Autor
Camila Queiroz da Silva Sanfim de Sant’Anna
Engenheira agrônoma, mestre em Genética e Melhoramento de Plantas e doutora em Produção Vegetal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)
agro.camilaqs@gmail.com
A teca constitui uma das madeiras de maior valor no mercado, sendo muito empregada na fabricação de móveis finos e na construção naval. Seu preço final é atribuído à madeira madura, livre de nós (clearwood) e com diâmetro para serraria. Cabe à operação da desrama a formação de fustes limpos e sem nós.
Direto ao ponto
O principal objetivo desta prática é melhorar a qualidade do fuste com a eliminação dos nós indesejáveis ao beneficiamento da madeira, permitindo a obtenção de um fuste reto, e propiciando, assim, valoração na produção, além de evitar a proliferação patógenos, pois facilita o arejamento e a luminosidade da copa.
A presença de nós no fuste é indesejável, pois implica na redução da maioria das propriedades mecânicas da madeira, pois, nesta, as fibras que circundam são distorcidas e sua descontinuidade culmina na concentração de tensões, o que pode causar a ocorrência de fendas durante a secagem, afetando a resistência da madeira e enfraquecendo-a.
A operação de desrama, em geral, é considerada a partir do segundo ano, até as árvores atingirem altura comercial de 8,0 m, podendo se estender até o nono ano, em função de alterações climáticas, ocorrência de pragas e desbastes, podendo ocorrer novas brotações, exigindo assim a realização de uma desrama extra.
A retirada tanto dos ramos secos como dos verdes deve ser executada sem deixar “tocos”, que pela posterior atividade cambial podem ser recobertos pelo lenho e originar novos nós. É realizada até a proporção de 2/3 da copa (sem prejuízos para o desempenho da árvore) em anos intercalados.
Manejo
Sua prática é realizada manualmente, com auxílio de serras de poda curvas fixadas em cabos de eucalipto ou alumínio de 1,5 m, 4,5 m e 7,5 m de comprimento para as desramas de 3,6 e 9,0 m, respectivamente.
Os ramos devem ser cortados rentes ao tronco das árvores, de forma que esta ação seja menos traumática possível para a planta, atentando às características morfológicas dos galhos e sua dinâmica em relação à atividade metabólica das folhas.
Deve-se tomar cuidado no momento da poda para não danificar a região da crista da casca superior e colar do ramo, a fim de garantir a manutenção das condições fisiológicas para que ocorra cicatrização, sobretudo porque a teca possui sua madeira mais dura e com galhos de grande diâmetro na inserção do tronco, o que pode dificultar a desrama.
Problemas
Os problemas mais comuns enfrentados durante a realização da desrama consistem no despreparo operacional e consequentes erros durante a realização do manejo, seja por realização equivocada do processo ou dos equipamentos inadequados, promovendo, deste modo, efeito não favorável à intensão da desrama, deixando a planta, inclusive, exposta a suscetibilidades de ataque de patógenos, com o não fechamento dos ferimentos devido à poda.
Outra problemática é o excesso da remoção dos galhos, ou seja, a intensidade de desrama pode, também, influenciar o desenvolvimento da planta. Como já comprovado em trabalhos práticos, observou-se que a retirada intensa de desrama, maior do que 50% do volume da copa, prejudica seu crescimento, afetando, sobretudo, o diâmetro, pois a supressão pode levar à mortalidade radicular, além de outros processos fisiológicos contrários ao objetivo, como superbrotação.
Cabe ressaltar, também, que a desrama realizada de forma errada acarreta na perda da qualidade da madeira, redução que pode chegar a até 40% do seu preço de comercialização.
Custo
O custo inicial da desrama não traz ganhos imediatos, no entanto, a técnica mostra-se extremamente compensadora no preço final. Em uma densidade de aproximadamente 625 árvores/ha, por exemplo, o custo total da desrama chega a R$ 316,80, sendo realizados quatro desramas nos seguintes anos: 2°,4°,6° e 8°.
Conforme dados de 2015 da Embrapa Acre, em relação aos custos de manejo em Rio Branco (AC), o preço FOB do metro cúbico de madeira de teca comercial varia de US$ 150 (acima dos 12 anos) a US$ 800 m³ (corte final) a tora, ressaltando que quanto maior a qualidade da madeira, maior sua rentabilidade. Observa-se, assim, que o custo com a operação de desrama é altamente vantajosa, comparada com o retorno econômico obtido pelo preço final.
Por fim, o alcance de rendimento adequado madeireiro quanto à dimensão e qualidade permitem o aumento da rentabilidade do produto, tornando a prática da desrama essencial para que se alcance este objetivo.