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Silvino Guimarães Moreira
Engenheiro agrônomo, professor de Fertilidade do Solo e Nutrição Mineral de Plantas da Universidade Federal de São João Del Rei ““ UFSJ
Carine Gregório Machado Silva
Engenheira agrônoma e mestranda no programa de pós-graduação e Ciências Agrárias – UFSJ
A quase totalidade dos solos brasileiros é naturalmente ácida, ou seja, com baixos valores de pH e altos teores de alumÃnio trocável (Al3+), além de apresentarem baixos teores de cálcio (Ca) e magnésio (Mg). O calcário é o primeiro insumo que deve ser utilizado nos solos ácidos para neutralizar a acidez (íons H+ + Al3+) e fornecer cálcio e magnésio às plantas.
Existem calcários com teores variáveis de óxido de cálcio e de magnésio. Por isso, para correta escolha do calcário devem ser avaliados corretamente os teores de Ca e Mg, por meio da análise de solo. Na prática, tem-se observado locais em que foi aplicada a dose correta de calcário, mas os solos se encontram com baixos teores de Mg, devido à utilização de calcário com baixos teores de Mg.
Essa prática deve ser evitada, pois nessa situação devem ser utilizados outros insumos para correção da acidez, como óxido e sulfato de magnésio, que tem custos muito mais elevados do que o calcário.
Fique atento
Nas áreas de abertura ou naquelas com solos degradados (exemplos de algumas áreas de pastagens, o calcário deve ser aplicado na superfície do solo e, posteriormente, incorporado. Como a recomendação oficial de calcário calcula a dose para a camada de 0 a 20 cm do solo, após sua aplicação, deve ser feita sua incorporação no mÃnimo até essa profundidade, com grade aradora.
No passado, a incorporação do calcário era feita com arado de aiveca, que permitia uma incorporação mais profunda do corretivo. Isso possibilitava uma correção do solo mais adequada e o desenvolvimento das raízes a maiores profundidades.
Atualmente, com o aumento do tamanho das áreas e a busca de rendimento operacional, e por não dispor de implementos que têm a capacidade de incorporar o calcário de forma mais profunda, muitos produtores têm feito a incorporação com a grade aradora.
Em alguns casos, a incorporação se limita à camada de 0 a 10 cm. Essa incorporação apenas nessa camada superficial tem levado a consequências indesejáveis. Em alguns casos, pode provocar uma “supercalagem” na camada de superficial, tendo como consequência o aumento do pH acima de 6,5 a 7,0, o que provoca deficiências dos chamados micronutrientes, além de causar a falta de correção das camadas abaixo de 10 cm, a qual fica com altos teores de alumÃnio e baixos níveis de Ca e Mg.
Nessa situação, o desenvolvimento radicular se limita à camada superficial, sendo que qualquer veranico pode causar problemas sérios pela falta de água, uma vez que a camada superficial é a primeira a perder água durante os veranicos.
Mais eficiência com menor custo
Principalmente no cenário atual de preços de fertilizantes, o produtor deve buscar cada vez aumentar a eficiência dos fertilizantes. Numa área mal corrigida, ou seja, com altos teores de alumÃnio, poderá haver perdas de até 70% do adubo fosfatado aplicado.
Isso porque o alumÃnio tóxico do solo se junta ao fósforo (que vem dos fertilizantes), formando um composto que a planta não absorve. Além disso, boa parte do fósforo também se junta aos óxidos de ferro e alumÃnio do solo, sendo praticamente perdido.
Outro fertilizante muito utilizado pelo produtor é o cloreto de potássio, que também tem eficiência reduzida na presença de muito alumÃnio do solo. É como se o alumÃnio ocupasse o lugar do potássio, nos coloides do solo. Assim, parte do potássio poderia ser perdido (lixiviação), sem aproveitamento pelas plantas.
Numa área com acidez corrigida de forma adequada pelo calcário e na profundidade desejada, haveria principalmente altos teores de Ca no solo, que é componente da parede celular das plantas. Também não haveria Al, que é tóxico às plantas. Isso permitiria às plantas ter grande desenvolvimento das raízes e sofreriam menos com a falta d’água durante os veranicos, pois as raízes já estariam na “região” do solo com maior disponibilidade de água.
Correção exata
Atualmente, muitos produtores têm buscado construir o que tem se chamado de “perfil do solo”, que seria uma correção até as camadas mais profundas (até 60 cm ou mais). Com essa correção, haveria nutrientes nas camadas mais profundas dos solos (principalmente Ca), que permitiriam o desenvolvimento das raízes até as camadas profundas.
Deve ser entendido que as raízes funcionam como “a boca” da planta, onde os nutrientes são absorvidos, mas para isso há necessidade de água. Assim, se houver nutriente nas camadas mais profundas, que normalmente tem mais água na época dos veranicos, as plantas continuariam crescendo, sofrendo menos estresse hídrico, mesmo em épocas de veranicos mais pronunciados.
Por isso, torna-se tão importante a adequada a incorporação do calcário nos primeiros anos de plantio convencional, quando o produtor se prepara para entrar no plantio direto (nele, o calcário é aplicado na superfície) e também antes da implantação de pastagens e culturas perenes.
Outro aliado do produtor é o gesso, que nunca substituirá a correção da acidez do solo, promovida pelo calcário, mas tem o poder de lixiviar nutrientes de forma controlada (cálcio, magnésio e potássio) para as camadas inferiores do solo. Isso permite o crescimento das raízes em profundidade, o menor estresse causado por veranicos e o aumento das produtividades das culturas.
Para recomendar a dose adequada de calcário, o produtor deverá fazer a análise do solo nas camadas de 0 a 20 cm. Para utilizar o gesso, devem ser analisadas as camadas mais profundas do solo, ou seja, 20 a 40 e 40 a 60 cm.