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Extratos naturais – As pragas que se cuidem

Autora

Nilva Terezinha Teixeira
Engenheira agrônoma, doutora em Solos e Nutrição de Plantas e professora de Nutrição de Plantas, Bioquímica e Produção Orgânica do Centro Universitário do Espírito Santo do Pinhal (UniPinhal)
nilvatteixeira@yahoo.com.br

Créditos Shutterstock

A produção orgânica de alimentos vem crescendo em nosso País, assim como em todo o planeta. Em 2016, de acordo com o Ministério de Agricultura e Abastecimento (MAPA), o número de unidades produtivas no Brasil aumentou cerca de 30%, relativo a 2015. Os registros de cadastro do Mapa mostram (ao final de dezembro de 2017) 17.251 produtores orgânicos certificados em nosso País.

Sustentabilidade

Os produtos orgânicos ganharam espaço no mercado de alimentos, pois empregam em toda a cadeia produtiva técnicas que respeitam o meio ambiente e visam à qualidade do alimento.

Entre os problemas encontrados no sistema de produção em questão está o controle de problemas fitossanitários. Entre as medidas para tal estão o correto preparo de solo, irrigação e correção de fertilidade do solo adequadas, cuidados com movimentação de máquinas e equipamentos, compostagem de estercos animais, rotação de cultura e o plantio de variedades resistentes.

Entretanto, pragas e doenças ocorrem, e o controle deve ser feito com alternativas menos impactantes ao meio ambiente, aos animais, colaboradores e consumidores do alimento. Entre as medidas está o emprego de extratos e de caldas vegetais.

Os extratos vegetais

Nos dias de hoje o Brasil dispõe, por meio do MAPA, de legislação para específica para registro de produtos fitossanitários para uso na agricultura orgânica.

As plantas produzem uma grande e diversa variedade de componentes orgânicos: os denominados metabólitos primários, que são os necessários para a sobrevivência, produção e armazenamento de energia (fotossíntese, respiração, formação de proteínas, etc.) e os secundários, que produzem substâncias importantes no enfrentamento do estresse e adaptação ao meio ambiente.

Os metabólitos secundários das plantas são compostos químicos que podem atuar também como pesticidas naturais de defesa contra herbívoros ou microrganismos patogênicos, como os alcaloides (derivados de aminoácidos e proteínas, as substâncias fenólicas (derivados dos carboidratos, e que apresentam ao menos um anel aromático), flavonoides, taninos, quinonas, óleos essenciais, saponinas, heterosídeos cardioativos e os terpenos.

Esses compostos podem ter função direta no controle, podem inativar toxinas produzidas pelos microrganismos ou podem repelir os fitopatógenos ou insetos-pragas (provocando inibição da alimentação, redução do consumo alimentar, atraso no desenvolvimento, deformações e esterilidade dos insetos).

Benefícios

A principal vantagem relacionada ao uso de extratos vegetais em proteção de plantas, quando comparados aos produtos sintéticos, deve-se ao fato de gerar novos compostos, os quais os patógenos não se tornaram capazes de inativar, além de serem menos tóxicos, serem degradados rapidamente pelo ambiente, possuírem um amplo modo de ação e de serem derivados de recursos renováveis. Existem plantas repelentes (como a hortelã-pimenta, que repele formigas) e defensivas (como o nem).

 Os primeiros inseticidas derivados de plantas foram a nicotina (extraída do Nicotiana tabacum), a piretrina (extraída do Chrysanthemum cinerariaefolium), a rotenona (retirada do Derri ssp. e Lonchocarpus spp.). Hoje, o MAPA emprega como referência para o registro de produtos fitossanitários o neem.

Princípios ativos

Tem-se constatado, na literatura, referências indicando que extratos de alho podem controlar com eficiência Fusarium proliferatum por extratos de alho e capim-santo, Colletotricum gloeosporioides, por extratos de melão-de-são-caetano e eucalipto, e Bipolaris sorokiniana, por extrato de cânfora, Helenium amarum, Alternanthera dentata, Lippia alba e Solanum cordifolium inibem o crescimento do fungo Colletotrichum musae.

As plantas medicinais possuem compostos secundários, podendo apresentar atividade direta, por meio de extratos brutos e óleos essenciais, sobre fitopatógenos como bactérias, nematoides e fungos ou indireta, que ativam os mecanismos de defesa das plantas contra os patógenos.

As plantas invasoras produzem compostos químicos que podem influenciar o crescimento e produtividade de plantas vizinhas que, entretanto, têm seu próprio mecanismo de defesa. Produzem compostos denominados aleloquímicos que, de fato, são herbicidas naturais classificados como esteroides, ácidos graxos de cadeia longa e lactonas insaturadas.

Extratos das folhas e de sementes de feijão de porco, muito empregadas como adubo verde, são eficientes contra as invasoras Commelina erecta (trapoeraba) e Ipomoea grandifolia (corda-de-viola).

Desafios

Os produtores têm enfrentado problemas no controle de fitonematoides: além de ser difícil, os produtos recomendados são altamente tóxicos e têm o seu uso restringido. Além de rotações com plantas não hospedeiras (que contêm compostos nematicidas/nematostáticos em tecidos e exsudatos), há referências na literatura indicando que, em ensaio em casa de vegetação, a incorporação de torta de neem ao solo infestado com o nematoide Meloidogyne javanica provocara redução do número de galhas e de ovos desta espécie. Porém, são necessários mais estudos.

A tabela 1 indica algumas receitas empregando-se plantas no controle de pragas e doenças.

Tabela 1 – Algumas indicações para controle fitossanitário

PLANTAS PREPARO AÇÃO
Alho 1. Moer 1,0 kg de alho e deixar em repouso por 24 horas em 20 colheres de café de óleo mineral. 2.Em outra vasilha, dissolver 100 g de sabão (picado) em 5,0 litros de água, de preferência quente. 3. Misturar os dois ingredientes preparados anteriormente. 4. Diluir em 100 litros de água e pulverizar. Como fungicida: míldio, brusone, mancha de alternária, helmintosporiose e ferrugem. Como inseticida: lagarta-da-maçã, lagarta-do-cartucho, tripes e pulgão. Nos EUA, o óleo é registrado como repelente para brássicas, cereais, citros, algodão, cucurbitáceas, folhosas, macadâmia, pecã, ornamentais e tubérculos.
Anjico 1 kg de folhas de angico. 10 litros de água. Deixar as folhas de molho por oito dias. Para controle de formigas cortadeiras e saúvas. Aplicar 1 l.m-2 de formigueiro
Arruda Oito ramos de arruda com 30 cm de comprimento – com folhas. 1 litro de água. 19 litros de espalhante adesivo com sabão de coco. Bater os ramos com o litro de água no liquidificador. Filtrar (com pano fino) e juntar ao espalhante. Indicado para pulgões, cochonilha branca e ácaros.
Cravo-de-defunto 1,0 kg de folhas de cravo-de-defunto em 10 litros de água.  Ferver as folhas nos 10 litros de água por 30 minutos ou deixar as folhas de molho na água por dois dias. Filtrar e pulverizar as plantas. Controla pulgões, ácaros e lagartas.
Neem Despolpar os frutos, deixar secar as sementes e moê-las. Deixar de molho em água, filtrar e usar em pulverização. Pode-se, também, adicionar 5,0 g de sabão dissolvido no extrato. Indicado no controle de mosca-branca, lagartas e  alternária.
Primavera Um litro de folhas de primavera (rosa ou roxa) e 1 litro de água Bater no liquidificador as folhas e a água. Diluir o extrato em 20 litros de água. Pulverizar em horários de temperatura amena. Controla vira-cabeça-do-tomateiro e virose do tabaco e do feijoeiro.

 A tabela 2 relata algumas espécies vegetais com atividade na proteção das plantas.

Tabela 2 – Outras plantas com potencial uso na proteção das plantas

Plantas Ação
Alecrim-pimenta e  capim-limão Combate fungos.
Cebola ou cebolinha verde Repele vaquinha e combate pulgões e lagartas.
Citronela O óleo combate bacteriose e fungos.
Capuchinho Repelente de nematoides.
Chuchu, abóbora e nabo Atrativo de lesmas e caracóis.
Coentro Combate ácaros e pulgões.
Crotalária Combate nematoides.
Eucalipto Folhas combatem pragas de grãos armazenados.
Gergelim Combate saúvas – plantio associado.
Pimenta Repelente de insetos.
Samambaia Combate cochonilhas e pulgões.
Tomateiro Combate pulgões – folhas.
Urtiga Combate pulgões e fungos patógenos que atacam folhas.

Pesquisas

Estudos feitos pela Embrapa têm demonstrado que o uso do neem tem propiciado bons resultados. Por exemplo, no controle da lagarta-do-cartucho em milho, observou-se eficiência de 70 a 94%.

Porém, o produto deve ser aplicado quando a lagarta estiver com menos de oito dias de idade, ou seja, com tamanho inferior a 1,0 cm de comprimento. O melhor controle da lagarta é obtido com três aplicações da calda, com intervalo de dois dias entre as aplicações.

Esse número de aplicações se faz necessário devido ao crescimento dinâmico da planta, surgindo novos tecidos foliares que não estarão protegidos pelo extrato e sujeitos ao ataque da lagarta. O uso direto sobre as lagartas tem pouco efeito.

Também, na Embrapa, estudos mostraram a eficácia do nem contra fusariose da pimenta-do-reino. O controle total da doença nas mudas ocorreu com 10 g.l-1 de folhas de neem frescas ou secas trituradas incorporadas no solo. Porém, a instituição recomenda a incorporação de 50 g.l-1 para que se tenha, além da proteção à doença, um melhor desenvolvimento das mudas.

Custo-benefício

No balanço de custo-benefício do emprego de extratos ou caldas vegetais no controle de pragas e doenças de plantas, deve-se considerar que aos princípios ativos presentes nas calda e extratos vegetais:

– Não altera o metabolismo das plantas por eles tratadas;

– Não são persistentes, degradando-se no solo e nas plantas, não impactando o meio ambiente;

– Não são tóxicos aos animais e aos humanos.

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