Leandro Hahn
Engenheiro agrônomo, doutor e pesquisador da Epagri e professor da Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp)
Estevão Varela Ferreira
Graduando em Agronomia na Universidade Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp)
O tomate é uma planta herbácea, autógama, diploide e com 24 cromossomos. A flor é regular e hipógina, com cinco ou mais sépalas, cinco ou mais pétalas dispostas de forma helicoidal, com o mesmo número de estames e com um ovário bi ou plurilocular.
A taxa de polinização cruzada natural varia de 0,5 a 4%. Apesar de ser uma planta perene, é cultivada como anual. A inflorescência possui flores pedunculadas inseridas no racimo ou cacho, de maneira que as flores mais velhas estão mais afastadas do ápice.
O rácimo ou cacho pode se apresentar em três formas: simples – com um eixo; bifurcado; e ramificado. Nos vários tipos de rácimo, o número de flores por rácimo e a frutificação efetiva são variáveis, e altamente influenciados por vários fatores, dentre eles cultivar, temperatura, umidade relativa do ar, luminosidade, nutrição mineral e com a relação entre outros órgãos da planta, além do efeito de reguladores de crescimento. A precocidade, rendimento e qualidade dos frutos de tomate são, evidentemente, influenciados pela diferenciação e desenvolvimento da flor.
Nutrição mineral e a florada do tomateiro
Sob o ponto de vista nutricional, para a obtenção de plantas produtivas e com produção de qualidade, é necessário que haja disponibilidade e absorção dos nutrientes em proporções adequadas.
Qualquer desequilíbrio nessas proporções pode causar a deficiência ou o excesso de nutrientes ou mesmo a ocorrência de distúrbios fisiológicos. A quantidade de nutrientes extraÃda pelo tomateiro é relativamente pequena, mas a exigência de adubação é muito grande, pois a eficiência de absorção dos nutrientes pela planta é baixa.
Para os fertilizantes fosfatados, por exemplo, a taxa de absorção é de aproximadamente 10 a 20%. O restante fica no solo, na forma de resíduo, podendo ser absorvido por plantas daninhas, ser transportado pela água ou ser retido por partículas do solo.
Em harmonia
De maneira equilibrada, todos os macro e micronutrientes são importantes para a cultura durante o ciclo, mas em se tratando de floração, o elemento que apresenta a maior importância na cultura do tomateiro é o boro (B).
Por atuar nos ápices vegetativos da planta, o B estimula a formação de raízes, o crescimento das plantas e garante uma boa floração. Exerce também importante função na translocação do cálcio no interior da planta, na germinação do pólen e na absorção de água.
Por ser pouco móvel na planta, os sintomas de deficiência de boro ocorrem, inicialmente, nos pontos de crescimento, onde se observa redução no crescimento e encurtamento dos internódios ou afinamento do talo e pode até mesmo provocar rachadura, podendo haver rompimento das nervuras.
A deficiência de boro pode causar abortamento de flores. Já nos frutos pode provocar rachaduras, distúrbio que é denominado fruto com lóculos abertos. Os sintomas são mais propensos a aparecer em solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica e pH muito alto, associado a períodos com extremos de temperatura do ar, principalmente altas temperaturas.
O B, mesmo com teores altos no solo, é aplicado sistematicamente, seja no plantio via solo como bórax, ou formulado com outros nutrientes, seja via fertirrigação na forma de ácido bórico, seja via foliar.
Esta maior preocupação se explica pela relação do elemento com condições climáticas desfavoráveis à absorção e translocação do elemento para as regiões de maior demanda, como flores e frutos, em períodos de estresses hídricos e altas temperaturas. Importante é que durante todo o período de florescimento das plantas haja um adequado fornecimento de B para a planta.
Detalhes que fazem a diferença
Para o B, recomenda-se ainda aplicar, nesta adubação de base, em torno de 3 a5 kg/ha, utilizando 30-50 kg/ha de bórax também na linha no sulco de plantio. Pode-se utilizar também ácido bórico durante a fertirrigação, distribuído durante o ciclo de crescimento das plantas.
A partir do momento em que se constatou visualmente ou por meio de uma análise foliar que realmente a planta tem deficiência de B, é recomendada para o controle desse distúrbio a aplicação de duas a três pulverizações com bórax cristal a 0,4%, ou solubor a 0,2% como fonte de B.
Contudo, devem-se evitar aplicações em excesso, tanto via solo como via foliar, uma vez que a faixa de tolerância da cultura entre deficiência e toxidez é muito estreita. O acúmulo nutricional do tomateiro é mais acentuado entre 30 e 70 dias após o transplante, do início da formação das pencas e da plena frutificação até o início do processo de maturação dos frutos, cerca de 80 a 90 dias após o transplante.