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Chuvas mais presentes na colheita do café poderão prejudicar qualidade da atual safra

Williams Ferreira1 e Marcelo Ribeiro2

 Enzimas garantem melhor qualidade do café produzido - Crédito Miriam Lins
Crédito Miriam Lins

A atuação nas últimas semanas dos sistemas Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) e Alta Subtropical do Pacífico Sul (ASPS), comportando-se de modo estacionário, tem contribuído para a dinâmica das chuvas que recentemente têm ocorrido de modo isolado na região central do Brasil. Isso faz com que algumas regiões importantes produtoras situadas em parte do Mato Grosso, Goiás e Bahia ainda permaneçam sem chuvas – extremamente desejadas principalmente para o milho safrinha. As temperaturas elevadas durante o dia têm contribuído para a elevada taxa de evapotranspiração nas últimas semanas. No mês de março, na região do extremo nordeste de Minas Gerais choveu aproximadamente 25% do volume de chuva esperado para o mês, sendo que nas regiões Zona da Mata e metropolitana choveu entre 75 a 100% do volume esperado para o mês. No Triângulo Mineiro e no Sul de Minas, em algumas pequenas regiões, as chuvas ficaram pouco acima da média do período, chegando a chover até 25% acima do esperado para o mês.

El Niño

Desde o início de abril que o forte El Niño, que teve seu pico em novembro de 2015, está enfraquecendo e chegando ao nível de El Niño moderado. Todavia, as condições de chuvas abaixo da média esperadas para os próximos meses no Nordeste brasileiro são ainda consequências da presença do atual fenômeno El Niño que foi tão forte quanto aqueles que ocorreram em 1982/83 e 1997/98.

Os principais centros mundiais de previsão de clima sugerem que ao longo do outono o fenômeno continuará a enfraquecer e poderá chegar ao seu fim no início do inverno ou até mesmo caminhar para o desenvolvimento de um evento La Niña já ao longo da próxima primavera, ainda esse ano. Todavia, destaca-se que os modelos dinâmicos são os que mais indicam o desenvolvimento de um evento La Niña com início a partir da primavera, sendo que os modelos estatísticos ainda não ratificam essa previsão. Outro aspecto a ser considerado é que as previsões feitas em determinadas épocas do ano apresentam maior margem de acerto do que aquelas feitas em outros momentos do ano, nesse caso as previsões são melhores quando feitas entre junho e dezembro do que quando são feitas entre fevereiro e maio. Assim, ainda é muito precoce a previsão da intensidade do fenômeno La Niña que possa vir a ocorrer ao longo dos próximos meses, bem como associar a ocorrência do fenômeno La Niña de intensidade moderada que ocorreu em 1998/2000, que sucedeu o forte fenômeno El Niño ocorrido em 1997/98 que apresentou intensidade semelhante ao atual que encontra-se em processo de enfraquecimento.

Chuvas em maio

Para o mês de maio é possível que ocorram anomalias positivas (chuvas acima da média) em todo o Espírito Santo e Mato Grosso do Sul. Essas anomalias também poderão ocorrer para a região do extremo oeste do Triângulo Mineiro, da Zona da Mata, do Vale do Rio Doce, do Mucuri e do Jequitinhonha em Minas Gerais. Também poderão ocorrer anomalias positivas para todo o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, sendo nesse último estado a única exceção para a mesorregião nordeste Rio-grandense. Para o estado de São Paulo as regiões de Marília, Presidente Prudente, Assis e Araçatuba são aquelas que poderão apresentar anomalias positivas. Para o mês de maio anomalias negativas poderão ocorrer principalmente para os estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e região sudeste do Piauí.

Chuvas no próximo trimestre

Considerando o trimestre maio, junho e julho, a realidade é um pouco diferente. Deve ser lembrado, todavia, que a previsão climática de chuvas descreve a probabilidade de ocorrência de anomalias positivas em determinada região, ou seja, revela determinado percentual probabilístico de que as chuvas ocorram acima da média do período considerado para determinada região. Indica ainda a ocorrência de anomalias negativas, ou seja, o percentual probabilístico de que as chuvas possam ocorrer abaixo da média normal do período durante um determinado trimestre, sendo o trimestre aqui considerado de maio, junho e julho.

Levando em conta apenas as anomalias positivas, para o próximo trimestre há aproximadamente 40% de probabilidade de que nas regiões do Campo das Vertentes, Sul de Minas e Zona da Mata, em Minas Gerais, as chuvas ocorram pouco acima (em torno de 0,5mm por dia) da média normal para o período. A mesma probabilidade também ocorre para todo o estado do Rio de Janeiro, para as regiões central e sul do Espírito Santo e para o leste goiano. No trimestre considerado há maior probabilidade (em torno de 50%) que as chuvas possam apresentar volumes acima da média na região que vai desde o litoral sul paulista e passa por toda a região litorânea do Paraná e Santa Catarina, sendo que nessa região o volume pode chegar a ser até 1mm por dia superior à média histórica do período.

Existe em torno de 50% de probabilidade de que possam ocorrer anomalias negativas, ou seja, de que as chuvas possam ocorrer abaixo da média (em torno de 0,5mm por dia) ao longo do próximo trimestre no norte e noroeste de Minas Gerais e na região do extremo oeste baiano. Há entretanto, maior probabilidade (em torno de 70%) de que as chuvas possam ficar abaixo da média do período (em torno de 1,5mm por dia) na mesorregião de São Francisco, em Pernambuco, no agreste pernambucano, no sertão e agreste alagoano e também no agreste sergipano.

Temperaturas

No próximo trimestre há 70% de probabilidade de que as temperaturas fiquem acima da média do período em todo o país, sendo que apenas na parte sudoeste do Mato Grosso do Sul, no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul é que há somente 40% de probabilidade de que as temperaturas ocorram acima da média.

No mês de maio as temperaturas poderão ficar acima da média em quase todo o país, sendo exceção o estado do Mato Grosso do Sul e a parte oeste de São Paulo, onde as temperaturas poderão ficar abaixo da média do mês, bem como nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde as temperaturas deverão ficar dentro da média do mês.

Café

As chuvas são favoráveis para a lavoura do café neste período do ciclo da cultura, pois aumentam a umidade do solo e preservam as folhas nas plantas evitando sua abscisão. O problema decorrente da ocorrência de chuvas neste período é que elas podem estimular floradas precoces, além de prejudicar a qualidade da bebida no terreiro. Com a maior probabilidade de ocorrência de eventos de chuvas o café deve ser preferencialmente enleirado no período da tarde no sentido da inclinação (caída) do terreiro, evitando que chuvas noturnas possam “carregar“ os grãos.

Uma forma de prevenção é que no período da tarde deve ser realizada a cobertura, por lonas, dos cafés que já tenham atingido a meia seca. Cafés que tenham atingido 11 a 12% de umidade devem ser retirados do terreiro e armazenados, evitando assim o molhamento na ocorrência de chuvas. Com a possibilidade de chuvas na colheita, os produtores que possuem secadores devem utilizá-los o máximo possível, evitando-se o uso de terreiros secadores, assegurando, assim, a secagem ideal preservando ao final a qualidade do café.

Prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foi elaborada com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade – IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo – ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET/CPTEC-INPE. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

1Pesquisador da Embrapa Café/EPAMIG UREZM na área de Agrometeorologia e Climatologia, atua principalmente em pesquisas voltadas para o tema Mudanças Climáticas Globais. – williams.ferreira@embrapa.br ou williams.ferreira@epamig.br

2Pesquisador da EPAMIG na área de Fitotecnia, atua em pesquisas com a cultura do café. mribeiro@epamig.br

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