Roberto Estêvão Bragion de Toledo
         Eng. Agr. Dr. Pós-doutorando em Fitotecnica na área de concentração de Biologia e Manejo de Plantas Daninhas ““ ESALQ ““ USP
Ricardo Victória Filho
Prof. Titular em Biologia e Manejo de Plantas Daninhas – ESALQ ““ USP
Eduardo Negrisoli
Eng. Agr. Dr. TechField Assessoria e Consultoria Agrícola e Ambiental
Marcelo Rocha Correa
Eng. Agr. Dr. TechField Assessoria e Consultoria Agrícola e Ambiental
Alfredo Junior P. Albrecht
Prof. Msc. Universidade Federal do Paraná ““ Campus Palotina, PR
Fabricia Cristina dos Reis
Eng. Agr. Msc. Pós-graduanda em Fitotecnia ““ ESALQ ““ USP
Um dos principais desafios em áreas florestais e plantações de eucalipto é definir e adotar estratégias eficazes para o manejo de plantas daninhas nestas áreas, pois a interferência dessas plantas daninhas podem causar reduções significativas em até 80% a produtividade de madeira, na qualidade da matéria-prima, reduzir a longevidade da plantação de eucalipto, além de aumentar os custos de produção.
           Toledo et al. (1996) constataram que a atividade mais onerosa no primeiro ano de implantação de Eucalyptus grandis é o controle das plantas daninhas. Nesta pesquisa, o controle do capim-braquiária na entrelinha de plantio com quatro capinas manuais representou 30,7% dos custos totais de implantação, enquanto que o controle químico do capim-braquiária com glyphosate em três ocasiões representou 17,3% do total do custo de implantação da área florestal.
A interferência de plantas daninhas tem sido o grande problema na implantação e manutenção de florestas de Eucalyptus e Pinus sp, o que pode ser confirmado por alguns estudos que demonstram que essas plantas causam prejuízos ao crescimento e a produtividade, a medida que estas competem por água, nutrientes e espaço, interceptam a luz, exercem pressão de natureza alelopática, aumentam riscos de incêndios e outros, justificando, plenamente, a preocupação com seu controle (Pitelli, 1987, Victória Filho, 1987, Pitelli & Marchi, 1991 e Toledo, 1998). Além desses fatores, depara-se também com o aumento progressivo nos custos da mão de obra necessária para as operações de limpeza e manutenção desses plantios (Toledo et al., 1996).
A interferência das plantas daninhas em áreas florestais e plantações de eucaliptos é mais expressiva no primeiro e no segundo anos de implementação da cultura (Toledo, 1998 e Toledo, 2002).
Entre as principais espécies de plantas daninhas problemas nas áreas florestais e nos plantios de eucalipto, destacam-se aquelas pertencentes a família Poacea (Graminea), representadas por importantes forrageiras, como o capim-braquiária (Brachiaria decumbens) e o capim-colonião (Panicum maximum), as quais são extremamente agressivas e ocorrem com elevada frequência, devido à frequente substituição de antigas pastagens por áreas florestais e plantações de eucalipto (Toledo, 1998).
No entanto, outras espécies de plantas daninhas estão sendo consideradas importantes em áreas florestais, dentre as quais as diferentes espécies de cordas-de-viola, particularmente as pertencentes aos gêneros Ipomoea e Merremia (FamÃlia Convulvolacea), bem como outras plantas daninhas com caules e ramos volúveis, ou seja, trepadeiras, como melão-de-São-Caetano (Momordica charantia), bucha (Luffa aegyptica), mucuna-preta (Mucuna pruriens), soja-perene (Neonotonia wihgtti ou Glycine wihgtii) e cipó-de-São-João (Pyrostegia venusta), conforme citado por Toledo (2002).
O manejo das plantas daninhas é muito importante para o sucesso da implantação, crescimento, produtividade e manutenção dos povoamentos florestais. A cultura do eucalipto apresenta crescimento inicial lento e manifesta alta sensibilidade à interferência de plantas daninhas, necessitando de cuidados especiais no controle dessas, até que a cultura sombreie o solo, dificultando o crescimento e desenvolvimento das infestantes. Normalmente, em florestas de eucalipto, esse manejo é feito por métodos mecânicos e químicos, isolados ou combinados. No caso das empresas florestais, em que as áreas cultivadas são geralmente extensas, a escassez de mão de obra, aliada à necessidade de atingir elevado Ãndice de produtividade, dentro de padrões econômicos aceitáveis, tem sido responsável pelo aumento da área tratada com herbicidas.
Por outro lado, alguns pesquisadores como Pitelli et al. (1988), Marchi (1996), Bezutte et al (1995), Toledo (1998), Toledo et al (1999) e Toledo (2002) relatam em estudos realizados em áreas de eucalipto diferentes períodos de interferência das plantas daninhas e a cultura do eucalipto, o que é explicado pela diversidade dos fatores que influenciam o grau de interferência entre o eucalipto e as plantas daninhas, como espécies, clones, espécies de planta daninha, bem como a densidade e distribuição da infestação, condições de solo e clima, bem como o controle realizado nas diferentes áreas produtivas (Tabela 01).
Toledo (1998) e Toledo et al (1999) constataram que a faixa constante de controle de 50 cm de cada lado da linha de plantio não foi suficiente para manter as plantas de eucalipto livres da interferência do capim-braquiária até os 390 dias após o transplante. A largura mÃnima da faixa de controle que proporcionou maior velocidade de crescimento, maior altura e diâmetro das plantas de eucalipto foi de 100 cm, correspondendo a faixa total de 2,0 m de largura na linha. Na região onde a principal planta daninha foi o capim-colonião, a largura da faixa de controle foi de 50 cm; na outra região onde o capim-favorito predominava a largura da faixa de controle foi de 75 cm para o maior incremento médio, tanto em altura com em diâmetro (Silva, 1999 e Silva et al. 1999).
Tabela 01: PerÃodos de controle das plantas daninhas em áreas florestais e plantações de eucalipto conforme pesquisas realizadas por diferentes autores.
Espécie florestal | infestação |
Dias de controle* |
Autores |
Eucalyptus urophylla | gramÃneas |
0 a 105 dias |
Pitelli et al. (1998) |
Eucalyptus urophylla | folhas largas |
30 a 60 dias |
Pitelli et al. (1988) |
Eucalyptus grandis | gramÃneas |
0 a 120 dias |
Marchi (1996) |
Eucalyptus grandis | gramÃneas |
56 a 168 dias |
Bezutte et al. (1998) |
Eucalyptus urograndis | gramÃneas |
18 – 24 a 140 dias |
Toledo et al. (1998) |
Eucalyptus urograndis | gramÃneas |
18 – 24 a 196 dias |
Toledo et al. (1999) |
* valores médios considerando os principais trabalhos publicados na área e a interferência |
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no crescimento inicial, desenvolvimento e estimativa de produtividade no 1 ano, não estando contabilizados |
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os danos relativos a interferência no rendimento de colheita e longevidade da área florestal. |
O uso de herbicidas seletivos à cultura do eucalipto, com amplo espectro e residual de controle aliados a flexibilidade de aplicação no manejo de áreas pré plantio, em diferentes épocas do ano proporcionam melhores resultados de controle das plantas daninhas em todas as fases do sistema produtivo, além da significativa redução dos níveis de infestação ao longo dos anos, o que consequentemente irá reduzir os custos com aplicações complementares e repasses de herbicidas, tendo como reflexo o aumento de produtividade.
É importante considerar dentre as estratégias de manejo, alternativas para a desinfestação das áreas já na erradicação das pastagens e outras culturas, bem como na reforma das áreas de eucalipto e/ou na dessecação das plantas daninhas. Em alguns casos, recomenda-se a associação de herbicidas com ação residual ao glifosato para auxiliar na velocidade de dessecação e no residual, reduzindo assim a deposição de sementes de plantas daninhas no solo.