O Brasil continua sendo o maior produtor de café do mundo, assinalando a sua importância no mercado global. Mas, como a inovação é a marca forte da cafeicultura, as cápsulas surgem com uma proposta para os produtores que enxergam mais longe, e visam agregar valor ao seu produto final
Que a cápsula mudou o mundo do café todo mundo sabe. Mas, desde 2014, o que ela tem mudado de forma surpreendente é o mercado brasileiro, quando caiu a patente da fabricação de cápsulas para máquinas da Nespresso, há três anos, e começaram a surgir outras marcas de café em cápsula, cada qual com sabor mais diferenciado, somando, atualmente, mais de 70 marcas.
Claro que a forma tradicional de fazer café, com garrafa e filtro, ainda é a mais popular no Brasil, com cerca de 84% da preferência dos consumidores. Apenas 4% declaram preparar o produto em monodoses ou cápsulas, mas esse é um mercado que não para de crescer, segundo pesquisa realizada anualmente pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic).
Esta mesma pesquisa revela crescimento do setor de cápsulas, que deve aumentar três vezes de tamanho até 2019. Entre 2014 e 2019, o mercado brasileiro de café deverá crescer 7,7%, devido à ascensão das cápsulas, e gerar uma receita de R$ 20 bilhões.
Os dados da Abic também mostram que 44% do público responde que estariam dispostos ou muito dispostos a pagar a mais por um café de qualidade superior. Esses dados levam o setor a apostar na popularização do chamado café gourmet. “É uma expansão significativa, principalmente se você considera que o mercado de café total ficou estável nos últimos três anos“, afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic.
Cafeicultura brasileira
O Brasil é o maior produtor mundial de café, que segundo a CONAB terá uma safra total de 43,2 milhões de sacas produzidas nesta safra. Para a produção de café arábica, o grande destaque está no Estado de Minas Gerais, que possui diversas regiões produtoras desta bebida tão fascinante.
O Sul de Minas ainda é o maior produtor de café do Estado, sendo tradicional o cultivo do café arábica nessa região, apesar da dificuldade na mecanização e mão de obra, principalmente na época da colheita. Outra região de destaque é o Cerrado Mineiro, com a segunda maior produção do Estado.
“Como a tradição na cafeicultura é bem consolidada no Estado, temos ainda a região das Matas de Minas, Mantiqueira e em expansão o Norte do Estado, em regiões mais baixas. Fora de Minas, a produção de café arábica possui destaque na região da Alta Mogiana, em São Paulo, sendo esta uma região bem similar ao Sul de Minas, o Oeste da Bahia que presencia problemas climáticos graves para a cafeicultura, e o Estado de Goiás, principalmente as regiões de Cristalina e Catalão. Além destas, mas com menores volumes, tem destaque os cafés da Chapada Diamantina, devido à qualidade excepcional destes grãos, regiões altas do Estado do Espírito Santo, com características próximas às das Matas de Minas, e por fim o Norte pioneiro do Paraná, onde a produção é bem menor, comparada às outras regiões“, define Carlos Johnantan Tolentino Vaz, engenheiro agrícola e ambiental, e consultor em Certificação, Qualidade e Sustentabilidade na Cadeia produtiva do café.
Já na produção de café robusta (conilon),o Espírito Santo tem grande destaque, apesar dos problemas hídricos, sendo ainda o maior produtor nacional desta espécie de café, seguido pelo Sul da Bahia e Rondônia, que atualmente produz cerca de 1,8milhões de sacas/ano.
Tecnologia
Quando se trata de tecnologia, dentre as regiões mais tecnificadas Carlos Johnantan destaca o Cerrado Mineiro, Oeste da Bahia e Goiás. “Apesar do bom volume e produtividade nestas duas últimas áreas, o Cerrado Mineiro tem um destaque especial, principalmente devido à Denominação de Origem da região,muito trabalhada pela Federação dos Cafeicultores do Cerrado que, além disso, fomenta projetos de sustentabilidade e qualidade na região,e à boa aceitação dos produtores para novas tecnologias e ações“, pontua o especialista.
Agregado de valor
Quanto maior for o tempo de permanência do café na lavoura (na árvore ou no chão), após a maturação, maior será a incidência de grãos ardidos e pretos, que são considerados, juntamente com os verdes, os piores defeitos do café. A afirmativa é do engenheiro agrônomo especialista em Proteção de Plantas e consultor da Sagra Insumos Agropecuários, Marcelo de Melo Linhares. “A colheita deve ser iniciada quando a maior parte dos frutos (90%) estiver madura e antes que se inicie a queda deles. Esse período de colheita acontece, em média, sete meses após a floração, que, por sua vez, ocorre por ocasião das primeiras chuvas e/ou com o auxÃlio do manejo de irrigação“, diz.
Ele alerta ainda que não se deve deixar o café recém-colhido nos sacos ou em carretas, para não acontecerem processos fermentativos. Na etapa de secamento, o café deve ser espalhado em camadas finas (5 cm) imediatamente após a chegada ao terreiro, e revolvê-lo várias vezes ao dia. “Com essas práticas se acelera e uniformiza a secagem, uma vez que toda a superfície do fruto recebe os raios solares por igual“, explica Marcelo Linhares.
Quando atingir cerca de 20 a 25% de umidade relativa do ar, o café deve ser amontoado durante a noite e coberto com lonas plásticas, no máximo por 15 horas, e esparramar durante a manhã. Deve-se amontoar o café durante a noite, pois melhora o aproveitamento do calor e evita o ganho de umidade nesse período. “O café deve ser esparramando pela manhã, a partir de nove horas, para evitar esfriamento e reabsorção de umidade“, ensina o especialista.
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