Raphael Augusto de Castro e Melo
Alice Maria Quezado-Duval
Larissa Pereira de Castro Vendrame
Ailton Reis
Pesquisadores da Embrapa Hortaliças, BrasÃlia-DF
Josefa Neiane Goulart
Doutoranda em Fitopatologia, Universidade de BrasÃlia (UnB), BrasÃlia-DF
A couve-flor tem como centro de origem a região do Mediterrâneo, onde o clima é temperado, o que representa um dos principais desafios no desenvolvimento de cultivares adaptadas às condições climáticas nacionais.
Qual escolher?
A escolha de cultivares é um cuidado essencial, pois aquelas selecionadas em seu centro de origem não se adaptam bem à região tropical, havendo certas restrições de cultivo.
No mercado nacional, as cultivares são indicadas de acordo com a adaptação às estações do ano e às horas de frio acumuladas, para o plantio no verão, meia-estação e inverno, que influenciam na qualidade e na formação das inflorescências (cabeças). Existem as de inflorescências de coloração branca como padrão do mercado, e as que ocupam um nicho, como em segmentos da culinária, com coloração verde (tipo romanesco), amarela, roxa e alaranjada.
Essas devem atender as necessidades do agricultor, como adaptabilidade, resistência a pragas, doenças e facilidade do manejo, assim como os programas de melhoramento genético devem também atender à demanda do mercado consumidor e da indústria por aspectos de sabor e manutenção de suas características após o congelamento, respectivamente.
Com a redução do tamanho das famílias aliado ao maior acesso à informação acerca dos benefícios nutricionais da hortaliça, observa-se que a preferência do consumidor tem sido por inflorescências de menor tamanho, compactas, com a aparência uniforme e a cor clara. Esses requisitos de qualidade também são exigidos pela indústria de congelamento.
Clima
As condições climáticas, especialmente a temperatura, influenciam diretamente no desenvolvimento das plantas e no consequente desempenho produtivo da couve-flor, sendo a melhor qualidade obtida em regiões de altitude, com temperatura amena e em condições de dias curtos.
A variação de temperatura de moderada a mais elevada durante seu ciclo é necessária. Os valores mÃnimos de temperatura tolerados são de 03 a 05°C e de 16 a 18°C considerados como valores ótimos na fase vegetativa.
Os valores máximos de temperatura tolerados são na faixa próxima aos 30°C. Em condições favoráveis, a couve-flor requer temperaturas moderadas em sua fase juvenil, seguidas de temperaturas mais baixas durante a fase de indução do florescimento e temperaturas medianas para o desenvolvimento das inflorescências. A couve-flor tem preferência por regiões de umidade relativa média a alta e tolera baixos níveis de luminosidade durante seu desenvolvimento.
A exposição das inflorescências à luz solar implica no amarelecimento e, consequentemente, redução do valor comercial. Para contornar esse problema, tem sido feita a seleção de plantas com folhas mais novas imbricadas sobre a inflorescência, o que impede a exposição à luz solar, mantendo a cor mais clara e evitando injúrias.
Esse tipo de planta dispensa os processos de amarração das folhas ou de quebrá-las sobre as inflorescências, que é feito para evitar seu escurecimento. Desse modo, menor mão de obra é demandada.
Preparo do solo e adubação
A couve-flor, em geral, tem preferência por solos de textura média ou argilosa, desde que bem drenados, especialmente para cultivo nas condições de verão-outono. O preparo da área deve ser realizado com operações destinadas à mobilização superficial do solo e seu nivelamento. Recomenda-se adotar práticas conservacionistas, como o Sistema de Plantio Direto (SPD).
A couve-flor é uma hortaliça medianamente resistente à salinidade, com pH ótimo para seu desenvolvimento entre 5,8 e 7,0, sendo que alterações nesses valores acarretam em carências nutricionais, notadamente de manganês (Mn), molibdênio (Mo) e boro (B).
Para a couve-flor, como recomendação geral, deve-se aplicar calcário para elevar a saturação por bases a 80% e o teor de magnésio (Mg) a um mÃnimo de 09 mmol.dm-3. A adubação orgânica deve ser realizada com doses de 40 a 60 t/ha de composto orgânico curtido, a depender do teor de matéria orgânica (MO) do solo. As quantidades de macronutrientes consideradas adequadas, em quilos por hectare (kg/ ha-1), para a maioria das regiões, variam de:
- 50 kg/ha a 320 kg/ha de P2O5 no plantio
- 50 kg/ha a 100 kg/ha de K2O no plantio
- 50 kg/ha a 120 kg/ha de K2O em cobertura
- 60 kg/ha a 80 kg/ha de N no plantio
- 15 kg/ha a 200 kg/ha de N em cobertura
Ressalta-se que as dosagens de adubação citadas acima possuem essas grandes variações, pois dependem da avaliação da fertilidade do solo, das recomendações para cada região/Estado (geralmente encontradas em publicações técnicas), do manejo e da cultivar utilizada, além do histórico de uso da área.
Recomenda-se acrescentar de 03 a 06 kg/ha de B, juntamente com os demais fertilizantes químicos na ocasião do plantio. Também é indicada a pulverização com B três vezes durante o ciclo, iniciando duas semanas após e repetindo em intervalos de 15 dias. Além disso, deve-se aplicar Mo também em pulverização, 20 dias após o plantio.
Pesquisas comprovam que em solos com teores elevados de fósforo (P), a couve-flor é mais eficiente agronomicamente que os brócolis. Essa resposta da couve-flor é um indicativo de que mesmo botanicamente semelhante aos brócolis, quando se trata desse nutriente, as dosagens indicadas para couve-flor devem ser diferentes para a adubação de plantio.
O nitrogênio (N) e o potássio (K), quando bem parcelados, elevam a produtividade, além de desempenharem um papel importante na resistência a doenças. O excesso de nitrogênio pode causar a ocorrência de inflorescências achatadas, inaptas à comercialização. Em solos com teor de matéria orgânica e de K elevados, apenas adubações visando à manutenção de teores adequados são necessárias.