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Luiz Paulo Vilela
Mestre em Agronomia e coordenador de Cursos e Assistência Técnica do ReHAgro Recursos Humanos no Agronegócio
No Brasil, a ferrugem do cafeeiro foi constatada pela primeira vez em 1970 no estado da Bahia. Hoje se encontra disseminada por todas as regiões produtoras, causando severa desfolha das lavouras, levando à queda de produtividade que pode chegar a até 30%.
A doença é causada por um fungo policÃclico, o Hemileia vastatrix, sendo considerada a enfermidade mais prejudicial à cafeicultura brasileira. O fungo ataca as folhas, provocando manchas cobertas por uma massa de esporos amarelo-alaranjados na face inferior. Ele causa morte celular e consequente desfolha intensa, quando não controlado.
As condições climáticas ideais para a ferrugem são: temperatura na faixa de 20 a 24ºC; e alta umidade.
Desenvolvimento
A doença normalmente inicia seu desenvolvimento em novembro/dezembro e tem o pico de infestação em maio/junho. Porém, nos últimos anos tem-se notado uma evolução tardia da ferrugem, em função de invernos mais quentes e úmidos.
Juntamente ao clima, as condições da lavoura também podem interferir no progresso da doença, podendo-se citar:
ü Lavouras de café adensadas ou plantas com muitas hastes favorecem o ambiente (microclima) mais sombreado e úmido;
ü Adubações e tratos culturais mal feitos: menos carboidratos e outros componentes que ajudam na defesa da planta;
ü Presença de inóculo da doença em lavouras abandonadas: estas lavouras disseminam, por meio de ventos e chuvas, os esporos para as lavouras no entorno, antecipando e agravando o ciclo da ferrugem;
ü Alta carga pendente: a planta dirige todos os seus carboidratos para os frutos, deixando-a menos protegida contra a doença;
ü Variedades: a maioria das variedades plantadas no Brasil ainda é susceptÃvel (Catuaà e Mundo Novo). Entre estes, pode-se observar que o Catuaà é mais resistente à ferrugem do que o Mundo Novo, que é mais resistente do que o Bourbon.
Métodos de Controle
Controle genético: esta tática pode ser muito interessante em áreas montanhosas não mecanizadas e para produtores de menor poder aquisitivo. Ainda pode-se ressaltar que o uso de variedades resistentes, aliado aos tratamentos químicos, resulta em grande aumento de produtividade, seja pelo vigor que muitos destes produtos causam na planta, seja pelo controle de outras doenças secundárias, como a cercosporiose.
Dentre as variedades resistentes a ferrugem, podemos citar:
“¢ C. arábica x C. canephora = Icatu Vermelho e Icatu Amarelo;
“¢ Icatu x Catuaà = CatucaÃs;
“¢ Vila Sarchi x Híbrido de Timor = Obatã.
Controle químico: os fungicidas são classificados, quanto ao modo de ação, como:
– Erradicantes ou desinfestantes: enxofre;
– Protetores ou preventivos: cúpricos, ditiocarbamatos e estrobirulinas;
– Curativos ou terapêuticos: benzimidazois e triazois.
No controle da ferrugem do cafeeiro, os primeiros fungicidas a serem usados foram os cúpricos, como oxicloreto de cobre e hidróxido de cobre. Porém, conforme mencionado, estes fungicidas são protetores, assim como os fungicidas orgânicos, como os ditiocarbamatos.
Dessa maneira, logo tiveram que ser substituÃdos pelos triazóis, que se movem nas plantas via xilema, ou seja, são sistêmicos e atuam curativamente dentro da folha, reduzindo a esporulação.
Posteriormente aos triazois apareceram as estrobirulinas, que são fungicidas desenvolvidos à base de Strobilurus sp. (cogumelo). Atuam na planta de maneira preventiva e se translocam de maneira mesostêmica (translaminar). Atualmente, a forma quÃmica mais eficiente observada no controle de ferrugem do cafeeiro é o uso de misturas à base de triazois + estrobilurinas, usados concomitantemente aos cúpricos de maneira preventiva.
Também existem no mercado produtos de uso via solo (drench) à base de triazois + inseticidas do grupo dos neonicotinoides. Estes produtos, além de ajudar no controle de ferrugem, também controlam bicho-mineiro no café e cigarras, proporcionando tonicidade às plantas.