Rodrigo da Silveira Campos
Engenheiro agrônomo e analista da Embrapa
Não há, até o momento, uma linha de pesquisa embasada e difundida que demonstre os aminoácidos como vantajosos para a aplicação de defensivos.No entanto, eles são vistos como precursores importantes de moléculas que formarão barreiras químicas e fisiológicas. Nesses casos, as plantas possuem naturalmente moléculas e proteínas capazes de impedir o desenvolvimento de doenças ou mesmo repelir a ação de insetos-praga.
Muitas vezes essas moléculas protetoras não estão presentes antes das plantas serem infectadas por doenças ou atacadas por pragas. No entanto, em uma incrÃvel dinâmica de adaptação, é desencadeado um complexo mecanismo de defesa conhecido como resistência sistêmica (RS).
A literatura científica cita várias formas de resistência sistêmica, entre as quais se destaca a Resistência Sistêmica Adquirida (RSA), um mecanismo de defesa induzida que permite à planta proteção contra um amplo espectro de patógenos.
Quando ocorre uma lesão, seja por uma praga ou infecção por um patógeno, há uma reação de hipersensibilidade e consequente produção de proteínas e moléculas sinalizadoras, as quais desencadeiam uma sequência de eventos que protegerão o tecido lesionado, ou mesmo a planta como um todo.
Os elicitores
As moléculas e proteínas produzidas pela planta e que iniciam o processo de RSA são denominadas de elicitores,importantes agentes nos eventos responsáveis pela defesa das plantas contra as situações adversas que prejudicam seu desenvolvimento e mesmo a sua viabilidade.
Notavelmente complexa, as reações químicas envolvidas na resistência das plantas não estão completamente desvendadas. Inúmeros processos fisiológicos e genômicos são responsáveis pela produção dos elicitores. De igual maneira, independentemente do tipo do estresse provocado, a forma com que as células identificam o tipo de estresse sofrido está sendo desvendada apenas com tecnologias genômicas recentes.
Quando começam a ser expressas, as moléculas responsáveis pela resistência da planta desencadeiam todo um processo relacionado ao seu metabolismo secundário e ativam um mecanismo latente que protegerá as plantas dos estresses a que estão submetidas.
Já foi demonstrado, em alguns casos, que esses podem ser eventos específicos capazes de identificar o patógeno e produzir, entre outras, moléculas específicas para o controle deste.Por isso, ao ser discutido que os aminoácidos são benéficos para a absorção de defensivos, na verdade está sendo comentada sua importância como um precursor que auxiliará nas defesas naturais das plantas.
Aminoácidos x defensivos
Aminoácidos e defensivos agrícolas possuem funções distintas. O uso de um não afeta diretamente a ação do outro.Por exemplo, ao se usar produtos com princÃpio ativo do glifosato estes não terão seu efeito inibido por se usar aminoácidos. Esse é um exemplo clássico, já que esse defensivo inibe a produção de aminoácidos essenciais para o desenvolvimento da planta (rota de síntese dos aminoácidos aromáticos), sendo eles o triptofano, a fenilalanina e a tirosina.
Lembrando que aqui o termo aromático é químico, ou seja, em palavras muito simples, são partes de uma molécula que possui uma função quÃmica específica.No entanto, ao olharmos para uma estratégia de adubação quÃmica, adicionar aminoácidos auxiliará muito no desenvolvimento da planta. Dessa forma, comparando os efeitos entre “defensivo“ e “adubo“, nota-se que o mesmo tem um efeito muito mais específico no segundo caso.
Absorção dos defensivos
É muito importante esclarecer que os aminoácidos não são vistos como “potencializadores“ de absorção de defensivos. A literatura técnico-científica hoje está muito focada, e cada vez mais expressiva no que se refere ao seu potencial para aumentar a absorção de nutrientes e alguns minerais, citando o caso específico do enxofre, um exemplo muito claro.
Em outros casos, facilitarão não a absorção de nutrientes, mas sim o seu transporte através da planta, ou mesmo o acúmulo de nitrogênio, como é o caso do aminoácido glutamina.
Sustentáveis
Os aminoácidos podem ser considerados amigos do meio ambiente. São moléculas orgânicas, naturais, que auxiliam tanto a planta como o solo. A presença de minerais e aminoácidos junto com a matéria orgânica mostra um efeito muito positivo junto à microbiota do solo, os quais disponibilizarão, por exemplo, minerais complexados no solo.
Várias empresas trabalham junto aos agricultores com produtos que melhoram a qualidade do solo com matéria orgânica e microrganismos. Um solo fértil rico em matéria orgânica tem potencial de “abrigar“ inimigos naturais às pragas que geralmente são de difícil controle – os nematoides e fungos saprófitas, por exemplo.