Carlos Reisser Júnior
Doutor e pesquisador do Laboratório de Agrometeorologia da Embrapa Clima Temperado
Apesar de pequenos, os tomates “gourmet“ (muito utilizados na culinária fina) apresentam um mercado de grande potencial. Acredita-se que o nicho já atinja 20% do mercado de tomates de mesa (40.000 ha/ano) e segue crescendo. Sua produtividade, apesar de menor, é compensada pelo maior preço de mercado.
Em termos de produtividade, na Colômbia foram avaliados 30 materiais genéticos diferentes de tomate cereja, verificando-se que em 8.300 plantas por hectare as produtividades variaram de 2 a 0,2 kg. Isso mostra que a produtividade pode variar muito dentro deste tipo de tomate, o que salienta a escolha correta da cultivar.
Outros fatores influentes na produtividade são o ciclo cultura, que pode ser reduzido com poda apical, prática utilizada para estancar a produção quando o preço não é favorável em determinada época.
Por outro lado, o preço desta hortaliça pode atingir valores maiores que o dobro do tomate de mesa. Por exemplo, atualmente, enquanto o preço de comercialização do tomate salada na CEAGESP é de R$ 2,57, o do tomate cereja é de R$ 4,17.
Cultivo
Para a produção deste tipo de tomate pode-se usar praticamente o mesmo sistema de produção dos demais. Apesar dos frutos serem de menor tamanho, a planta pouco difere dos tomateiros de hábito de crescimento semelhante, que pode ser determinado ou indeterminado.
Portanto, a maioria das exigências da cultura e suas práticas de produção devem ser semelhantes, lembrando algumas:
â–º A temperatura do ar adequada à boa produtividade é próximados 27ºC durante o dia e próximade 18ºC durante a noite. Temperaturas abaixo de 10ºC reduzem a produtividade, dependendo do período, que está relacionado diretamente com a fertilidade das flores;
â–º A umidade relativa do ar é um fator relativo à temperatura do ar, e deve ser mantida de forma que não seja muito baixa em condições de elevada temperatura do ar. O mais importante é a ventilação do ambiente, de forma a evitar ou retirar da lavoura o mais rapidamente possível a água livre condensada sobre as superfícies. Práticas como cobertura do solo e irrigação durante o dia podem reduzir a condensação de água;
â–º Polinização é um fator importante para a cultura do tomateiro. Em períodos de pouca presença de insetos polinizadores, especialmente em estufas e túneis fechados, ou em épocas frias, a ventilação ou movimentação das plantas pode ser fator fundamental para o pegamento de frutos ou redução daqueles mal formados. A colocação de abelhas ou outros insetos polinizadores próximos ou dentro da lavoura é uma prática recomendada em algumas situações;
â–º Condução e poda são práticas necessárias para a boa condução da cultura. Dependendo do hábito de crescimento, a retirada de brotos ou cachos florais pode ser necessária. O desbaste de folhas com doenças ou secas abaixo do cacho floral pode ser importante para reduzir o inóculo de doenças e melhorar a insolação da cultura;
â–º Irrigação é fundamental, tanto na qualidade da água relacionada à salinidade (deve ser menor que 0,5dS/m e pH próximo de 6) quanto em quantidade, e é muito relacionada à evapotranspiração do local. Estudos mostram que 75% da evapotranspiração da cultura durante o ciclo todo pode ser o melhor manejo para o caso de necessidade de irrigação.
Em algumas situações, as plantas podem atingir produtividades de 0,40 kg por planta, consumindo 44 L durante um ciclo cultural. O acompanhamento da qualidade da água e da solução que chega às plantas deve ser monitorado com condutivÃmetros, que medem a salinidade da água, e de peagâmetros, que medem o pH.
â–º O controle fitossanitário da cultura segue as mesmas recomendações da cultura do tomateiro de mesa, sendo que alguns trabalhos mostram que as plantas de tomate cereja são mais resistentes às doenças do que as de mesa.
â–º Nutrição é um fator importante para o crescimento e desenvolvimento adequado das plantas. Os minerais ou macronutrientes mais necessários são nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio, magnésio e enxofre. Os menos necessários, ou micronutrientes, são boro, cloro, cobre, ferro, manganês molibdênio e zinco. Todos estes nutrientes são utilizados pela planta ao longo de seu ciclo produtivo, com necessidades maiores, dependo do seu estado fenológico.
Nutrição via fertirrigação
Os nutrientes em cultivos de sequeiro são colocados em pré-plantio, junto à linha das plantas. Mas, como a maioria dos cultivos é irrigada, uma prática comum é a aplicação de adubos junto à água de irrigação, chamada de fertirrigação.
Desses elementos, o fósforo é um dos mais importantes, que devido a sua baixa solubilidade deve ser aplicado parte antes da instalação da cultura e outra parte juntamente com a água ao longo do ciclo. O cálcio é outro elemento que pode ser aplicado via irrigação, principalmente durante a formação dos frutos, fase de maior exigência.
O fornecimento deste elemento também é feito pela calagem recomendada antes do preparo do solo para o cultivo. Os outros elementos também podem ser aplicados em pré-plantio e complementados com fertirrigação.
Para a fertirrigação são recomendados nutrientes completamente solúveis, que estão disponíveis no mercado, de preferência os elementos mais simples por serem mais baratos. Há disponibilidade de toda a gama de nutrientes solúveis, tanto os macro quanto os micronutrientes.