Iniberto Hamerschmidt
Engenheiro agrônomo e coordenador Estadual de Olericultura do Instituto EMATER do Paraná
A cebola (Allium cepa L.) está sujeita a uma série de doenças que podem atacar as mais diversas partes da planta. Algumas delas podem causar grandes perdas, tornando-se fatores limitantes ao cultivo se medidas de controle adequadas não forem adotadas. A seguir serão listadas as principais doenças fúngicas da cultura.
Mancha-púrpura – Alternaria porri
Conhecida também como queima das pontas, crestamento ou pinta. Em todo o Brasil, é de grande importância econômica. As condições favoráveis para o seu desenvolvimento são umidade relativa de média a alta (70%) e temperaturas altas.
Os sintomas podem ser observados em folhas, hastes e bulbos. Inicialmente, observam-se manchas esbranquiçadas circulares, alongadas ou irregulares que aumentam de tamanho, com zonas concêntricas escuras e bordas púrpuras, com halo amarelado.
O patógeno sobrevive nos restos de cultura e ervas invasoras nativas e é disseminado principalmente pelo transporte de bulbos infectados ou pela chuva e ventos. Em condições extremas poderá haver infecções das sementes que causam severas perdas na fase de produção de mudas.
O uso de variedades resistentes é a medida mais eficiente no controle da doença, sendo indicadas aquelas com maior espessura da cutÃcula e depósito de cera nas folhas e hastes.
Em campos com histórico de incidência de A. porri, recomenda-se fazer rotação de culturas com espécies não-hospedeiras. Retirar os restos culturais do campo e queimá-los, ou fazer aração profunda para enterrá-los. Irrigar apenas quando necessário e evitar a irrigação por aspersão. Aplicar fungicidas preventivos periodicamente.
Míldio – Peronosporadestructor
A maioria das espécies do gênero Allium (cebolinha, alho-poró e outras) é afetada pelo fungo. Esta doença causa grandes prejuízos e os maiores riscos de epidemias ocorrem quando há períodos com temperaturas amenas (ao redor de 20ºC) e elevada umidade relativa (superior a 80%).
Propágulos do patógeno podem ser transportados em tecido vegetativo a longas distâncias. A intensidade do ataque de míldio tem sido associada a desequilíbrios nutricionais na cultura, principalmente no que se refere ao equilíbrio no fornecimento de fósforo e potássio.
O patógeno sobrevive nos restos culturais, nos bulbos utilizados no plantio e nas sementes. A disseminação é feita por meio de bulbos infectados, sementes, água e vento, por onde os esporângios do fungo vão a longas distâncias.
As condições climáticas favoráveis são temperaturas amenas e umidade relativa elevada, com presença de água de orvalho, de chuva ou de irrigação, na superfície das folhas.
Como medidas preventivas estão: a escolha de solos bem drenados, evitar áreas de baixadas onde se tem alta umidade do ar; utilizar bulbos e sementes sadias para plantio; eliminar os restos culturais e ajustar a densidade de plantio, que contribui para o controle da doença, assim como pulverizações com fungicidas registrados para a cebola.
Queima das pontas – Botrytissquamosa
É uma doença de grande importância para a cultura da cebola, também conhecida como “sapeca” em algumas regiões brasileiras. A doença é difícil de ser diagnosticada no campo, pois a seca das pontas das folhas da cebola pode ter diversas causas. O patógeno possui como agravante a capacidade de ser disseminado a longas distâncias.
O sintoma típico é a queima das pontas, que pode apresentar diversas outras causas. Em lesões no limbo foliar inicialmente aparecem pequenas manchas, ocorrendo, posteriormente, a morte progressiva dos ponteiros. Quando a doença ocorre na fase inicial de desenvolvimento da cultura, provoca redução no tamanho dos bulbos. Na inflorescência, afeta a produção de sementes. Os bulbos infectados ficam mais vulneráveis a outros patógenos.
A doença incide principalmente na pós-colheita, provocando uma podridão aquosa que se inicia no colo e avança gradualmente para a base, até apodrecer o bulbo completamente.
O fungo sobrevive nos restos de colheita na forma de micélio e escleródios no solo e em bulbos. Cultivos mais velhos próximos aos novos são grandes fontes de inóculo. Sua disseminação ocorre por meio de respingos de chuvas, ventos e bulbos infectados. As condições climáticas favoráveis são temperaturas amenas e umidade relativa do ar elevada.
O uso de fungicidas no campo tem se mostrado pouco eficiente, e apenas as cultivares de bulbo roxo (presença de antocianina, flavonas, catecol e ácido protocatecóico) apresentam certo grau de resistência a B. cinerea (ÖZER e KÖYCÃœ, 2004).
Portanto, deve ser adotado um conjunto de medidas para o controle da doença, como o uso de sementes limpas e devidamente tratadas com fungicidas sistêmicos; evitar plantio em épocas propÃcias (chuvas e UR do ar elevada); ajustar a densidade de plantio para períodos úmidos; limitar o manuseio da plantação ao mÃnimo, visando evitar a ocorrência de danos mecânicos, que se constituem na entrada para o fungo.
Os restos de cultura devem ser retirados do campo e queimados ou enterrados com aração profunda, e finalmente feitas pulverizações com produtos registrados para a doença.
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