Laércio Boratto de Paula
Engenheiro agrônomo, D Sc em Fitotecnia e professor do IF Sudeste de MG ““ câmpus Barbacena
laercio.boratto@ifsudestemg.edu.br
Fertilizantes de liberação lenta ou controlada (não existe diferença oficial entre eles) são produtos que contém um ou mais nutrientes vegetais na sua formulação, e que atrasam a disponibilidade de absorção e uso dos nutrientes pela planta ou ficam disponíveis para a planta por um tempo maior que o fertilizante de referência.
Na verdade, fertilizantes de liberação controlada, segundo o IPNI (Instituto Internacional de Nutrição de Plantas), fazem parte de um grupo maior de produtos chamados de fertilizantes de eficiência aprimorada. Em síntese, adubos de liberação lenta ou controlada são revestidos/recobertos por derivados de ureia, por pelÃcula de enxofre elementar ou polímeros de diferentes naturezas, que fazem com que os nutrientes sejam liberados de forma mais lenta ou controlada.
Na prática, embora os adubos de liberação lenta possam conter macro e micronutrientes, os que de fato dominam o mercado são aqueles que são fonte de N. Assim, os mecanismos que atrasam a liberação do nutriente (como controle das transformações e proteção física das formas solúveis), na maioria das vezes, direcionam-se ao retardamento da liberação do nitrogênio.
Por fim, o termo adubação “inteligente“, aplicado aos fertilizantes de liberação lenta/controlada, refere-se à liberação de nutrientes de acordo com a necessidade da planta, ou, em outras palavras, a oferta de nutrientes ajustando-se à demanda nutricional da planta.
Vantagens da adubação inteligente
Sem dúvida, um dos fatores mais limitantes ao crescimento e produção das hortaliças refere-se ao aporte de nutrientes. Os fertilizantes de liberação lenta (FLL), de maneira geral, fornecem nutrientes de maneira equilibrada, acompanhando a demanda nutricional da planta e ajustando-se melhor à sua capacidade de absorção. Com relação a este fato, soma-se também a redução de perdas do nutriente (especialmente N) por transformações que rotineiramente acontecem no solo, como a lixiviação, volatilização e desnitrificação.
Os FLL também permitem uma economia de mão de obra, já que a aplicação pode ser feita em apenas uma etapa, suprimindo-se as adubações de cobertura. Outro detalhe seria que dada a liberação lenta de nutrientes, em tese, o nível de salinidade da solução do solo se manteria baixo, especialmente se comparado a fertilizantes solúveis convencionais.
Na cenoura
Esse tipo de adubação torna o plantio de cenoura mais prático pelo fato de que uma simples adição do fertilizante, no momento do semeio, pode suprir a demanda nutricional da planta durante todo seu ciclo, e também por diminuir o gasto com mão de obra e equipamentos, tornando desnecessárias adubações de cobertura.
Além disso, há economia de tempo e mão de obra. A disponibilização controlada de nutrientes também mantém baixo o nível de salinidade da solução de solo. Também permite à planta absorver os nutrientes de maneira mais equilibrada, evitando assim um acúmulo excessivo deste nutriente no solo.
Opções
São vários os tipos de fertilizantes de liberação lenta encontrados no mercado. A escolha deve atender a necessidade nutricional da cenoura (atestado pela análise de solo, pelo histórico de produtividade da área, pela escolha da cultivar/híbrido, por análises suplementares, etc.).
A seleção do produto certo passa, também, pelas condições de solo, de clima local, pelo sistema de cultivo, pelos equipamentos disponíveis, pela infraestrutura, etc. No caso do N, que é o mais comum, deve-se atentar também em relação ao seu mecanismo de perda específica. Em suma, a escolha deve passar por um crivo técnico feito pelo responsável pelo cultivo de cenoura.
Custo
Trabalho realizado pela Embrapa Hortaliças mostrou que são necessárias cerca de 313,5 caixas de cenoura para o pagamento de custos com adubos e corretivos convencionais em um hectare. Com relação aos fertilizantes de liberação lenta contendo N, estudos preliminares mostram que a produtividade das culturas é mantida usando-se ao redor de 70 a 80% da dose de N, via FLL, em relação à dose dos produtos comumente usados.
É fato que os FLL são mais caros, e sua viabilidade econômica só poderá ser comprovada caso a caso, de acordo com as variáveis locais de preço da cenoura, disponibilidade do produto, forma de aplicação, entre outros.