Marcos Botton
Ruben Machota Jr.
LÃgia Caroline Bortoli
Pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho
Cristiano João Arioli
Pesquisador da Epagri Estação Experimental de São Joaquim
A região sul é uma das principais produtoras de frutÃferas de clima temperado do Brasil, destacando-se o cultivo da videira, macieira e pessegueiro, além de uma produção crescente de citros, pequenas frutas (amoreira, framboeseira e mirtileiro) e espécies nativas, como o araçazeiro e a pitangueira.
Nestas espécies frutÃferas, a incidência da mosca-das-frutas sul-americana Anastrepha fraterculus (Wied., 1830) (Diptera: Tephritidae) é um dos principais fatores limitantes da produção. De modo geral, o manejo da espécie tem como base o controle químico realizado com a aplicação de inseticidas em cobertura total e o emprego de iscas tóxicas.
Manejo
Um dos pontos fundamentais para estabelecer uma estratégia de manejo de A. fraterculus nos diferentes cultivos é o monitoramento que permite conhecer o nível populacional da espécie nas áreas de produção.
No entanto, existem dificuldades para a implementação do monitoramento da espécie de forma confiável em razão da falta de padronização dos atrativos e armadilhas. A presença da mosca-das-frutas nestas áreas é detectada pelo emprego de substâncias atrativas, com destaque para os sucos de frutas, proteínas hidrolisadas ou a levedura torula, recomendando-se o emprego de armadilhas modelo McPhail.
A escolha do atrativo pelos fruticultores é baseada, principalmente, no custo e facilidade de obtenção no comércio, sendo o suco de uva 25% o padrão para o monitoramento da praga, principalmente, na cultura da macieira.
Entretanto, este atrativo não é eficaz na cultura da videira uma vez que a sobreposição de odores, principalmente próximo à colheita das frutas, faz com que os insetos não sejam atraÃdos para as armadilhas. Como consequência, os viticultores não conseguem identificar os picos populacionais da praga nos parreirais, muitas vezes resultando em injúrias (puncturas e galerias) aos frutos.
Além disso, existem questionamentos quanto a sua eficácia devido à variação na composição do atrativo conforme a variedade de uva, safra e marca comercial. Por esse motivo, a disponibilidade de novos atrativos com eficácia para o monitoramento da praga é fundamental para seu manejo.
Evolução
Nos últimos anos, novos atrativos líquidos de longa duração foram desenvolvidos, merecendo destaque os resultados obtidos com a proteÃna hidrolisada de origem animal CeraTrap®.
O produto é um formulado proteico obtido da mucosa intestinal de suÃnos, por meio de um processo de hidrólise enzimática a frio. Este processo reduz alterações físicas e químicas, com melhorias na atratividade promovida pelo produto em decorrência da manutenção do pH alcalino das soluções e conservação de aminoácidos.
Os principais compostos voláteis isolados e identificados foram aminas heterocÃclicas, principalmente piperazinedionas, que apresentam elevada capacidade de atração de adultos de mosca-das-frutas.
A avaliação dos atrativos disponíveis no mercado brasileiro para o monitoramento da mosca-das-frutas demonstrou a elevada capacidade de detecção da formulação CeraTrap® (Figura 2), sendo que a maioria dos indivíduos capturados foram fêmeas.
Legenda: CeraTrap® (BioIbérica S.A., sem diluição, repondo o atrativo a cada 60 dias); Torula (Isca Tecnologias Ltda., seis pastilhas/L), BioAnastrepha (BioControle ““ Métodos de Controle de Pragas Ltda., a 5%), glicose de milho (Yoki® Alimentos Ltda., a 10%) e suco de uva tinto (Embrapa Uva e Vinho, a 25%), trocados semanalmente ou conforme recomendação do fabricante. *Médias seguidas de mesma letra não diferem pelo teste Tukey a 5% de significância.