Vitor Cezar Miessa Coelho
Doutor e engenheiro florestal
Em conÃferas as estruturas que definem uniformidade e homogeneidade na madeira são os anéis anuais; compostos por lenho outonal e lenho primaveral, e têm características celulares bastante distintas. Uma vez mal distribuídos ou distribuídos de forma heterogênea, criam zonas de crescimento quando fatores externos variam de forma não periódica ao longo do lenho.
O que define a distribuição e os incrementos anuais em anéis de crescimento é o espaço vital que a árvore dispõe. Àmedida que os indivíduos crescem, o espaço vital de cada um vai diminuindo, e as suas necessidades nutricionais e de absorção de água aumentando, numa proporção direta com o seu porte. É necessário que haja espaço para crescimento da copa, sob pena da redução progressiva do incremento em diâmetro.
O espaço vital define o crescimento diamétrico que tem influência na formação das células de uma árvore. O conjunto de células forma as estruturas morfológicas meristemáticas da madeira, o que determina as suas propriedades físico-mecânicas.
Em conÃferas, o crescimento não é contÃnuo porque são criadas zonas de crescimento que, no caso da produção de madeira de qualidade, precisa ser modulado por meio do monitoramento do Incremento Corrente Anual (ICA) e do Incremento Médio Anual (IMA) (Hosokawa; Moura; Cunha, 2008).
A modulação do crescimento ocorre desde que a árvore esteja com plena vitalidade, ou seja, livre de competição pelos fatores de produção ou com essa competição sob controle. O controle sobre os fatores de produção é o único fator de crescimento de uma árvore que pode ser manipulado pelo homem.
É possível dimensionar a velocidade de crescimento das árvores controlando seu espaço vital, por meio de desbastes, pelo ICA, que permite a aferição do crescimento diamétrico do período anterior. (Hosokawa; Moura; Cunha, 2008); (Ferraz Filho, 2013).
Â
Crescimento
A modulação do crescimento pode ser realizada pelo controle constante sobre os incrementos e intervenções adequadas ““ desbastes – propiciando sempre a utilização da máxima capacidade produtiva do sÃtio. Do ponto de vista econômico, significa que sempre vai ocorrer a alocação dos fatores de produção nas árvores mais eficientes, ou seja, a produção econômica.
A cada intervenção devem ser programados: o diâmetro meta, o número de árvores que serão abatidas no próximo desbaste, numa situação onde o sÃtio terá todo o seu potencial produtivo utilizado. O que se deseja é o controle periódico dos incrementos e as intervenções feitas no momento propÃcio a resultar em um lenho uniforme.
A Tabela 1 apresenta os dados de incrementos em um povoamento de Pinus taeda com 30 anos onde foi realizada uma simulação da produção. Aos dados originais coletados foram calculados e acrescidos a idade de desbastes e os Incrementos Periódicos (IP), configurando um regime de manejo em que o crescimento foi controlado.
Tabela1: Intervenções e incrementos em povoamento de Pinus taeda l. com 30 anos e oito desbastes na região deSengés (PR)
Intervenção | 1° Desb | 2° Desb | 3° Desb | 4° Desb | 5° Desb | 6° Desb | 7° Desb | 8° Desb | C R | |
Idade (anos) | 8 | 11 | 13 | 16 | 18 | 22 | 25 | 28 | 30 | |
d (cm) | 25,8 | 29,2 | 32,7 | 35,2 | 37,7 | 40,4 | 43 | 45,3 | 47,7 | |
IP (cm) | 25,8 | 3,4 | 3,5 | 2,5 | 2,5 | 2,7 | 2,6 | 2,3 | 2,4 | |
PerÃodo (anos) | 8 | 3 | 2 | 3 | 2 | 4 | 3 | 3 | 2 | |
IPA (cm) | 3,2 | 1,1 | 1,8 | 0,8 | 1,3 | 0,7 | 0,9 | 0,8 | 1,2 |
Fonte: O autor (2017)
d: diâmetro médio aritmético; IP: incremento periódico; IPA: incremento periódico anual
Esta desejada homogeneização dos anéis anuais acontece a partir das informações pós primeiro desbaste do IP, que é a partir de onde os dados foram coletados e a simulação acontece.
Os IP’s são, em média, de 2,7cm. Os IPA’s, entre 1,8cm e 0,8cm, em média são de 1,0cm, criando a homogeneidade e uniformidade preconizada. Portanto, o regime de manejo proposto promove a uniformização e homogeneização dos anéis anuais.
Para melhor compreensão dos dados, A Figura 1 demonstra a evolução do IP ao longo do ciclo de produção.
Figura 1:Evolução do IP em povoamanto de Pinus taeda L. com 30 anos e oito desbastes na região de Sengés (PR)
Fonte: O autor (2015)
A Figura 1 mostra que a partir do segundo desbaste os incrementos periódicos tenderam a se estabilizar (linha azul) e em média ficaram na casa de 2,7cm/ano (linha vermelha). O controle sobre a velocidade do crescimento demonstrado na Figura 1 se traduz em ganhos bastante expressivos nas características de resistência e rigidez das peças de madeira em relação aos valores médios citados na literatura.