A produtividade de um cultivo agrícola depende de diversos fatores, como variedade, solo, clima, irrigação, técnicas de cultivo, adubação, manejo de pragas etc. As pragas são fatores limitantes do rendimento, impedindo que a planta expresse todo o seu potencial genético.
Estimativas conservadoras indicam que as pragas são responsáveis por cerca se 42% dos danos que ocorrem na produção vegetal. Se conseguÃssemos controlar totalmente apenas as doenças, já terÃamos um aumento de 13% na produção.
Existem cerca de 40 diferentes medidas que podem ser utilizadas, simultaneamente ou em sequência, para se reduzir os danos causados pelas doenças causadas por fungos, bactérias, vírus, nematoides etc.
Essas medidas podem ser incluÃdas em métodos genéticos, biológicos, culturais, físicos e químicos. O método químico se baseia, principalmente, na utilização de fungicidas. A maior parte das medidas são preventivas. Depois que uma doença se estabelece, a principal medida de controle é a utilização de fungicidas.
Na maioria das culturas o controle químico é um dos mais utilizados por sua eficiência e praticidade. Entre os cultivos de maior importância no Brasil, a cana-de-açúcar é uma exceção: os fungicidas são muito pouco utilizados.
As doenças são manejadas, principalmente, empregando-se variedades resistentes, obtidas pelo melhoramento genético. Este procedimento tem sido suficiente para garantir o cultivo satisfatório em cerca de nove milhões de hectares no Brasil, proporcionando a produção de cerca de 642 milhões de toneladas.
Entretanto, essa produtividade, de pouco mais de 70 ton/ha, é baixa. A cultura da cana precisa continuar incorporando novas tecnologias para ser sustentável. Já foram obtidos avanços expressivos na utilização da vinhaça, na colheita da cana sem queimadas, na valorização da palhada e do bagaço etc.
Novidade
Está sendo desenvolvido o plantio de mudas no lugar de toletes. Além de ser tradicional matéria-prima para a indústria de alimentos (açúcar, rapadura, aguardente), também é importante para a produção de etanol, combustÃvel renovável e pouco poluente, e, mais recentemente, de biomassa para a produção de energia.
Agora está no momento de se validar a utilização de fungicidas na cultura da cana no Brasil. Com a introdução do agente causal da ferrugem alaranjada, o fungo Puccinia kuehnii, em 2009, diversas variedades com boas características agronômicas estão sendo questionadas por permitirem a ocorrência da ferrugem.
São cerca de 1,3 milhão de ha (15% da área
cultivada) com ocorrência da ferrugem alaranjada nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e Minas Gerais. Estimativas preliminares indicam danos de 20% causados por esta doença. Trata-se de oportunidade de se incorporar, a exemplo do que ocorre nas culturas de soja, milho, algodão, trigo, feijão, arroz, batata, tomate etc., outras alternativas de manejo, seguindo o que preconiza o MIP: Manejo Integrado de Pragas.
Fungicidas
Já existem fungicidas registrados no Brasil para o manejo da ferrugem alaranjada. Como se trata de uma mudança na cultura dos produtores e consultores/técnicos não familiarizados com a aplicação de fungicidas foliares, o assunto tem que ser mais discutido e estudado.
Diversos experimentos têm demonstrado os efeitos positivos da aplicação de fungicidas. Outros experimentos estão sendo instalados na presente safra. Há necessidade de se aprimorar a tecnologia de aplicação, seu melhor posicionamento durante o ciclo (momentos da aplicação, número de aplicações etc.), entre outros aspectos.
O necessário choque tecnológico na cana que deverá proporcionar aumentos expressivos de produtividade, essenciais para que a cultura supere a crise atual, exigirá tomadas de posição mais ousadas, rompendo o conservadorismo da atividade e incorporando inovações  que tenham mostrado, cientificamente, benefícios significativamente superiores aos custos destes novos procedimentos. A utilização racional de fungicidas foliares pode ser uma dessas mudanças necessárias.
Diretor financeiro do Conselho CientÃfico para Agricultura Sustentável (CCAS), vice-presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS), engenheiro agrônomo, mestre e doutor em Agronomia, pós-doutorado em Manejo de Pragas e Biotecnologia e professor da ESALQ/USP