Autores
Manoel Batista da Silva Júnior
Engenheiro agrônomo e doutor em Fitopatologia
mjunior_agroufla@yahoo.com.br
Deila Magna dos Santos Botelho
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e pós-doutoranda – Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Gustavo César Dias Silveira
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – UFLA
O cafeeiro é uma das culturas mais importantes do Brasil e sempre teve grande importância social e econômica pela geração de renda e empregos nas regiões produtoras. Segundo dados da Conab (2018), a produção vem crescendo a cada ano. Porém, as altas produtividades nem sempre são alcançadas devido a fatores adversos, entre os quais as doenças, em particular a ferrugem, cercosporiose, mancha de phoma, mancha aureolada e as doenças causadas por nematoides. A ferrugem, a cercosporiose e a mancha de phoma são doenças causadas por fungos e causam intensos danos ao cafeeiro.
A ferrugem é causada pelo fungo Hemileia vastatrix e provoca danos à lavoura. Os sintomas começam pela presença de pústulas de coloração amarelo-alaranjadas, de formato irregular, observadas na face inferior das folhas. Na face superior incialmente se observa uma descoloração, que evolui para necrose em estádios mais avançados. Ao final ocorre a desfolha.
Disseminação
Nas pústulas ficam os uredósporos ou urediniósporos, inóculo inicial do patógeno que pode ser disseminado pelo vento, associado ou não a chuvas/irrigação, e infectar novas folhas ou plantas. As condições favoráveis à doença são temperaturas entre 22 e 26°C, alta carga pendente na lavoura, plantios adensados, molhamento foliar e deficiências nutricionais.
Estas temperaturas são aquelas favoráveis à germinação dos uredósporos. A alta carga pendente faz as plantas direcionarem todas as reservas das folhas para os frutos, e assim as folhas ficam mais suscetíveis ao ataque do fungo. Os plantios densos causam maior sombreamento e retenção da água na superfície foliar, favorecendo a germinação dos uredósporos.
Já as deficiências nutricionais impedem que a planta forme adequadamente as barreiras de defesa, como camada de cera e formação de compostos fenólicos tóxicos aos patógenos, reduzindo assim a imunidade basal das plantas.
Danos
Os principais danos do ataque da doença são a desfolha, redução na fotossíntese, seca dos ramos e redução na longevidade das lavouras. Depois que as pústulas evoluem, as folhas tendem a cair. Esta desfolha irá reduzir a fotossíntese e a ausência de folhas nos ramos pode leva-las a secar.
Caso a doença não seja controlada ao longo das safras, estes danos reduzirão o potencial produtivo e a longevidade da lavoura. As perdas podem alcançar até 50% na produção.
Cercospora coffeicola
A cercosporiose é causada pelo fungo Cercospora coffeicola e pode atacar plantas adultas no campo e as mudas no viveiro. Os sintomas nas folhas são lesões necróticas de coloração castanho, com centro claro, circundadas ou não por um halo amarelado.
Ao evoluírem, estas lesões levam à queda das folhas. Nos frutos podem ser observadas lesões elípticas de coloração castanho escuro deprimidas devido à aderência da casca ao fruto.
Nas lesões, o fungo forma os conidióforos, estruturas onde são formados e liberados os conídios, que são os esporos do fungo. Estes esporos são disseminados por vento, associado ou não à água de chuva ou irrigação, e infectam folhas e frutos sadios.
A doença é favorecida por temperaturas entre 10 e 25°C, plantios espaçados, molhamento foliar e deficiências nutricionais. Com exceção dos plantios adensados, as outras condições são as mesmas que favorecem a ferrugem. No caso da cercosporiose, o fungo utiliza uma toxina chamada cercosporina, que é ativada pela luz e é necessária para que ocorra a infecção. Sendo assim, os plantios adensados desfavorecem a manifestação da doença.
Esta doença pode causar desfolha e raquitismo de mudas no viveiro. O avanço no tamanho das lesões causadas pelo fungo leva à desfolha nas mudas e a desfolha reduz a fotossíntese, atrasando assim seu desenvolvimento. No campo ocorre seca de ramos, queda de frutos, depreciação da bebida e desfolha.
A desfolha deixa os ramos desprotegidos, além de reduzir a fotossíntese e o vigor das plantas. Ataques severos do fungo nos frutos podem induzir à queda destes, e ao aderir à casca nos grãos o fungo deprecia a qualidade na bebida. O não controle da doença ao longo dos anos pode reduzir a longevidade da lavoura. As perdas podem chegar à redução de 30% na produtividade do cafeeiro.
Phoma
A mancha de phoma é causada pelo fungo Phoma tarda e pode atacar o cafeeiro no viveiro e no campo. Os sintomas da doença são caracterizados por lesões foliares necróticas de formato irregular, circundadas ou não por um discreto halo amarelado, podendo ter ou não anéis concêntricos e causar ou não rasgaduras nas folhas.
A desfolha também pode ser observada. Chumbinhos atacados adquirem colocação escura e os ramos secam e ficam cobertos por pontuações escuras, os picnídios.
Nos picnídios são formados os esporos (conídios) do fungo e estes são disseminados pelo vento associado a chuvas ou irrigação. Esta doença tem como condições favoráveis os plantios em altitudes superiores a 900 metros, com faces expostas a ventos frios e temperaturas próximas de 18 a 20°C. Nessas condições ocorre maior germinação dos conídios e o vento frio é capaz de abrir ferimentos nos órgãos sadios, os quais são porta de entrada do patógeno. O desbalanço nutricional também pode favorecer a doença.
Os principais danos decorrentes da doença são a desfolha, queda e mumificação de flores e chumbinhos, seca e morte de ponteiros. Estes danos são mais severos durante a pré e pós-florada e o controle da doença é direcionado a estas épocas. As perdas causadas pela mancha de phoma variam de 15 a 43% na produção.
Controle acertado
O controle destas doenças é realizado, na maioria dos casos, por meio químico. Para a ferrugem existem cultivares com resistência, porém, os produtores preferem plantar cultivares suscetíveis, sendo o Catuaí, o Mundo Novo e o Topázio os que possuem maior área plantada, e todos são suscetíveis às três doenças.
Até a década de 60 os produtos à base de cobre eram os únicos produtos utilizados no manejo de doenças do cafeeiro. A partir de então foram lançados os fungicidas sistêmicos, como os triazóis e as estrobilurinas, os quais passaram a ser praticamente os únicos utilizados.
Como estes produtos apresentam modo de ação específico, há riscos da sua utilização constante sem rotação com outros ingredientes. Seu uso constante pode trazer riscos, como o aparecimento de populações resistentes dos patógenos.
Os fosfitos
Há necessidade de se introduzir novas ferramentas para o manejo das doenças do café. Dentre os produtos disponíveis no mercado, destacam-se os fosfitos, obtidos pela reação de uma base forte (hidróxido de potássio, cálcio, manganês, etc.) com o ácido fosforoso, resultando em fosfitos de potássio, cálcio e manganês.
Outro produto que pode ser obtido dessa forma é o fosfonato, que difere do fosfito por ter em sua composição um radical orgânico, como etil, propil, entre outros, e sua nomenclatura é dada como etilfosfonato de potássio, de cobre, etc.
Fosfitos e fosfonatos podem atuar ativando os mecanismos de defesa das plantas, nutrindo as mesmas e por toxidez direta ao patógeno. A ativação de defesa ou indução de resistência ocorre devido ao fósforo na forma de fosfito não ser assimilado pela planta, ou seja, a planta não tem enzimas capazes de converter esta molécula para a forma de fosfato, que pode ser incorporada em compostos úteis ao crescimento e desenvolvimento vegetal, como os ácidos nucleicos e a adenosina trifosfato (ATP).
O fornecimento do fosfito irá então promover um estresse na planta e este pode estimular a formação de espécies ativas de oxigênio, lignina, fenóis e ativar enzimas que irão atuar inibindo o desenvolvimento do patógeno nas células vegetais.
A nutrição ocorre pelo fornecimento do elemento que acompanha o fosfito, como o potássio, o cálcio, entre outros, e o fósforo, como comentando, não é nutricional. A toxidez direta ao patógeno ocorre pelo rompimento das hifas dos fungos, o que compromete o crescimento do patógeno e a colonização da planta.
Pesquisas
Alguns trabalhos de pesquisa mostram a eficiência destes produtos no manejo de patógenos na cultura do café. De acordo com Silva Júnior (2013), a aplicação foliar de fosfito de manganês associado a um fertilizante foliar à base de macro e micronutrientes promove controle da mancha de phoma em mudas de café. Estes produtos promoveram, ainda, aumento na taxa fotossintética e incremento na atividade da enzima fenilalanina amômia liase (FAL), que atua na defesa da planta.
Monteiro et al. (2016) verificaram que a formulação de fosfito de manganês promove controle da ferrugem em mudas de café e ativa a expressão de genes relacionados à defesa do cafeeiro contra Hemileia vastatrix.
Já em condições de campo, Costa et al. (2014) observaram que o fosfito de manganês controlou a severidade da cercosporiose em duas safras consecutivas, além de promover incrementos na produtividade e na retenção foliar das plantas. Quando o fosfito foi associado ao fungicida comercial, houve aumento na produtividade do cafeeiro em ano de safra alta.
Resultados
Com base no exposto, a aplicação do fosfito no cafeeiro deve ser realizada de forma preventiva, principalmente pelo seu modo de ação. O ideal é associar este produto às aplicações de fungicidas visando maior facilidade e redução nos custos operacionais, visto que o produtor já terá obrigatoriamente, que aplicar os fungicidas.
Além disso, a aplicação conjunta dos dois produtos pode funcionar como um reforço aos fungicidas que têm modo de ação específico, evitando ou atrasando assim o surgimento de populações resistentes do patógeno.
Dosagem
A dose a ser aplicada deve seguir a recomendação do fabricante, podendo ser encontradas recomendações de 1,0 até 3,0 L/ha, dependendo do produto e da empresa fabricante. As aplicações associadas às de fungicidas deverão ser realizadas, portanto, na pré e pós-florada para o manejo da mancha de phoma e em duas (nov/dez e fev/mar) ou três (nov, jan, mar) aplicações para o controle da ferrugem e da cercosporiose.
Custos
O custo dos fosfitos é bem variável, sendo encontrados no mercado produtos de R$ 20,00 a R$ 60,00. Um ponto importante a se ressaltar é que o custo mínimo de produção do fosfito gira em torno de R$ 20,00. Portanto, formulações com custo menor que este devem ter atenção especial, pois muito provavelmente não irão atender à expectativa do produtor.
O preço destes produtos é bem menor se comparado aos fungicidas e sua introdução não irá onerar tanto os custos de produção, se realizado de forma eficaz. Considerando como exemplo um fosfito que custa R$ 45,00 o litro, e com recomendação de aplicação de 2,0 L/ha, teremos um custo (2 L x R$ 45,00) de R$ 90,00 por hectare por aplicação. Considerando que serão realizadas cinco aplicações para o manejo de todas as doenças fúngicas, teremos um custo total por safra de R$ 450,00, o equivalente a 1,0 a 1,5 saca de café beneficiado.
Considerando apenas o manejo da ferrugem e da cercosporiose, o custo do fosfito será de R$ 270,00 por hectare (três aplicações). O fungicida epoxiconazol + piraclostrobin, que custa em torno de R$ 90,00 o litro, deve ser aplicado três vezes na dose de 1,5 L/ha. Isso nos dá um custo de R$ 135,00 por aplicação e R$ 405,00 por safra. Neste caso, vemos que o custo é bem menor que o do fungicida.
Portanto, os fosfitos podem ser utilizados no manejo de doenças do cafeeiro e são uma boa ferramenta para o produtor. Considerando os riscos de surgimento de populações resistentes do patógeno aos fungicidas já utilizados, estes produtos se apresentam como um bom reforço aos químicos. Além disso, tais produtos têm baixo custo e, se utilizados de forma racional, não irão onerar os custos de produção.
BOX
Atuação dos aminoácidos no cafeeiro
No mercado brasileiro de produtos agrícolas, o emprego de aminoácidos como complexantes de nutrientes vem crescendo. Os aminoácidos são constituintes das proteínas, que atuam como enzimas e formadoras de tecidos nas plantas.
São, também, fornecedores de nitrogênio ao cafeeiro, e podem funcionar como bioestimulantes, melhorando o enraizamento e desenvolvimento das plantas, favorecendo a qualidade e quantidade da produção e deixando a planta resistente aos agentes externos.
Há comprovações de que o uso dos aminoácidos faz com que a planta economize energia e melhore a eficiência e a translocação de nutrientes, apresentando assim efeitos benéficos, pois se sabe que uma planta bem nutrida é mais tolerante às condições adversas.
Entretanto, quando se aplica aminoácidos na lavoura o objetivo não é o fornecimento de nitrogênio ou suprir material para a síntese proteica, mas sim a ativação do metabolismo vegetal.
Os aminoácidos são empregados nas formulações de adubos como complexantes e é corrente na literatura que os aminoácidos podem, também, tornar as paredes celulares mais permeáveis aos íons, facilitando a absorção.