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sábado, novembro 23, 2024
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Genética – Tomate italiano x doenças foliares

Autores

Carlos Antônio dos Santos
Engenheiro agrônomo e doutorando em Fitotecnia – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)
carlosantoniods@ufrrj.br
Lígia Sayko Kowata-Dresch
Engenheira agrônoma e doutora em Fitotecnia – UFRRJ
Margarida Goréte Ferreira do Carmo
Engenheira agrônoma, doutora em Fitopatologia e professora – UFRRJ
gorete@ufrrj.br

Crédito Shutterstock

O tomate se destaca como uma das hortaliças mais apreciadas pelo brasileiro, sendo cultivado, principalmente, nos Estados das regiões sudeste e centro-oeste. Atualmente, tem se observado a busca dos consumidores por produtos diferenciados com maior valor agregado, como o tomate do tipo italiano, destinado principalmente a um público mais exigente em qualidade e sabor.

O tomate italiano apresenta frutos com formato alongado, coloração intensa, sabor adocicado, boa textura e aroma. Estas características positivas, aliadas à sua dupla aptidão de consumo, seja na forma de saladas ou em molhos caseiros, são responsáveis por sua grande aceitação perante o mercado consumidor.

 Estimativas recentes apontam que o mercado de tomate italiano no Brasil tem correspondido a mais de 20% do total destinado à mesa, com grande potencial de crescimento nos próximos anos.

Doenças foliares em tomate

O cultivo de tomate italiano requer uma série de cuidados quanto ao manejo do ambiente e da cultura, visando alcançar uma boa produtividade, priorizando frutos atraentes ao consumidor, com menor custo aos produtores e menor impacto ambiental.

Nesse contexto, a ocorrência de doenças e pragas destaca-se como o principal desafio à produção, fazendo com que o produtor de tomate redobre a atenção quanto ao manejo fitossanitário da cultura, uma vez que a lavoura está sujeita a diversas doenças, tanto as causadas por patógenos de solo como nematoides, bactérias e fungos causadores de podridões, danos vasculares, radiculares e murchas, além de doenças foliares causadas por diversos agentes (vírus, fungos e bactérias) que podem atacar as plantas e prejudicar o seu pleno desenvolvimento.

A ocorrência de doenças foliares é prejudicial ao tomateiro por reduzir a produção dos fotoassimilados responsáveis pelo crescimento da planta como um todo, e para o enchimento dos frutos. Ou seja, estas doenças causam redução da área foliar fotossinteticamente ativa que reflete negativamente na quantidade e qualidade dos frutos produzidos.

Danos diretos aos frutos ou, ainda, exposição dos mesmos ao sol em função da desfolha causada por estes patógenos também podem comprometer a qualidade dos mesmos.

As lavouras com plantas severamente atacadas por doenças foliares apresentam redução precoce do ciclo da cultura, o que trará prejuízos ao produtor, por não corresponder aos investimentos realizados.

Alerta geral

As principais doenças foliares do tomateiro italiano incluem aquelas causadas por fungos e oomicetos, vírus e bactérias, podendo variar em função das condições de manejo adotado, cultivar utilizada, quantidade de inóculo ou presença de vetores, da época de plantio e de diferentes condições climáticas como, por exemplo, temperatura, umidade ou ocorrência de molhamento foliar. 

Dentre estas doenças, a requeima, ou mela do tomateiro, é causada pelo oomiceto Phytophthora infestans, sendo uma das mais devastadoras no cultivo de tomate em todo o mundo. Sua ocorrência é favorecida por temperaturas amenas, alta umidade e molhamento foliar.

Nas folhas, os sintomas da doença iniciam-se na forma de pequenas manchas de coloração verde-pálido e formato indefinido que, posteriormente, aumentam de tamanho rapidamente e atingem grande parte do limbo foliar, tornando o tecido necrótico e seco. A doença também pode atacar toda a parte aérea do tomateiro.

A mancha-de-estenfílio do tomateiro é causada pelos fungos Stemphylium solani e S. lycopersici, sendo o primeiro predominante nas lavouras. As lesões são observadas nas folhas, inicialmente com pequenas pintas encharcadas de cor marrom a preta que rapidamente evoluem para lesões necróticas de cor cinza escura e contornos circulares ou irregulares, ligeiramente deprimidas e circundadas por halo clorótico.

Já a alternariose ou pinta-preta do tomateiro (causada por Alternaria solani) ataca toda a parte aérea da planta, sendo os sintomas mais visíveis nas folhas mais velhas, apresentando pintas pequenas, acastanhadas ou negras, rodeadas por halo amarelo.

A alternariose também pode causar incidência de abortamentos florais e, por consequência, redução da produção.

Dentre as principais viroses que atacam a cultura do tomateiro, destacam-se, principalmente, as causadas por vírus dos gêneros Tospovirus e Begomovirus (também conhecido como Geminivirus).

Nos Tospovirus, incluem-se espécies causadoras da doença chamada “vira cabeça do tomateiro” como, por exemplo, a espécie Tomato spotted wilt virus (TSWV). Os sintomas causados pela doença incluem a redução do limbo foliar, curvamento e necrose do ápice, bronzeamento ou arroxeamento das folhas e manchas e anéis nos frutos.

Outras manifestações viróticas no tomateiro também incluem mosaico, clorose, enrolamento foliar e rugosidade, o que, evidentemente, afeta a produção dos frutos.

A pinta bacteriana do tomateiro (Pseudomonas syringae pv. tomato) é favorecida por temperaturas amenas e alta umidade, causando nas folhas lesões necróticas, circulares ou irregulares, de coloração pardo escura a preta no lado inferior dos folíolos, podendo apresentar um halo amarelado. As lesões podem evoluir para o secamento da folha.

Na mancha bacteriana, causada pelo complexo Xanthomonas spp., ocorrem manchas encharcadas que evoluem para necrose, e pode ocasionar necrose total da folhagem, além de lesões nos frutos.

Genética contra doenças foliares

O controle de doenças foliares no tomateiro pode ser um grande e oneroso desafio ao produtor, principalmente em épocas favoráveis à ocorrência dessas doenças. Relatos de perdas são frequentes nas principais regiões produtivas, caso não seja adotada uma medida eficaz de controle.

No geral, o manejo é feito com o uso de produtos químicos para controle dos agentes ou dos vetores (para o caso das viroses) e com manejo cultural, o que nem sempre é satisfatório.

Nesse contexto, o uso de cultivares resistentes para o manejo de doenças foliares representa a estratégia mais interessante a ser utilizada, por reduzir os custos com a aplicação de defensivos e, por consequência, a quantidade de produto químico lançado no meio ambiente, aumentar a segurança do trabalhador rural e do produto colhido (isento de resíduos) e, principalmente, diminuir os riscos do produtor com perdas da lavoura.

A produção do tomate italiano, com o uso de cultivares resistentes às principais doenças foliares, poderá ser feita por um período maior durante o ano, inclusive na entressafra, garantindo a obtenção de melhor preço de mercado, evitando flutuações na produção e oferta de tomate italiano.

Inovações

Atualmente, em função dos avanços no melhoramento genético do tomate italiano, vem sendo disponibilizado no mercado materiais que têm apresentado resistência às principais doenças foliares que acometem a cultura, como viroses diversas (geminivirus e vira-cabeça), mancha-de-estenfílio, alternariose e pinta bacteriana, por exemplo.

Ainda, alguns materiais podem também combinar resistência a patógenos de solo, como nematoides e algumas raças de Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici, causador da murcha-de-fusário do tomateiro.

Essas características, aliadas à produção de frutos com boa uniformidade, resistência a rachaduras e boa produtividade têm sido importantes para a expansão do cultivo do tomate italiano, por, evidentemente, diminuir os custos e os riscos na produção e aumentar a produtividade e qualidade do produto colhido.

Cultivares com resistência a doenças foliares têm sido utilizadas nas principais regiões produtoras, como em Nova Friburgo, na região serrana do Rio de Janeiro, com grande aceitação por parte dos produtores.


Tendência

O controle das doenças foliares com o uso de cultivares resistentes, aliado a práticas preventivas e de manejo integrado, deve ser incentivado em função dos benefícios proporcionados, uma vez que o valor gasto com defensivos representa uma alta porcentagem em relação do custo total de produção, perdendo apenas para o gasto com mão de obra.

Segundo o CEPEA, a porcentagem gasta com defensivo em relação ao total gasto para produção de tomate de mesa, em três cidades produtoras de tomate, foi de 14% em Mogi-Guaçu (SP) na safra de inverno 2016; 10% em Caçador (SC), na safra de verão 2016/17, e 16% em Araguari (MG) na safra de inverno 2015.

O valor gasto com este tipo de insumo é maior do que o gasto com sementes, 3,5% (Mogi-Guaçu); 3,7% (Caçador) e 4,8% (Araguari), indicando uma área a ser explorada e fomentada.

Lembrando que o uso de cultivares resistentes deve estar atrelado à obtenção de mudas de qualidade, rotação de culturas com outras espécies, controle de insetos vetores, como tripes e pulgões, que podem transmitir vírus, redução do molhamento foliar (priorizando irrigação por gotejamento), destruição dos restos culturais, manejo adequado da irrigação e adubação, entre outros.

Viabilidade

O custo-benefício da utilização de tomate italiano resistente a doenças foliares é satisfatório, por reduzir os gastos com o controle químico das doenças e aumentar a produtividade da cultura, sem onerar os custos de produção.

Diante disso, o produtor obterá maior segurança no cultivo, podendo desfrutar desse mercado lucrativo, diferenciado e ascendente, que é o do tomate italiano.

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