Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, BioquÃmica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)
O uso de derivados de algas marinhas na agricultura, que se constitui em alternativa ecologicamente correta ao uso de fertilizantes e bioestimulantes, vem aumentando. Dados de literatura informam que 15 milhões de toneladas métricas de algas marinhas colhidas anualmente são empregadas nas lavouras.
Agora, como se explica o interesse crescente pelo emprego das algas marinhas na agricultura? É preciso lembrar que tais organismos contêm expressivas quantidades de macro e micronutrientes, betaÃnas, citocininas, auxinas, giberelinas e vitaminas que estimulam o desenvolvimento vegetal, destacando-se os efeitos nas etapas de enraizamento, floração e formação da produção.
Além de tais fatores, ressalta-se a influência importante que as algas têm na resistência a agentes externos: déficit hídrico, temperaturas desfavoráveis e atuação como desintoxicante. Atualmente, a utilização de extratos de algas vem ganhando popularidade devido ao seu potencial uso em agricultura orgânica e sustentável.
Tendência
 O atual interesse pela preservação do meio ambiente tem estimulado o desenvolvimento de métodos alternativos de controle de pragas e doenças. Os extratos de algas marinhas podem se enquadrar como uma das referidas alternativas – são organismos ricos em compostos bioativos.
Tais organismos são pouco empregados para o controle de doenças de plantas e poucos trabalhos se referem à atividade antifúngica. Ainda, as algas marinhas são fontes de antibióticos com ampla e eficiente atividade antibacteriana, porém, são poucos os estudos da ação sobre bactérias fitopatogênicas.
Àfrente das algas
Ascophyllum nodosum é uma das espécies de algas marinhas mais pesquisadas no mundo para fins agrícolas. Trata-se de uma fonte natural de macro e micronutrientes (N, P, K, Mg, S, B, Fe, Mn, Cu e Zn), e também de aminoácidos, citocininas, auxinas e ácido abscÃsico, substâncias que afetam o metabolismo celular das plantas e promovem o aumento do desenvolvimento e da produtividade vegetal.
Outras espécies de algas marinhas que vêm sendo empregadas na agricultura são as calcárias, com destaque para a Lithothamnium calcareum. Tais algas absorvem altas quantidades de cálcio e magnésio, formando carbonatos (calcário) que as sufocam e matam, e a seguir elas se fossilizam.
O calcário acaba depositado em forma granulada, recamando a plataforma, formando verdadeiras jazidas, com valor econômico, mas, ao mesmo tempo, são importantes para a sustentação de vários organismos, além de auxiliar na fixação do carbono, ajudando a reduzir emissões de gases do efeito estufa. Então, a exploração deve ser cuidadosa.
Na exploração comercial, o produto é retirado do fundo do mar do sedimento marinho, seco ao ar livre e triturado, peneirado e assim comercializado. Entretanto, outra possibilidade é promover, após a moagem, nova secagem a quente e pulverização a frio.
Devido à porosidade do material e às pequenas dimensões de suas partículas, o produto apresenta uma atividade muito intensa no solo, principalmente pela elevada superfície específica do material.
A Lithothamnium calcareum pode apresentar 46% de CaO, 4,2% de MgO, uma reatividade de 99% e um PRNT de 92,6% e rápida ação na liberação do cálcio e magnésio e na correção da acidez e no condicionamento do solo.
Ainda, tais organismos são ricos em outros nutrientes de plantas e de bioestimulantes naturais. Levam consigo, também, uma rica fauna marinha que muito vai contribuir para a vida microbiológica do solo agindo, inclusive, na decomposição da matéria orgânica. São algas com habitat em mar aberto e em profundidades de até 30 metros.
Outras algas
Derivados de outras espécies de algas, além das já referidas, podem ser empregadas na agricultura. Assim, produtos à base da alga parda Eckloniamaxima têm se mostrado como alternativa no controle de problemas fitossanitários. Da alga marrom Laminaria digitata se extrai o polissacarÃdeo laminarina, que é capaz de elicitar respostas de defesa das plantas.
Para as folhosas
Especificamente em hortaliças folhosas, resultados de estudos experimentais têm mostrado a possibilidade de inclusão de formulados à base de algas marinhas. Em alface, o uso em canteiros e a céu aberto, de 2 L.ha-1 de produto comercial composto de extrato de alga Laminaria, aos 14 e 30 dias após o transplante das mudas, promoveram aumentos ao redor de 20% em massa verde da parte aérea, 15% de massa verde de raízes e 14% de comprimento de raízes.
Outros trabalhos revelaram que o uso de produto comercial do extrato de Ascophyllumnodosum beneficiou a produtividade de alface cv. Elba. A pulverização de 75 g.100 L-1 do extrato ou a aplicação no solo de 750 g.ha-1 aumentou em 55,11 e 58,14%, respectivamente, a produtividade (massa fresca).
Também há relatos de aumentos no número de folhas (16,6%) e massa fresca (24,3%) e seca (24,6%) da parte aérea de alface crespa “˜Vera’ tratada com extratos de algas marinhas do gênero Sargassum e Laminaria, quando aplicados na dose de 2 L.ha-1 via foliar aos 14 e 21 dias após o transplante.
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