Alice de Sousa Cassetari
Engenheira agrônoma e doutoranda pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP)
De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO), em 2050 existirão no mundo nove bilhões de pessoas. Para suprir a demanda por alimentos, os países deverão investir aproximadamente US$ 44 bilhões por ano na produção agrícola, cinco vezes mais do que os US$ 7,9 bilhões investidos atualmente. Com isso, a produção de alimentos deverá crescer 60%, valor apontado como necessário para que se atenda a demanda.
A produção agrícola em grande parte do Brasil é realizada em larga escala, com uso de tecnologias de ponta, sendo responsável por grande parte da matéria-prima de produtos industrializados produzidos em todo o mundo. Entretanto, apesar da grande importância da agricultura, esse setor sofre grandes problemas fitossanitários, como o ataque de pragas e doenças.
Desde a Revolução Verde, o controle de pragas que infestavam as culturas agrícolas passou a ser feito por meio de inseticidas químicos, sendo que os insetos se destacam por causar grandes prejuízos às lavouras.
Desequilíbrio ambiental
A utilização descontrolada de produtos químicos pode levar a danos tanto para os trabalhadores agrícolas, que manuseiam esses produtos, como para o meio ambiente e para a saúde do consumidor.
Nesse sentido, a conscientização da população sobre o uso incorreto de produtos químicos e os danos causados ao ambiente levou à busca por novas tecnologias de controle de pragas. A principal alternativa é o controle biológico, que é uma técnica aplicada para a redução da população de uma espécie-alvo que tem potencial de provocar dano econômico e combater plantas daninhas, patógenos de plantas, nematoides, entre outros.
Controle biológico
O Bacillus thuringiensis tem sido uma ferramenta indispensável às lavouras de grãos, sobretudo no controle das principais lagartas que atacam a cultura. Além de ser um manejo ecológico e ambientalmente correto, sua eficiência vem sendo comprovada dia a dia entre os produtores rurais.
Como desvantagem principal, destaca-se a maior suscetibilidade às condições ambientais, o que pode ser atenuado com o uso de boas formulações e os estudos para aplicação dos produtos, a fim de torná-los mais resistentes às condições ambientais e com maior tempo de prateleira.
Estudos apontam que os agentes biológicos que possuem atividade entomopatogênica são altamente eficientes, como o Bacillus thuringiensis (Berliner). Essa é uma bactéria de ampla distribuição geográfica, de ocorrência natural, específica para controlar insetos e que tem sido usada como base de vários produtos comerciais.
Vantagens
O B. thuringiensis tem proporcionado algumas vantagens aos agricultores, tais como o uso específico no inseto-alvo, o efeito não poluente ao meio ambiente, a inocuidade a mamÃferos e vertebrados, assim como a ausência de toxicidade às plantas.
Essas bactérias estão associadas a um cristal proteico que contém endotoxinas. Tais toxinas causam disrupção e paralisia das células epiteliais do intestino médio (ventrÃculo) dos insetos, fazendo com que estes cessem a alimentação em poucas horas após a ingestão de alimentos contaminados pela bactéria.
Os produtos formulados a partir dessa bactéria apresentam baixa persistência no ambiente, o que, do ponto de vista ambiental, é muito vantajoso. São extremamente raros os casos de B. thuringiensis causando doenças em seres humanos.
Manejo
Para alcançar bons resultados com a aplicação de produtos contendo B. thuringiensis, o primeiro passo do controle biológico é o reconhecimento dos inimigos naturais da praga que está atacando a lavoura.