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Alessandra Marieli Vacari
Sergio Antonio de Bortoli
Laboratório de Biologia e Criação de Insetos (LBCI), departamento de Fitossanidade, FCAV-UNESP
A traça-das-crucíferas, Plutella xylostella (L.) (Lepidoptera: Plutellidae), é uma das mais sérias pragas de Brassicaceae cultivadas no mundo. Esta praga, especialista em crucíferas, está presente em todo o mundo onde encontram-se suas plantas hospedeiras.
No primeiro Ãnstar as larvas penetram no parênquima foliar, alimentando-se entre a superfície superior e inferior das folhas, formando “minas“. No segundo Ãnstar as larvas saem das minas, sendo que nesta fase e no terceiro Ãnstar elas se alimentam das folhas destruindo o tecido foliar, preservando a epiderme superior, formando, assim, “janelas“ transparentes nas folhas.
Larvas de quarto Ãnstar se alimentam de ambos os lados das folhas fazendo orifÃcios nos locais de alimentação. Este inseto tem um ciclo de vida curto, em torno de 18 dias, e sua população pode aumentar até 60 vezes de uma geração para outra.
Estudos indicam que as mariposas podem permanecer em voo contÃnuo por vários dias, podendo percorrer distâncias de até 1.000 km por dia. Como as mariposas sobrevivem às baixas temperaturas e às altas altitudes não se sabe ao certo.
Resistência
P. xylostella foi o primeiro inseto praga no qual foi relatada população resistente ao dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), apenas três anos após o início da sua utilização, sendo demonstrado subsequentemente resistência significativa a quase todos os inseticidas aplicados no campo, incluindo compostos químicos de descoberta mais recente.
Além disso, essa praga está entre os primeiros insetos a desenvolver resistência no campo a inseticidas à base de Bacillus thuringiensis Berliner. No Brasil, Castelo Branco et al. (2003) registraram populações resistentes dessa praga em ambientes onde B. thuringiensis foi comumente utilizado como bioinseticida.
Tal fato aumentou os esforços mundiais para desenvolver programas de Manejo Integrado de Pragas (MIP) para P. xylostella, baseado principalmente em novas táticas de manejo que ainda não são rotineiramente usadas no campo.
Controle biológico
De maneira simplificada, o controle biológico pode ser definido como a utilização de um tipo de organismo para reduzir a densidade da população de outro. Os seguintes tipos de controle biológico podem ser relatados: controle biológico natural (conservação), clássico (inoculativo) e aplicado (aumentativo ou inundativo).
O controle biológico natural consiste na redução de organismos prejudiciais por seus inimigos naturais, ocorrendo desde a evolução dos primeiros ecossistemas terrestres, há 500 milhões de anos.
O controle biológico por conservação é baseado em ações humanas que protegem e estimulam o desempenho dos inimigos que ocorrem naturalmente nos agroecossistemas, enquanto no controle biológico clássico, inimigos naturais são coletados em uma área de exploração (geralmente a área de origem da praga) e em seguida são liberados em novas áreas onde a praga foi introduzida, muitas vezes acidentalmente.
No controle biológico aplicado, inimigos naturais são criados em laboratórios (“biofábricas“) e liberados em grandes quantidades no campo, visando obter o controle imediato de pragas.
Bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis
A ocorrência de populações de P. xylostella resistentes a certos ingredientes ativos utilizados como inseticidas sintéticos e biológicos causou um aumento considerável na investigação dirigida para o desenvolvimento de táticas de Manejo Integrado de Pragas com base em parâmetros econômicos, sociais e ecológicos.
Estudos recentes sobre as estratégias de controle e redução de populações de P. xylostella com a utilização de microrganismos têm sido cada vez mais citados na comunidade científica, com ênfase para a bactéria entomopatogênica Bacillus thuringiensis Berliner.
Este entomopatógeno pode ser facilmente encontrado em diferentes ambientes, sendo caracterizado por uma variedade de isolados que podem produzir um ou mais cristais proteicos (Cry) e toxinas citolÃticas que têm atividade inseticida e determinam a sua eficácia no controle de certas pragas agrícolas.
Outro tipo de proteÃna inseticida que pode ser sintetizada por alguns isolados de B. thuringiensis é “Vegetative Insecticidal Proteins” (VIP), cuja atividade inseticida ocorre para diferentes espécies de insetos.
Uma longa história escrita por intensa investigação científica estabeleceu que o seu efeito tóxico é devido, principalmente, Ã sua capacidade para formar poros na membrana plasmática das células epiteliais do intestino médio dos insetos suscetÃveis.