Antônio Carlos Vargas Motta
Professor do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola ““ Universidade Federal do Paraná(UFPR)
Cleiton Frigo
Engenheiro agrônomo e mestrando em Ciências do Solo – UFPR
Os solos do Brasil são, em sua maioria, naturalmente ácidos e com baixa fertilidade, sendo necessário aplicações regulares de fertilizantes e corretivos. Segundo dados do IMEA, na safra de soja 2017/18 as despesas com fertilizantes e corretivos agrícolas representam em torno de 40% do total de despesas com custeio da lavoura.
Desta forma, para que a lavoura seja rentável economicamente, o agricultor precisa ser assertivo em suas decisões relacionadas ao uso de insumo. A análise de solo serve como base para a recomendação do fertilizante, corretivos agrícolas e suas respectivas quantidades, para que o produtor não tenha perdas produtivas em sua lavoura, tanto por falta como por excessos.
A importância da análise de solo em uma lavoura é tamanha que se compara a um “checkup“ realizado pelo produtor em uma consulta médica, em que o médico solicita um exame clÃnico, da mesma forma que um engenheiro agrônomo pede uma análise quÃmica do solo.
Ao avaliar os exames, o médico identifica quais são os problemas que afetam a saúde do produtor, enquanto o engenheiro agrônomo identifica, com a análise de solo, quais os parâmetros químicos estão interferindo na fertilidade do solo (saúde do solo).
Para corrigir tal enfermidade, o médico receita uma série de fármacos que proporcionarão ao produtor uma melhora ao seu estado de saúde, enquanto que o engenheiro agrônomo irá recomendar a devida quantidade de fertilizante e corretivosagrícolas necessária para melhorar a fertilidade do solo e, consequentemente, aumentar a produtividade da lavoura.
Essencialidade
A análise de solo é fundamental para determinação do grau de suficiência ou deficiência de nutrientes no solo, ou condições adversas, como níveis de acidez e salinidade elevados, fatores que prejudicam o desenvolvimento das plantas.
A análise quÃmica determina os teores disponíveis de nutrientes, como Ca (cálcio), Mg (magnésio), K (potássio), P (fósforo), nível do pH, valores de SB (soma de bases), CTC (capacidade de troca de cátions), Al tóxico e m% (saturação por alumÃnio), teor de matéria orgânica, dentre outros parâmetros, que combinados com informações do histórico da cultura, sistema de produção e análise física do solo (% de areia, silte e argila), permitem o desenvolvimento de um programa de adubação e calagem coerente com a cada cultura.
pH
Para fins práticos, em se tratando de solos brasileiros, a faixa ideal é que os solos sejam levemente ácidos, pH em água entre 5,5 a 6,0 ou pH CaCl2 0,01,e M entre 4,9 a 5,4.
O principal problema do pH com valores menores que 5,5 em água ou 4,9 em CaCl2 0,01 M, é o surgimento de Al3+, que causa toxidez às plantas e ocupa as cargas das argilas, impedindo os cátions essenciais, como Ca, Mg, K a permanecerem no sistema.
Com pH de 5,5 ou 4,9, todo Al3+ do sistema é neutralizado, formando hidróxidos Al(OH)30 e juntando-se a uma quantidade muito grande de Al que se encontra nesta forma não tóxica no solo. Ao mesmo tempo, sua saÃda abre espaço nas cargas negativas do solo (CTC) para ser ocupado por Ca, Mg, K e outros.
O valor do pH reportado na análise de solo é essencial para a prática da calagem, que visa neutralizar o Al3+ tóxico às plantas, elevar a saturação de bases, adicionar Ca e Mg e corrigir a acidez do solo. A redução da acidez do solo promove o aumento da disponibilidade de P e Mo (molibdênio) e diminui a disponibilidade de micronutrientes, como Mn (manganês), Fe (ferro), Zn (zinco), Cu (cobre) e B (boro).
Sem erros
Quando o produtor não conhece as características químicas do solo de sua propriedade, por não ter realizado a análise do solo, é grande a possibilidade do uso em excesso da calagem, a qual eleva o pH a níveis acima de 7,0, sendo que a disponibilidade destes elementos para a planta fica comprometida, causando deficiência de alguns micronutrientes, como Mn, Fe, Zn, B e Cu, acarretando em gastos elevados para corrigir tal deficiência.
O equilíbrio entre a quantidade de nutriente disponível no solo e a quantidadeextraÃdapelaplantaéessencialparaalcançaro potencial produtivo da cultura e maximizar os lucros da lavoura. Para que isso ocorra, a análise de solo é fundamental, pois irá nortear o produtor na escolha do fertilizante, baseado nos níveis nutricionais do solo.
Um exemplo práticoé quando o produtor utiliza uma área com níveis baixos de P e médio de K. Neste caso, os níveis de P devem ser corrigidos utilizando elevadas quantidades de fertilizante fosfatados, como por exemplo, o formulado 4-30-10, suprindo assim a demanda da cultura e aumentando o nível de P no solo.
Porém, à medida que os níveis de P aumentam, a produtividade também se eleva, e a exigência nutricional da planta pelo K e demais nutrientes é maior, exigindo do produtor a mudança do formulado e da quantidade aplicada para atender à demanda da planta em K, como por exemplo, mudando para o formulado 4-15-20.