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Diego Henriques Santos
Doutor em Agricultura e engenheiro agrônomo da Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo – CODASP
É bem conhecido que o uso continuado de glifosato em áreas de cultivo de soja ou doses elevadas deste herbicida pode provocar efeito fitotóxico à própria cultura, mesmo em cultivares de soja RR.
Entretanto, evidências experimentais têm demonstrado que o uso de aminoácidos via tratamento de sementes associado à aplicação foliar pode ser uma estratégia para prevenir este efeito negativo na planta.
Glifosato na cultura da soja
As plantas daninhas constituem um dos principais componentes bióticos do agroecossistema da soja e, quando não manejadas, afetam negativamente o desenvolvimento da cultura, geralmente causando redução na produtividade de grãos.
Além disso, competem com a cultura pelos recursos do meio, principalmente água, luz e nutrientes, liberando substâncias alelopáticas prejudiciais, atuando como hospedeiras de pragas e doenças comuns à cultura e interferindo nas práticas de colheita.
Embora haja mecanismo de resistência, há relatos de agricultores sobre o possível feito do glifosato afetando negativamente o desenvolvimento inicial das plantas de soja, para a qual esse produto é recomendado.
Os aminoácidos
Os aminoácidos são ácidos orgânicos que possuem em sua molécula um carbono central ligado a um grupamento carboxila, um grupamento amina e um átomo de hidrogênio. Além destas três estruturas, os aminoácidos apresentam um radical conhecido como “R“, que os diferencia.
Sua principal função é como constituinte de proteínas, bem como precursor de inúmeras substâncias reguladoras do metabolismo vegetal, além de funcionar como ativadores de metabolismos fisiológicos.
O glifosato inibe a 5-enolpiruvil-shiquimato-3-fosfato sintase (EPSPs), uma enzima da rota do shiquimato, que leva à síntese dos aminoácidos aromáticos tirosina, fenilalanina e triptofano, importantes para a formação de inúmeros compostos na planta, sendo os principais os flavonoides e a lignina.
O efeito fitotóxico do glifosato
Os herbicidas agem no metabolismo dos aminoácidos. Logo, o suprimento exógeno de aminoácidos pode reduzir a inibição do crescimento em plantas atingidas por eles. Quando da absorção dos aminoácidos exógenos, temos a consequente entrada de carbono no sistema-planta, que atua na recuperação dos efeitos provocados pelo glifosato por meio do aumento de taxa fotossintética e da conversão de fotoassimilados.
Resultados de campo
Trabalhos têm demonstrado resultados positivos do uso de aminoácidos para a cultura da soja e demais leguminosas, bem como para a cultura do milho. Isso porque, no campo, o sintoma típico observado após a aplicação do glifosato é o amarelecimento das folhas superiores da soja.
Esse sintoma tem ocorrido em áreas com adequada ou até alta fertilidade, como os latossolosvermelhos eutroférricos, distribuídos pelas regiões norte e oeste do Paraná, e não somente em áreas com solos de baixa disponibilidade natural de micronutrientes, como os solos dos cerrados.
Esse sintoma indesejável na soja RR é atribuÃdo ao acúmulo de AMPA (ácido aminometilfosfônico), primeiro metabólito fitotóxico do glifosato e um dos responsáveis pela diminuição da biomassa seca da parte aérea e raiz e do teor de clorofila.
Cultivares precoces são mais suscetÃveis à aplicação do glifosato, com significativa redução no teor de clorofila, taxa fotossintética, concentração de nutrientes e biomassa seca da parte aérea e da raiz. Como os aminoácidos vão agir recuperando a planta dos efeitos provocados pelo glifosato por meio do aumento da taxa fotossintética e da conversão de fotoassimilados, temos como vantagem a melhor eficiência fotossintética e um melhor balanço nutricional, elevando a qualidade e a produtividade dos grãos produzidos.
Na prática
No campo os agricultores atestam a eficiência do uso de aminoácidos. Já as pesquisas com herbicidas que agem no metabolismo de aminoácidos também demonstram que o suprimento exógeno de aminoácidos pode reduzir a inibição do crescimento em plantas atingidas por eles, como dito anteriormente.
Os resultados demonstram que a adição de valina e isoleucina a herbicidas inibidores da acetolactatosintase (ALS) reverte completamente a inibição do crescimento de raízes de ervilha e das plantas de milho.
Em trabalhos recentes realizados pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), os autores concluÃram que as variáveis fotossintéticas e a biomassa seca da parte aérea e da raiz são afetadas pela aplicação do glifosato, e que, de modo geral, o uso de aminoácidos exógenos pode ser uma estratégia para prevenir os efeitos indesejáveis destes herbicidas na cultura da soja RR.