Trabalho investe na recuperação da antiga horta do santuário e envolve produtores da região
Uma parceria que une história, culinária, fé, turismo e agricultura. A união destes elementos está permitindo a recuperação de hortaliças tradicionais que influenciaram a gastronomia mineira. O trabalho é realizado pela Emater-MG com o Santuário do Caraça, um complexo arquitetônico religioso, situado na Serra do Espinhaço, entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara. O local é muito procurado por turistas, tem séculos de história e fica numa Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). Quem visita hoje o santuário encontra uma horta com mais de 65 espécies de plantas entre hortaliças e ervas aromáticas.
Muitas das hortaliças que atualmente são cultivadas no Santuário do Caraça estavam em desuso pela população, mas tiveram grande influência na culinária tÃpica do local e da região, segundo o coordenador técnico estadual de Olericultura da Emater-MG, o engenheiro agrônomo Georgeton Silveira. A Emater-MG recuperou a horta no final de outubro de 2014. “Levamos sementes e mudas de várias espécies entre elas a bertalha, peixinho capuchinha, e cinco variedades de cará (roxo, moela, caramujo, São Tomé e florido)“, relata. Também são exemplos de hortaliças tradicionais ou não convencionais, a taioba, araruta, oro-pro-nóbis, mangarito, azedinha, vinagreira, peixinho, jacutupé e muitas outras usadas em pratos específicos da culinária mineira e brasileira.
O coordenador explica que a empresa atua em outros locais para fazer este tipo de resgate. Em Minas, o trabalho conta com a parceria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Embrapa, Epamig, prefeituras e associações de produtores. “O projeto de resgate de hortaliças tradicionais ou não convencionais já catalogou 35 espécies no país, mas a lista não está fechada, podendo incorporar novos achados“.
Além da horta do Caraça, já foram implantados 26 bancos de multiplicação dessas hortaliças, em várias regiões do Estado. De acordo com o agrônomo, o rótulo acadêmico de “tradicionais ou não convencionais“ tem a ver com o fato de essas plantas serem ligadas à cultura e tradição alimentar de várias comunidades rurais e urbanas, mas ainda serem de consumo restrito e não organizadas em cadeia produtiva.
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História da gastronomia
Há sete anos se dedicando a estudar as origens da culinária em Minas, resgatando receitas e histórias registradas em livros, preservados nas bibliotecas da Serra da Piedade, onde pesquisou por cinco anos e agora no Caraça, Vani Fonseca Pedrosa é só elogios quando fala da parceria com a Emater-MG. “Poucas coisas deram tão certo quanto essa parceria com a Emater-MG. O apoio dela foi muito importante. A empresa orientou na montagem das estufas (para evitar ataques de pássaros nas plantas, como o jacu, muito presente na fauna da região); trouxe várias mudas de verduras e variedades de inhame“, ressalta Vani que é pesquisadora e supervisora de gastronomia do Santuário.
Segundo ela, a recuperação da horta faz parte de um projeto maior sobre os primórdios da cozinha mineira. “Temos publicações de 1816 e 1856 que falam da horta do Caraça, sempre no mesmo espaço, desde a fundação do Santuário, em 1774“, revela. Vani aponta inclusive, descrições do botânico francês, Auguste de Saint-Hilaire. Famoso há quase dois séculos pela viagem que fez ao Brasil, esse naturalista catalogou e deu nome a várias espécies da flora do nosso país e de Minas.
Sobre o destino da produção da horta do Caraça, Pedrosa informa que está sendo utilizada nas refeições oferecidas aos hóspedes da pousada e aos turistas que frequentam o restaurante do local. As mudas das hortaliças também estão sendo vendidas aos visitantes da reserva natural. “A gente quer recuperar e oferecer essas verduras tradicionais ou não convencionais e o Caraça é uma vitrine desse projeto. Recebemos muitos visitantes e pesquisadores de vários países como França, Alemanha e Estados Unidos“.
De acordo com Vani, esse é um trabalho que mostra a possibilidade de interagir com a gastronomia e a Frente Pela Gastronomia Mineira, órgão divulgador dessa ação e de outras, como a que envolve o reconhecimento da região como produtora do queijo minas artesanal. “A propagação e divulgação dessas hortaliças pode gerar renda no campo e trazer à tona sabores, experiências e inspirações do passado“, declara.
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Distribuição de mudas
O coordenador da Emater-MG acrescenta que, em maio, foi realizado um encontro no Santuário, com a participação de agricultores dos municípios de Caeté, Santa Bárbara, Barão de Cocais e Catas Altas. Foram distribuÃdas sementes, mudas e cartilhas aos produtores. Todos tiveram a oportunidade degustar pratos feitos com as hortaliças, tais como creme de inhame, flan de araruta e geleia de vinagreira. “Além da degustação, fomos para a horta e mostramos o modo de plantio das hortaliças“, resumiu.
Para Georgeton, a iniciativa em Caraça, é um casamento que tem tudo para dar certo. “A primeira etapa, de implantação do banco de mudas e sementes, foi sensibilizadora, pois mobilizamos e interagimos com produtores de quatro municípios para que eles façam agora a reprodução dessas plantas. Iniciamos também um diálogo com os proprietários de restaurantes para que num futuro próximo, esses produtores possam ampliar a produção e abastecer o mercado da gastronomia“, explica.
O técnico que atende nos escritórios da Emater-MG de Catas Altas e Barão de Cocais, Wemerson Barra, faz o acompanhamento da horta do Caraça e diz que a empresa não apenas presta assistência técnica. “Também trabalhamos com a mobilização e articulação do território rural dos municípios no entorno das Serras da Piedade e do Caraça (Caeté, Barão de Cocais, Santa Bárbara e Catas Altas), pois entendemos a importância de compartilhar o conhecimento da história da culinária da região“, explica. A Emater-MG atende 300 agricultores em Catas Altas e outros 500Â em Barão de Cocais.