Ricardo Borges Pereira
ricardo-borges.pereira@embrapa.br
Jadir Borges Pinheiro
Engenheiros agrônomos, doutores e pesquisadores da Embrapa Hortaliças
A ocorrência da septoriose ou mancha-de-septória nos últimos anos tem aumentado em campos de produção de tomate no Brasil. A doença é causada pelo fungo SeptorialycopersiciSpegazzini e ocorre praticamente em todas as regiões produtoras de tomate do mundo, sendo mais comum em épocas quentes e chuvosas.
O patógeno causa severa desfolha das plantas, reduzindo de forma significativa a produtividade e a qualidade dos frutos. Em algumas regiões ou épocas de cultivo as perdas devido à doença podem chegar a 100% da produção, devido à morte das plantas.
A septoriose pode ocorrer em qualquer fase de desenvolvimento do tomateiro, mas os sintomas normalmente aparecem nas folhas baixeiras logo após o início da frutificação. Os sintomas ocorrem principalmente nas folhas, mas também podem aparecer nos pecíolos, caule e flores da planta, raramente nos frutos.
Inicialmente aparecem na face inferior das folhas na forma de pequenas manchas encharcadas de formato mais ou menos circular a elÃptica, medindo de 2 a 3 mm de diâmetro. Àmedida que a doença se desenvolve, as lesões adquirem coloração marrom acinzentada no centro com bordas escurecidas e halo amarelado estreito ao redor, podendo atingir até 5 mm de diâmetro.
Em ataques severos as lesões coalescem, as folhas amarelecem, secam e caem. As lesões localizadas nos pecíolos e caule são escuras e sem a presença de halo amarelado. Com o passar do tempo a doença pode progredir de forma ascendente na planta, iniciando nas folhas baixeiras em direção às folhas mais novas na parte superior, causando severa desfolha da planta.
Lesões novas causadas por Septorialycopersici podem ser confundidas com outras causadas pela pinta preta (Alternaria spp.), o que dificulta a identificação. Os frutos produzidos em plantas severamente desfolhadas apresentam tamanho reduzido e queimadura em razão da exposição direta aos raios solares.
As lesões nas folhas são formadas, em média, seis dias após a infecção. De 10 a 14 dias após a infecção, podem ser visualizados pequenos pontos pretos no centro das lesões, que correspondem às estruturas reprodutivas do patógeno, conhecidos como picnÃdios.
Alerta
Embora o patógeno não seja um habitante do solo, pode persistir de uma época para a outra nos restos de cultura de plantas doentes, associado a outras solanáceas como batata e berinjela ou às plantas daninhas hospedeiras como Solanum carolinense L. (urtiga-de-cavalo), Solanumnigrum L. (erva-moura) e Daturastramonium L. (estramônio), além de sementes contaminadas, as quais constituem fontes de inóculo inicial para cultivos posteriores.
Os conÃdios do patógeno podem ser disseminados a longas distâncias por meio de sementes contaminadas, para outras partes da planta ou plantas vizinhas pelo impacto de gotas de água, sejada chuva ou de irrigação por aspersão, associadasa ventos fortes.
O patógeno também pode serdisseminado pelas mãos dos trabalhadoresdurante os tratos culturais, insetos (besouros),implementos e ferramentas agrícolas.A chuva contribui fortemente para a produção,liberação e dispersão dos conÃdios e do patógeno.
Quando associada a ventos fortes, são responsáveispela dispersão a distâncias maiores.Em condições de alta umidade relativa etemperaturas favoráveis (15°C a 27°C, ótimade 25°C), os conÃdios germinam na presença deágua livre na folha em aproximadamente 48 horas,penetram através dos estômatos e colonizam afolha. Após seis dias desenvolvem-se as lesões.
PerÃodos prolongados de temperaturas entre 20°Ce 25°C, acompanhados de chuvas e/ou orvalho, napresença de grandes quantidades de inóculo, sãofavoráveis ao progresso de epidemias da doença.
Controle
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O controle da septoriose é realizado comumentecom a aplicação foliar de fungicidas de contato esistêmicos, muitas vezes já utilizada no controle da pinta-preta (Alternariasp.) e da requeima(Phytophthorainfestans). Os fungicidas de contatoapresentam menor eficiência que os sistêmicos porserem facilmente removidos pela água da chuvaou irrigações por aspersão.
Atualmente, existemmuitos fungicidas registrados junto ao Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)para o controle da doença, como cúpricos, triazois,isoftalonitrila, ditiocarbamatos e estrubilurinas.
Quando a doença já se encontra instalada,principalmente em cultivares muito suscetÃveis, e ascondições ambientais são extremamente favoráveisao desenvolvimento do patógeno, o controle químicopode não ser eficiente no controle da doença.
As aplicações devem ser iniciadas logo após oaparecimento dos primeiros sintomas e devem serrepetidas em intervalos de sete a 14 dias.Atualmente não existem cultivares ou híbridosde tomate disponíveis comercialmentecom níveis satisfatórios de resistência.