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Felipe Augusto Moretti Ferreira Pinto
Doutorando em Agronomia/Fitopatologia na Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Os produtos biológicos para controle de doenças de plantas visam atender a uma demanda presente no mercado, já que os consumidores anseiam por alimentos com menos resíduos de agrotóxicos e com menor impacto ambiental na produção. Produtos biológicos são produzidos tendo como ingrediente ativo um microrganismo e/ou metabólitos produzidos por microrganismos que possuem eficácia no controle de doenças de planta.
A principal função destes produtos é exercer o controle do patógeno alvo, porém, suas funções na agricultura não se limitam a isso, sendo que em muitos casos estes produtos induzem as plantas a se desenvolverem com maior rapidez. Além disso, eles têm a capacidade de produzir metabólicos que auxiliam o desenvolvimento do sistema radicular das plantas, favorecendo a absorção dos nutrientes, e permitindo assim que a planta saia da janela de susceptibilidade a alguma doença.
Os produtos biológicos também exercem um controle de forma indireta, ou conferem maior resistência das plantas a estresses abióticos, como por exemplo, a restrição hÃdrica. Além disso, tais produtos podem ter a capacidade de indução de resistência sistêmica na planta, favorecendo assim a resistência a doenças mesmo em partes da planta em que o agente biocontrolador não esteja presente.
Opções
No Brasil, encontram-se registrados 10 produtos para controle biológico de doenças de plantas, sendo nove fungicidas microbiológicos, possuindo como ingrediente ativo:Aspergillusflavus NRLL 21882, Bacilluspumilus, Bacillussubtilislinhagem QST713, Trichodermaasperellum, Trichodermaharzianum e Trichodermastromaticum.
Tais produtos são registrados para o controle de fitopatógenos, como Alternariasolani, Colletotrichumlindemuthianum, Botrytiscinerea, Rhizoctoniasolani, Fusariumsolanif.sp. phaseoli, Sclerotiniasclerotiorum, entre outros patógenos, em diversas culturas, como batata, feijão, soja, algodão, maçã, cebola, morango, e um nematicida microbiológico, para controle de Meloidogyneincognita em alface, que possui como ingrediente ativo Paecilomyceslilacinus.Porém, esse número de produtos biológicos tende a aumentar expressivamente, já que há demanda de mercado para seu maior uso.
Qual escolher?
A escolha do produto biológico a ser usado dependerá da doença que será foco do controle e da cultura em que será aplicado o produto. Em relação ao manejo desse tipo de produto, devem ser observados alguns cuidados a serem tomados durante a aplicação.
É recomendável o uso imediato dos produtos, e a aplicação deve ser feita nas horas mais frescas do dia. Estes produtos devem ser aplicados sem misturas com outros, o que pode causar a inibição do microrganismo benéfico. Além disso, em geral eles necessitam de cuidados maiores que os fungicidas, pois não suportam temperaturas superiores a 45ºC.
Portanto, o produtor deve cuidar para que este insumo agrícola seja acondicionado e aplicado em condições que lhes sejam favoráveis à sobrevivência. É Importante ressaltar que o sucesso do controle biológico depende das condições em que o produto é aplicado. Quanto mais favorável o ambiente, melhor será o seu desempenho em campo. A refrigeração é recomendada para períodos prolongados de armazenamento.
Prevenção é sempre melhor
O controle de patógenos de solo deve ser feito de forma preventiva, recuperando-se a estrutura do solo e recompondo a comunidade microbiana, fragilizada pela agricultura intensiva. Uma alternativa para recompor a comunidade microbiana presente no solo é a aplicação massal de agentes de controle biológico.
O controle químico de fitopatógenos habitantes do solo não se mostra eficiente, em muitos casos, deixando assim a população desses fitoptógenos em um nível maior do que o aceitável no solo, contribuindo para o inóculo inicial da doença no próximo ciclo de cultivo.
Outro ponto importante é que não há o problema de resistência em relação ao uso contÃnuo de um ingrediente ativo, como no caso de produtos químicos.Outro fator que deve ser considerado na escolha do uso de produtos biológicos é a indução de supressividade do solo, que consiste na manutenção e favorecimento dos antagonistas ali presentes.
No solo existe uma supressividade natural, contudo, após as práticas agrícolas esse equilíbrio encontra-se alterado. É possível induzir essa supressividade por meio de diversos métodos, como introdução de resíduos agrícolas, práticas culturais, rotação de culturas, manejo correto de irrigação, dentre outros.
Ademais, alguns agentes biocontroladores têm participação na decomposição da matéria orgânica e na recuperação de solos contaminados pelo uso indiscriminado de produtos químicos.