Cecilia Czepak
Professora de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (UFGO)
A lagarta-elasmo (Elasmopalpus lignosellus), da família Pyralidae, também conhecida como broca-do-colo, é uma praga de hábito polÃfago que ataca mais de 60 espécies de plantas nas regiões temperadas e tropicais da América.
No Brasil, causa prejuízos principalmente em grandes culturas, especialmente gramÃneas e leguminosas. A infestação da praga pode ser responsável por até 70% de perdas na cultura do milho, 50% no feijão e 25% na cana-de-açúcar, sendo também frequente no cultivo da soja e trigo.
Os maiores prejuízos são causados nos períodos iniciais após a emergência das plantas e se agravam quando são acompanhados de longos veranicos, comprometendo o estande inicial e, consequentemente, a produção, devido à redução no número de plantas/m2.
Quando o ataque ocorre em plantas recém-emergidas, só se percebe a presença da praga pela redução do estande, visto que as plantas secam rapidamente e se confundem aos restos de cultura ou ao próprio solo. Neste caso, não há muito o que fazer, pois os controles curativos dificilmente eliminam esta praga que, geralmente, está protegida no casulo abaixo da superfície do solo ou na haste da planta atacada.
 Em plantas mais desenvolvidas é comum o ataque, e mesmo não conseguindo matar a planta, provoca o perfilhamento em gramÃneas e o enfraquecimento do colmo em leguminosas, culminando em tombamentos após chuvas com vento.
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Alerta geral
Torna-se necessário esclarecer que esta praga não abandona as áreas de cultivos após o desenvolvimento das plantas – apenas não consegue matá-las e, neste caso, sua presença muitas vezes é negligenciada.
Ataques intensos desta praga estão associados a períodos de estiagem, com temperaturas altas e baixa umidade do solo, combinação que acelera o ciclo biológico da praga, aumenta sua voracidade, além de prejudicar de forma irreversÃvel a reação da planta ao ataque.
De olho nos sintomas
A lagarta-elasmo, ou broca-do-colo, após a eclosão pode alimentar-se das folhas, principalmente em ataques a gramÃneas. Em seguida se dirige para a base da planta hospedeira, penetrando na haste logo abaixo do nível do solo, fazendo galerias ascendentes, provocando, nas gramÃneas, a morte da gema apical e, como consequência, a planta amarelece e as folhas centrais secam. Este sintoma denomina-se “coração-morto”.
Em leguminosas, as galerias ascendentes construÃdas a partir da sua alimentação impedem o fluxo de seiva e, como consequência, a planta seca e morre. Sua presença é facilmente constatada devido à sua associação com a planta hospedeira, pois constrói um casulo na parte externa junto ao orifÃcio de entrada, com restos vegetais, terra e teia, dentro do qual se abriga. Terminado o período larval, a lagarta se transforma em crisálida no solo, dentro do casulo, próximo à haste da planta.
Culturas prejudicadas
Leguminosas e gramÃneas, isto é, inúmeras plantas cultivadas e espontâneas são hospedeiras desta praga, entre elas: cana, arroz, trigo, amendoim, soja, sorgo, milho, feijão, algodão, caupi, etc.. Até mesmo tiriricas são passÃveis do ataque desta broca.
Sabe-se que áreas de solos argilosos e plantios convencionais favorecem a sobrevivência desta praga, porém, quando a população de adultos é alta, devido principalmente à manutenção de áreas em pousio com gramÃneas ou tigueras, nem mesmo o plantio direto escapa do ataque desta praga.
Para tanto, o monitoramento pré-plantio se torna imprescindÃvel, principalmente para a escolha da melhor tática de controle, a qual, muitas vezes, para esta praga, tem caráter preventivo.
Manejo
Monitoramentos frequentes para se determinar a presença do adulto e de lagartas na área são recomendados, mas infelizmente quase nunca são adotados, assim como evitar a manutenção de plantas espontâneas e tigueras, pois estas perpetuam a praga na área.
Tratamento de sementes
Outra recomendação seria o tratamento de sementes como forma preventiva de controlar a praga. Também nos plantios com tecnologia Bt a adoção do tratamento de sementes é recomendável, mas devemos sempre lembrar que toda tática de controle é apenas uma ferramenta, e não a solução dos problemas, e pragas como a lagarta-elasmo devem ser tratadas dentro do sistema produtivo, já que a mesma pode se estabelecer com muita facilidade em rotações de leguminosas com gramÃneas.
Áreas recém-queimadas devem ter os cuidados redobrados, já que o cheiro atrai ainda mais os adultos, pois os mesmos entendem ser uma área com possibilidade de alimento farto para a prole, visto que novas brotações virão em sequência.
Atualmente, essa é uma alternativa válida e eficiente, porém, não devemos esquecer que a mesma não impede a perda de estande, pois, para morrer, a lagarta muitas vezes terá que comer a planta contaminada com o inseticida.
Além disso, esse fato pode ser observado com frequência quando se tem períodos favoráveis às pragas e desfavoráveis à planta. Assim, com certeza sua adoção ajuda na manutenção do estande mesmo em ataques severos, principalmente quando comparamos a áreas não tratadas.