplicado no período latente, ou seja, no intervalo entre penetração e o aparecimento dos primeiros sintomas.
A atividade antiesporulante trata da capacidade do fungicida em limitar a reprodução ou inviabilizar as estruturas reprodutivas do patógeno. A ação residual, por sua vez, refere-se ao período de proteção proporcionado pelo produto após a sua aplicação, e pode variar em função da estabilidade da molécula, tenacidade, crescimento da planta e ocorrência de intempéries.