André Aguirre Ramos
Engenheiro agrônomo, mestre e consultor da Aguirre & Ramos Consultoria e Treinamento
Definitivamente a cultura do milho de verão migrou para a safrinha. Desde o ano 2012, a maior área de plantio desta cultura está na safrinha, ou seja, plantio de segunda safra.
Esta mudança de cultura é marcada pela grande diferença no manejo da cultura, que no verão era caracterizada por falta de chuvas no início do desenvolvimento e excesso nas fases de pós-floração. Já na safrinha é exatamente o contrário, sem falar nas baixas temperaturas no enchimento de grãos, e até mesmo nas geadas na região centro-sul do Brasil.
Esta migração, juntamente com a utilização de lavouras irrigadas de inverno, e o pouco conhecimento no controle de plantas voluntárias de milho resistente ao herbicida glifosato na cultura da soja tem potencializado complexos de insetos causadores de doenças chamadas de viroses no milho.
Esta permanência de milho em diferentes épocas do ano favoreceu o aumento populacional de duas pragas que transmitem essas viroses: a cigarrinha do milho, chamada de Dalbulusmaidis, e o pulgão do milho (Rhopalosiphummaidis).
A cigarrinha e o pulgão são bastante conhecidos em quase todas as regiões do Brasil, porém, a novidade é a presença dos agentes causadores desses complexos de viroses, como o spiroplasma, fitoplasma e mosaico.
Potencialidade de cada inseto
Cigarrinhas transmitem os molicutes, que se dividem em:
– Spiroplasma (Spiroplasmakunkelii), causador do enfezamento pálido;
– Fitoplasma, responsável pelo enfezamento vermelho;
– Vírus da risca do milho.
Já o pulgão é responsável pela transmissão do vírus do mosaico da cana-de-açúcar no milho.
Prejuízos
Há alguns anos começamos a verificar o aparecimento de plantas com sintomas de viroses, enfezamento pálido, vermelho e mosaico da cana-de-açúcar em regiões de diferentes altitudes, nas lavouras de inverno irrigadas, agravados pelos períodos de seca prolongados no início da safra de verão do ano anterior.
Essas plantas apresentavam sintomas nas folhas, com listras amareladas, espigas mal formadas e plantas acamadas a partir dos 85 dias do plantio.
Uma característica marcante desse tipo de enfezamento é que ele debilita a planta, e quando a mesma começa o processo de transferência de fotoassimilados da folha para o colmo e do colmo para o grão, ele se torna extremamente sensÃvel a doenças como fusário (Fusariummonilliforme), diplodia (Stenocarpela spp.), phytium (Phytiumsp), e podridão bacteriana (Erwinia sp.).
E agora?
O tipo de doença que aparece está diretamente ligado à região e ao clima onde a cigarrinha ou o pulgão conseguiram introduzir o patógeno. Por exemplo, no oeste baiano, no inverno irrigado, a doença favorecida foi o phytium; na safrinha 2015 no sudoeste de Goiás a doença favorecida foi o fusário, assim como no sistema irrigado do Triângulo Mineiro nos plantios recentes.
Os problemas destes patógenos não se restringem a milhos comerciais, mas grande parte da produção de sementes de milho na safra 2015/16 foi extremamente prejudicada por este problema. Temos relatos de lavoura de milho doce irrigado com podridão bacteriana (Erwinia) na safra 2015 na região leste do Estado de Goiás.
As plantas infectadas apresentam os entrenós mais curtos que as plantas normais. Já os sintomas nas espigas são bastante diversificados e dependem da época que a planta foi infectada. Podemos ter desde espigas completamente estéreis, sem grãos, espigas malformadas e/ou com pouca quantidade de grãos, e espigas pequenas ou ainda, em alguns casos, multiespigamento na planta, porém, com espigas não viáveis.
Problema ainda maior
Apesar de há algum tempo a Embrapa Milho e Sorgo relatar prejuízos pontuais, principalmente pela pesquisadora Elizabeth de Oliveira, agora o problema tem ocorrido em áreas expressivas de produção de milho, como por exemplo, em milho irrigado no Oeste Baiano, em 2014, e safrinha no Estado de Goiás no ano de 2015.
Os fatos que provavelmente favoreceram tal ocorrência foram a condição inicial de muito calor e seca no início do verão 2015, além da grande quantidade de milho voluntário (tiguera)mal controlado nas lavouras de soja, resistente ao glifosato, campos de produção de milho semente no inverno, chamadas “pontes verdes“, onde há um aumento na população do inseto transmissor, que tem tempo para se contaminar nessas plantas mais velhas e atacar as culturas recém-implantadas. Sabe-se que quanto mais cedo o contágio, maior será o dano à cultura.
Os principais problemas que estamos nos deparando quanto ao enfezamento pálido e vermelho acontecem em regiões onde está ocorrendo uma migração neste momento de milho verão para o milho safrinha, ou de inverno irrigado para o verão, ou seja, onde temos grande quantidade de lavouras de milho em fase adiantada de desenvolvimento, e muitas lavouras novas, recém-instaladas, de milho safrinha.
Outra situação de ataque, mas quanto ao pulgão e à virose do mosaico da cana-de-açúcar, foi onde havia, além de lavouras de milho de diferentes fases, a presença de lavouras de cana-de-açúcar.
O controle num futuro próximo terá que ser via genética resistente, como ocorreu com o “Cornstund“, porém, até o momento não identificamos híbridos de milho resistente ou sequer com boa tolerância.