Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, BioquÃmica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)
O emprego das algas marinhas na agricultura é muito antigo. Entretanto, apenas ao final dos anos 1940 começaram a serem comercializadas como bioestimulantes e fertilizantes. Há diversas espécies com potencial para emprego como fonte de nutrientes e estimulantes naturais, sendo a Ascophyllum nodosum a mais estudada e empregada.
Porém, outras algas, como a Laminariaspp, que se destaca por propiciar aumento de resistência de plantas às doenças, Eckloniamaxima, Sargassum spp.e Durvillaea spp., as algas verdes Enteromorphaintestinalis e Ulva lactuca (também chamada de alface do mar) e a alga vermelha Kappaphycusalvarezii se apresentam com grande potencial de uso agrícola.
Podem ser aplicadas nos cultivos via semente, via solo, em fertirrigação ou parte aérea da planta (pulverização). São inúmeros os benefícios que se pode alcançar com a introdução das algas marinhas às lavouras, tais quais: aumento de vigor das plantas, do desenvolvimento radicular e da síntese de clorofila; promoção de florescimento precoce, frutificação e uniformidade dos frutos; retardamentoda senescência, prolongamentoda vida útil do produto; melhora da qualidade nutricional; tolerância ao estresse hídrico, salinidade e geada; resistência às bactérias e fungos; auxilia no controle de pragas,insetos e nematoides do solo; possui ação adjuvante em misturas de pesticidas.
Entenda melhor
Mas, qual a razão dos possÃveis benefícios que a inclusão das algas marinhas nas lavouras pode propiciar? As algas são ricas em macro e micronutrientes, vitaminas, glicoproteínas, como o alginato, aminoácidos, que podem funcionar como bioestimulantes vegetais, e ainda estimulantes naturais, como: auxinas (hormônios do crescimento que governam a divisão celular), giberelina (que induz floração e alongamento celular) e citocininas (hormônio da juventude, do retardamento da senescência).
Então, a introdução de produtos compostos por extratos de algas no processo produtivo, além de contribuÃrem com nutrientes, promove o estímulo da divisão celular, o que favorece a formação das raízes propiciando, assim, o melhor aproveitamento da água e dos nutrientes.
Em acréscimo, compostos presentes nas algas estimulam a formação da clorofila e, assim, a própria fotossíntese, que é a fonte de toda a estrutura da planta. A partir dos açúcares formados na fotossíntese se originam todos os demais componentes das plantas (proteínas, óleos, etc.).
Também, substâncias presentes nas algas marinhas beneficiam o Ciclo de Krebs, que é o centro do metabolismo vegetal: fonte de intermediários para a formação de aminoácidos que formarão as proteínas e, também, dos ácidos graxos que integrarão os óleos e demais lipÃdeos importantes na vida vegetal, por exemplo.
Assim, há um potencial especial para aplicações de formulados com extratos de algas na agricultura.
Para a citricultura
Especificamente em citros, pode-se considerar que bons resultados têm sido encontrados em pesquisas que demonstram que o emprego de produtos com algas marinhas em mudas de citros proporcionam benefícios no enraizamento e na formação da parte aérea.
No plantio em campo, podem melhorar o enraizamento e o pegamento das mudas. Em plantas em formação, a inclusão de produtos com algas pode beneficiar o enfolhamento e a resistência aos agentes externos, como déficit hídrico e ataques de pragas e doenças.
Em pomares cÃtricos em produção, o uso de formulados com algas pode induzir a floração, diminuir abortos (melhorar o pegamento de frutos), aumentar o tamanho e o teor de açúcar dos frutos e homogeneizar a maturação. Ainda, pode antecipar a colheita.
A introdução de formulados com algas marinhas pode contribuir para a maior produção e de melhor qualidade. Porém, é importante destacar a época, doses e como aplicar, que são aspectos fundamentais para o êxito da prática.
Qual escolher?
Existem muitos produtos compostos de algas marinhas. Então, é fundamental conhecer resultados de ensaios de pesquisa com o formulado indicado pelo especialista e em que condições foram feitos os estudos.
Quando o objetivo é a indução de floração, há prescrições de aplicar o produto em pré-florada (visando estimular a brotação, visto que a floração vai causar estresse nas plantas) e na fase de frutificação, quando o balanço hormonal das algas favorece a absorção de nutrientes e o estabelecimento dos frutos jovens.
Uma das possibilidades seria pulverizar em pré-florada e nas fases de fruto chumbinho e fruto ping-pong. Ainda se recomenda uma pulverização pós-colheita (para diminuir o estresse e melhorar a vegetação). As doses e volumes de calda variam com o formulado a adotar.