Rio Grande do Sul tem capacidade para produzir cereal para outras finalidades e manter produção do trigo pão
A diversificação da produção de trigo no Rio Grande do Sul com vistas à exportação do cereal para outras finalidades além do uso para o pão é vista com bons olhos pelas tradings que operam no mercado. Em recentes reuniões com representantes do setor, as cooperativas agropecuárias receberam informações sobre como outros países estão trabalhando para atrair diversos públicos, tanto interno quanto externo, para a cultura.
Na visão do presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (FecoAgro/RS), Paulo Pires, há um alinhamento muito forte das apresentações feitas pelos traders com o plano de alternativas para a cultura, já que existe uma dificuldade no Rio Grande do Sul de se produzir o trigo pão. “Temos que respeitar as zonas de produção. Nas zonas mais frias não temos problemas de produzir o trigo pão, mas precisamos criar esta opção do Rio Grande do Sul ser um player exportador de trigo para outros usos”, salienta.
Conforme o dirigente, o grande reforço para a cultura virá com o aumento da produtividade e a redução de itens de exigência do trigo pão, no qual os pesquisadores já apontam que é possível para confirmar este crescimento. “E crescendo em produtividade e superamos em parte o problema da redução de custos, sendo que isto já aconteceu em outros países”, observa.
O Rio Grande do Sul tem uma moagem de trigo gaúcho de no máximo 1,1 milhão de toneladas por ano. Em um ano normal de produção, entre 2,2 milhões e 2,4 milhões de toneladas, há um excedente que pode ser exportado. Pires lembra que existe uma dificuldade com o governo federal de arrumar qualquer recurso para ajudar na comercialização. “Temos que ver o mercado interno e mercado internacional. A realidade mostra que estamos no caminho certo e que é importante diversificar. O trigo pão é importante e vai suprir a demanda gaúcha, mas podemos fazer um milhão de toneladas de outro tipo de trigo para atender outros mercados”, acredita.
Na última semana a Emater/RS divulgou que devido aos estoques baixos e à demanda das indústrias de carnes e fabricantes de ração pelo trigo, o preço do cereal teve aumento de 20% nos últimos dias. Na praça de Passo Fundo, considerada referência para o mercado do Rio Grande do Sul, a tonelada que era comercializada por R$ 750 passou a R$ 900. Este panorama fez com que houvesse o aumento na procura por sementes para ampliar a área de cultivo inicialmente programada, intenção esta prejudicada pela falta de semente no mercado.
Conforme o último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área para o trigo no Rio Grande do Sul teve queda de 11,2%, passando de 861,3 mil para 765 mil hectares. A produção deverá aumentar 42,4% chegando a 2,08 milhões de toneladas contra 1,46 milhão de toneladas de 2015, ano que houve quebra de safra devido a problemas climáticos no Estado pelo segundo ano consecutivo.
Segundo o presidente da FecoAgro/RS, o plantio de trigo no Rio Grande do Sul, em algumas regiões como as Missões e Noroeste, alcançou 80%, sendo que em regiões mais frias, como o Planalto, a semeadura está apenas começando. “Só não teremos área igual ou superior à 2015 devido à falta de semente, pois o sentimento do produtor é favorável”, completa Pires.
Texto: Nestor Tipa Júnior/AgroEffective