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Carlos Lásaro Pereira de Melo
Pesquisador na área de Genética e Melhoramento Vegetal da Embrapa Soja
O programa de melhoramento de soja da Embrapa, que atua no Brasil, tem como principal objetivo o desenvolvimento de novos cultivares, mais produtivos e estáveis, atendendo aos mais diferentes sistemas de produção adotados pelos produtores.
Vários cultivares, tanto da Embrapa quanto de outras empresas obtentoras, estão disponíveis para uso nas diferentes regiões produtoras de soja. O lançamento de novos cultivares segue requisitos rigorosos de garantia de ganho em produtividade, homogeneidade, distinguibilidade e estabilidade de características agro morfológicas, exigidos pelo MAPA para o registro e proteção da novidade.
Dentre os requisitos, deve-se comprovar de forma técnico-científica que o novo cultivar apresenta média de produtividade igual ou, de preferência, acima dos cultivares mais produtivos adotados na região.
No caso de igualdade de produtividade, o obtentor precisa comprovar que a novidade apresenta outro diferencial importante para o sistema, como, por exemplo, resistência a uma determinada doença ou nematoide.
Neste contexto, o programa de melhoramento de soja da Embrapa segue à risca tais exigências, buscando, na medida do possível, agregar características de resistência à maioria das doenças ou nematoides que possam acometer a cultura.
Dessa forma, atualmente os produtores contam com três diferentes novidades tecnológicas desenvolvidas para o mercado – a soja convencional (não transgênica), a soja RR1 (transgênica, tolerante ao glifosato) e a soja Bt/RR2 (transgênica, tolerante ao glifosato e resistente a algumas espécies de lagartas).
Tendências
Na maioria das regiões produtoras, devido à forte demanda pela segunda safra e manejo da ferrugem asiática da soja, houve uma tendência de desenvolvimento de cultivares de soja mais precoces nas últimas cinco safras agrícolas.
Esta precocidade, de forma isolada, não era suficiente, pois o produtor necessitava semear a lavoura antecipadamente, diferente do que era praticado anteriormente, e isso foi conseguido com maior êxito com o desenvolvimento de cultivares com tipo de crescimento indeterminado (TCI).
Assim, a precocidade, juntamente com o TCI, tem sido uma forte tendência de novos cultivares lançados no mercado, principalmente na região Centro-Sul do país, ampliando sua demanda para a região Central-Norte. Aliado a isso, cultivares com folhas mais estreitas também têm sido mais demandadas, pois segundo os produtores e assistência técnica, tem facilitado o manejo químico de doenças e pragas.
Cabe ressaltar que cultivares com TCI não são sinônimo de maior produtividade ou estabilidade produtiva; os cultivares com tipo de crescimento determinado (TCD) possuem potenciais produtivos tão bons quanto os de TCI, se semeados na época preferencial para cada região. Cabe ao produtor, com o apoio da pesquisa e assistência técnica, avaliar quais cultivares atenderão melhor ao sistema adotado por ele.
Potencial produtivo
A média produtiva da soja no Brasil, na última safra (2013/14), segundo a CONAB, foi de 2.842 kg/ha, ainda abaixo de 50 sacas/ha. Já o potencial médio produtivo da soja no Brasil pode ser acima de 90 sacas/ha, em condições climáticas, manejo e fertilidade de solo, além de tratos culturais favoráveis ao pleno desenvolvimento da cultura.
A genética dos cultivares tem forte influência na obtenção de maiores ganhos de produtividades, sendo um dos principais fatores a ser considerado na escolha dos produtores. Os produtores realizando a escolha correta de quais cultivares utilizar em suas lavouras poderão minimizar os riscos inerentes às variações do clima e, consequentemente, incrementar a média produtiva do país.
Médias
Em condições de dependência das variações climáticas nas diferentes regiões produtoras de soja, as melhores médias produtivas são obtidas em regiões com temperaturas, precipitações e luminosidade mais favoráveis à cultura.
De maneira geral, tais condições são observadas de forma mais estável no estado de Mato Grosso, o principal produtor de soja do país, atingindo médias produtivas acima de 50 sacas/ha desde a safra 2007/08, conforme levantamento da CONAB.
Estas médias produtivas têm sido obtidas de forma semelhante nos estados de Rondônia (RO) e Distrito Federal (DF). Neste último caso, é importante salientar que a região do DF e seu entorno apresenta uma das maiores áreas irrigáveis do país, no sistema de pivô central, sendo uma prática interessante para aumentar os ganhos de produtividade em condições adversas do clima, principalmente em períodos de déficit hídrico.