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sábado, novembro 23, 2024
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Florestas energéticas – Vantagens das espécies de ciclo mais curto

Atualmente, espécies florestais estão sendo plantadas em larga escala, especialmente nos cultivos destinados à produção de energia, pelas características de suas madeiras. Por outro lado, mudanças profundas estão se processando como, por exemplo, o estabelecimento de plantios com espaçamentos menores que abrigam uma população de 6.664 plantas por hectare, com cortes de três em três anos, num ciclo de 18 anos

Crédito Shutterstock

A espécie florestal de ciclo mais curto plantada em larga escala é o eucalipto, normalmente manejado em ciclos de seis a sete anos, sendo que para cada plantio se corta duas a três vezes, uma vez que as árvores rebrotam e crescem novamente depois do corte.

Segundo Erich Schaitza, pesquisador da Embrapa Florestas, os eucaliptos são plantados há muitas décadas e as espécies são as mesmas. “A novidade no mercado são novos clones desenvolvidos para crescimento rápido em diferentes situações de solo, água e clima”, relata.

Manejo

A atividade florestal para a produção de energia normalmente é conduzida da mesma forma que os plantios destinados à celulose, com espaçamentos de 2,0 x 3,0 m ou 3,0 x 3,0 m, com adubação apropriada, bom controle de plantas daninhas no plantio, controle de formigas e corte após seis a sete anos, conforme o sítio, o crescimento e a oportunidade de venda da madeira.

Há uma série de documentos técnicos que orientam a forma de plantio e os principais cuidados a serem tomados, com as medidas silviculturais necessárias para um empreendimento de sucesso. Erich Schaitza aponta o site da Embrapa como fonte de mais informações sobre as formas apropriadas de se plantar eucaliptos, primeiro com perguntas e respostas no link https://www.embrapa.br/florestas/transferencia-de-tecnologia/eucalipto/perguntas-e-respostas e com uma descrição do sistema de produção genérico em   https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/doc54_000fjvb9ypm02wyiv80sq98yq0mwtkuk.pdf ou https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1080777/1/SP35Sistemadeproduc807a771odoEucalipto.pdf

“Normalmente, o que se procura é produzir a maior massa de madeira possível por unidade de área a um menor custo. Como a cultura do eucalipto é muito disseminada e há bons silvicultores em todas as regiões do País, uma boa estratégia é copiar a forma de plantio adotada por eles. No entanto, nada substitui uma boa assistência técnica dada por um engenheiro com bom conhecimento, seja ele um técnico da extensão rural ou um consultor independente”, ressalta o especialista.

Ainda, na vizinhança de empresas de celulose ou de carvão vegetal, muitas vezes há programas de fomento florestal que não só ensinam as pessoas a plantar, mas também disponibilizam os melhores insumos para quem quer entrar na atividade.

Consorciação

Até agora, o eucalipto era muito disseminado no plantio solteiro, mas ele pode ser consorciado com culturas agrícolas e pecuária em sistemas agroflorestais ou em integrações de lavoura, pecuária e floresta.

“Em todo caso, os resultados em campo são muito relacionados com o material genético plantado, a técnica de plantio e as condições de solo, água e clima. Com isso, há uma diferença grande de resultados obtidos em diferentes regiões. No entanto, dá para fazer algumas generalizações e dizer que bons plantios produzem anualmente de 30 a 50 m3 por hectare ou de 180 a 300 m3 por hectare em um ciclo de seis anos”, calcula Erich Schaitza.

A Embrapa Florestas desenvolveu uma série de simuladores de crescimento para espécies florestais e há sistemas para diversas espécies de eucalipto em plantios puros e em sistemas de integração de lavoura-pecuária-floresta.

A partir de informações de plantios existentes na região ou mesmo de plantios jovens, o Siseucaliptus e o SisILPF podem modelar e fazer estimativas de crescimento e produção das árvores. Segundo o pesquisador, só é necessário conhecer o índice de sítio do lugar de plantio e as condições iniciais de plantio, e a partir daí é possível simular as mais diferentes situações como espaçamentos diferentes, desbastes, rendimentos em diferentes idades.

No entanto, quando se fala em plantio para biomassa, tanto para energia ou para celulose, é importante lembrar que o que interessa é a produção de massa de madeira, e não a produção volumétrica. E para isso é importante conhecer a densidade esperada do material que será plantado. “Diferentes espécies e dentro de espécies, e diferentes materiais genéticos possuem densidade variada. Um Eucalyptus citriodora tem densidade na ordem de 550 a 700 kg por metro cúbico. Eucalyptus grandis, na ordem de 350 a 500 kg por metro cúbico. Um quilo do primeiro, a mesma umidade, gera a mesma energia de um quilo do segundo. Então, note que um metro cúbico de citriodora gerará mais energia do que um quilo de grandis. Com isso, não se deve escolher somente a espécie que cresce mais em volume, mas a que produz mais biomassa. Isso se faz pela multiplicação simples do volume pela densidade do material”, informa Schaitza.

Expectativa x realidade

Novamente explicando que não se tratam de novas espécies, mas de algumas experiências de plantios mais adensados, com de 6.664 plantas por hectare quando a maioria das empresas e produtores tradicionais plantam 1.100 a 2.000 plantas por hectare, o adensamento é feito na expectativa de que se produza mais em um menor tempo. “Em algumas situações, pode ser vantajoso, mas de forma geral não é”, alerta o pesquisador.

Três argumentos dados por Erich Schaitza para não se adotar essa estratégia de adensamento:

] As principais empresas florestais, com grandes equipes de engenharia e com busca constante de alternativas para se aumentar a produtividade, não adotam esses adensamentos;

] Dentro de um mesmo material, a densidade da madeira (lembra daquele número que é multiplicado pelo volume para ver quanto de biomassa se tem?) aumenta com a idade. Além disso, a casca de eucalipto é menos densa ainda do que a madeira e a quantidade relativa de casca em plantios novos é muito maior do que em plantios mais antigos. Por exemplo, um metro cúbico de citriodora com três anos possui 12% de casca e um metro cúbico de citriodora com seis anos possui 7% de casca. A densidade da casca é de 200 kg por m3, bem menos densa do que a madeira.

] Grande parte dos custos da produção são feitos no momento do plantio e na condução inicial do plantio. Plantar mais mudas significa gastar mais dinheiro com mudas, mais trabalho com plantio (plantar 1.667 árvores dá menos trabalho que plantar 6.664, não é?). Os custos de corte de um mesmo volume de árvores finas são mais altos do que o de árvores grossas. Logo, há um aumento de custo nas duas pontas do negócio.

Viabilidade

A seguir está uma simulação simples de dois plantios feitos em uma mesma área, com índice de sítio de 32 metros – um com 6.664 árvores por hectare, colhido aos quatro anos, e outro com 1.667, colhido aos seis anos.

As duas tabelas de produção foram geradas pelo simulador Siseucaliptus.

Tabela de crescimento e produção – Eucalyptus grandis/urograndis

 Descrição: 6.664 plantas

Índice de sítio: 32,0

Densidade (árvores por hectare): 6.664

Porcentagem de sobrevivência (1º ano): 100%

Idade Alt. dominante Árvore/ha Diâmetro médio Alt. média Área basal Volume total I.M.A. tCO2
2 13.0 6.137 5.3 10.0 13.7 52.7 26.9 50.6
3 18.6 5.564 7.1 14.4 22.0 123.3 41.1 116.4

            Equação de sítio: Embrapa (IS 07 anos)

            Equação de volume: Embrapa

            Equação de sentimento: Embrapa

            tCO2 – (Vol+25%) x (Dens. Básica: 0,49) x (CO2: 3,66)

Sortimento para árvores removidas no corte final (03 anos)

Classes DAP Árv./ha Altura média Volume total Serraria I Serraria II Celulose Energia
2,0 – 4,0 4 11.8 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0
4,0 – 6,0 1.169 13.6 14.7 0.0 0.0 0.0 14.7
6,0 – 8,0 3.263 14.3 69.8 0.0 0.0 0.0 69.8
8,0 – 10,0 1.089 14.9 36.9 0.0 0.0 6.9 30.0
10,0 – 12,0 40 15.4 2.0 0.0 0.0 1.4 0.6
Totais   14.4 123.3 0.0 0.0 8.3 115.1

Tabela de crescimento e produção – Eucalyptus grandis/urograndis

Descrição: 1.667 plantas

Índice de sítio: 32,0

Densidade (árvores por hectares):1.667

Porcentagem de sobrevivência (1º ano): 100%

Idade Alt. dominante Árv/ha Diâmetro médio Alt. média Área basal Volume total I.M.A. tCO2
2 13.0 1.662 8.3 11.3 9.0 39.3 19.7 37.0
3 18.6 1.649 11.4 16.1 16.7 104.9 35.0 98.8
4 22.9 1.628 13.4 19.9 22.8 177.4 44.4 167.1
5 26.5 1.602 14.8 23.0 27.4 246.6 49.3 232.1
6 29.5 1.593 15.8 25.6 30.9 308.7 51.5 290.7

            Equação de sítio: Embrapa (IS 7 anos)

                Equação de volume: Embrapa

                Equação de sortimento: Embrapa

                tCO2 = (Vol+25%) x (Dens. Básica: 0,49) x (C: 0,42) x (CO2: 3,66)

Sortimento para árvores removidas no corte final (06 anos)

Classes DAP Árv./ha Altura média Volume total Serraria I Serraria II Celulose Energia
10.0 – 12.0 8 23.3 0.8 0.0 0.0 0.5 0.3
12.0 – 14.0 227 24.6 30.7 0.0 0.0 26.0 4.6
14.0 – 16.0 679 25.4 119.8 0.0 0.0 109.0 10.8
16.0 – 18.0 517 26.0 116.6 0.0 0.0 108.4 8.2
18.0 – 20.0 132 26.5 37.2 0.0 0.0 35.2 2.0
20.0 – 22.0 11 26.9 3.7 0.0 1.4 2.2 0.1
Totais   25.6 308.7 0.0 1.4 281.4 25.9

Como Erich Schaitza disse anteriormente, parece intuitivo que o plantio de 6.664 mudas é mais caro que o de 1.667. “Vamos considerar que o custo é o mesmo, digamos para que nesse exemplo hipotético é R$ 5.000. No ano 3, o plantio adensado gerou 123 m3, a um custo de R$ 40,60 por metro cúbico (5.000/123). Se tivéssemos usado só 1.667 árvores por hectare, a produção no terceiro ano seria menor, apenas 104 m3. No entanto, deixamos as árvores no campo seis anos e colhemos 308 m3. Nesse caso, o custo da madeira seria de R$ 16,25 (5.000/308), significativamente menor do que no primeiro caso”, calcula.

Olhando para o sortimento de árvores a serem removidas, observa-se que há muito mais árvores para se colher menos volume no momento da exploração, e como disse o pesquisador, é mais barato colher árvores maiores.

Mesmo comparando duas safras de três anos no período de seis anos, como o eucalipto rebrota a produção seria de 246,6 m3 e o custo do metro cúbico cairia pela metade, a R$ 20,30, ainda maior do que no espaçamento anterior, mas com mais operações de corte, logo, com custos maiores.


BOX

Importância econômica

As espécies florestais movimentam bilhões de dólares no Brasil. A Ibá, Indústria Brasileira de Árvores, apresenta anualmente um balanço muito bem feito da economia florestal brasileira. Segundo esta, em 2018 foram US$ 90 bilhões de produção e US$ 9 bilhões em exportações de produtos gerados a partir de florestas plantadas e 3,7 milhões de empregos gerados.

Ainda conforme o mapa do Ibá, os Estados de maior produção são Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em valor de produção, o Paraná é o principal Estado florestal brasileiro, porque possui uma indústria diversificada e com maior agregação de valor da madeira.


Por dentro da floresta

José Leal Filho produz 650 hectares de eucalipto na fazenda Tamanduá, localizada em Campo Largo (PA). Sua produtividade fica entre 40 e 60 m3/ha/ano, com uma rentabilidade real entre 8,0 – 10%.

Segundo ele, o plantio adensado (ciclo curto) tem como benefício principal a aceleração do corte, elevando o incremento médio anual. “Em áreas com falta de madeira, posso aproveitar momentos de preços altos, mesmo que o custo final por metro cúbico seja um pouco maior”, considera.

Para José, o eucalipto é a espécie mais indicada para ciclo curto, mas há também experimentos com cana energética (cana-de-açúcar com genética voltada à produção de biomassa e não de açúcar) bastante promissores. “Não tenho realizado ciclo curto, no momento, pois a minha região tem sobra de madeira para energia. Os preços estão muito baixos e não há justificativa para tal. Porém, há regiões em que vários produtores estão aderindo a esse manejo”, relata.

Na prática

A adubação do plantio adensado (de ciclo curto) é mais intensiva. Como há mais plantas, a adubação total sai dos 250 kg/ha para até 900 kg/ha. Por outro lado, as ervas daninhas e pragas são reduzidas nesse plantio. Há uma dominância rápida do eucalipto, que “fecha” a área, dificultando o crescimento da matocompetição. 

Para investir no ciclo rápido, José diz que o indicador chave é o preço de madeira de energia ou de processo. “Se ele for alto, pode valer a pena aproveitar esses preços com um plantio adensado de ciclo rápido. Caso contrário, melhor deixar como está”, afirma.

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