Autor
Bruno Nicchio
Pós-doutorado PNPD em Agronomia – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
bruno_nicchio@hotmail.com
Com a intenção de melhorar o sistema radicular de espécies utilizadas em reflorestamentos, o gesso agrícola vem despontando como uma tendência mundial de consumo. Outro fator importante no qual o gesso agrícola pode contribuir diz respeito ao desenvolvimento do sistema radicular em profundidade, proporcionando maior volume de solo para a exploração de água e nutrientes.
Ao se solubilizar, o gesso agrícola libera cálcio e o ânion SO42- para a solução do solo, favorecendo o crescimento radicular em profundidade. É importante considerar estes fatores, pois o uso intensivo dos solos visando altas produtividades e o emprego constante de adubos concentrados em NPK com baixas concentrações de S (teor de S < 1 %) tem contribuído para a limitação da produção agrícola, além dos baixos níveis de S em solos tropicais; baixa fertilidade e matéria orgânica do solo (teor de matéria orgânica < 2%); redução das reservas de S do solo; excesso de calagem, que pode deslocar os íons sulfato no perfil pelo aumento de cargas negativas no complexo de troca do solo; redução do uso de pesticidas com S; e aumento de exportação de nutrientes pelas culturas (Stipp; Casarin, 2010; Nicchio, 2018).
Composição
O gesso natural (gipsita, com 15% de S) e o gesso agrícola (resultado do tratamento da rocha fosfática com ácido sulfúrico), fonte tradicional de S para as culturas, é um sal neutro e tem como função diminuir a saturação por Al e aumentar os teores de Ca e S em profundidade, melhorando o condicionamento do solo e favorecendo o desenvolvimento das plantas.
O gesso agrícola apresenta a vantagem de ter o sulfato ligado ao Ca, o que facilita sua mobilidade no perfil do solo, conforme equação a seguir (Vitti; Otto; Savietto, 2015):
CaSO4.2H2O Ca2+ + SO42- + CaSO40
O gesso, ao ser dissociado, libera íons Ca2+ e SO4-2 na solução do solo e, por isso, é recomendado para solos que apresentam baixos teores de Ca e S. Aproximadamente 40% do total de Ca solúvel estão presentes como SO4-2, o que o torna potencialmente móvel no solo em profundidade, melhorando a fertilidade e aumentando a exploração das raízes.
Em função dessas características, o gesso favorece a melhor absorção de água e nutrientes, propiciando uma maior tolerância das plantas aos veranicos (Raij, 2011; Soares, 2016; Nicchio, 2018).
O gesso agrícola pode ser utilizado na agricultura como fonte de Ca e de S e também na correção de camadas subsuperficiais com altos teores de Al3+ e/ou baixos teores de Ca2+, com o objetivo de melhorar o ambiente radicular das plantas.
Recomendações
Para decidir sobre a recomendação de aplicação de gesso agrícola, observe se as camadas subsuperficiais do solo (20 a 40 cm ou 30 a 60 cm) apresentam as seguintes características: £0,4 cmolc dm3 de Ca2+ e/ou >0,5 cmolc dm3 de Al3+ e/ou >30 % de saturação por Al3+ de acordo com a 5ª Aproximação (1999).
Em termos de recomendação de gesso agrícola para fornecimento de S, doses de 100 a 250 kg ha-1 de gesso seriam suficientes para corrigir deficiências do elemento para a maioria das culturas.
Além disso, outro aspecto que deve ser considerado na recomendação de adubação com S é que, como na adubação fosfatada, a textura do solo deve ser observada. Solos argilosos tendem a apresentar maior capacidade de adsorção de sulfatos, daí serem exigidas maiores doses de S para a adequada disponibilidade do elemento para as plantas.
Solos que apresentem teores de S inferiores a 10 mg dm-3 podem apresentar maiores repostas à adubação. De acordo com a 5ª aproximação (1999), o gesso agrícola deve ser recomendado para a correção de camadas subsuperficiais. Assim, as quantidades recomendadas, indicadas a seguir, destinam-se a camadas de 20 cm de espessura (exemplos: 20 a 40 cm, ou 30 a 50 cm).
Custo
Com relação ao custo de aplicação, o maior desafio atualmente é com relação ao frete, pois em função da maior procura nos últimos anos as empresas têm elevado o custo de transporte.
Rodrigues et al. (2015), ao avaliarem a produtividade de eucalipto aos 18 meses de idade, em resposta a aplicação de calcário e gesso agrícola, na região do Cerrado, observaram que a aplicação de calcário + gesso aumentou a produção de madeira em 96%, comparado com ausência de calcário, e em 24% em relação à aplicação de calcário isoladamente.
Na aplicação de calcário + gesso, o gesso aplicado em faixa promoveu maior aumento na produção, comparado ao gesso em área total. Deste modo, pode-se concluir que aplicação de gesso se apresenta uma prática com alto potencial responsivo pois, além de aumentar a disponibilidade de S e Ca, pode favorecer o desenvolvimento do sistema radicular em camadas subsuperficiais do solo, resultando em espécies florestais mais tolerantes à deficiência hídrica.
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