Em áreas infestadas de nematoides é praticamente inviável o cultivo de café, mas o IAPAR lança uma solução
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) lançou a cultivar de café IPR 106, resistente aos nematoides Meloidogyne incognita e Meloidogyne paranaensis, espécies que inviabilizam a exploração cafeeira em regiões produtoras do Brasil.
De acordo com o pesquisador Gustavo Hiroshi Sera, a nova cultivar é indicada para regiões aptas ao cultivo de café arábica com temperatura média anual entre 20ºC e 23ºC. As plantas, de porte médio, boa arquitetura, frutos amarelos e ramificação abundante, são adequadas para formar lavouras tanto em plantios convencionais como no sistema adensado. O potencial produtivo passa de 50 sacas beneficiadas por hectare.
De ciclo tardio, a IPR 106 possibilita arranjos com outras cultivares disponíveis no mercado, para viabilizar a colheita da lavoura em etapas, possibilitando maior quantidade de frutos maduros e a redução dos custos com mão de obra e infraestrutura.
Em relação à qualidade, os grãos têm peneira superior a 16, característica valorizada pelo mercado, sobretudo o segmento de cafés especiais. Na mesa de degustação, é uma bebida de aroma intenso, encorpada, com sabor adocicado e bom equilíbrio entre acidez e amargor. “Atende todos os requisitos internacionais“, diz Sera.
Problema eliminado
Sera informa que, além do IPR100, que foi lançado em 2012, o IPR 106 elimina a necessidade de enxertia,o que facilita a aquisição e a produção de mudas, até mesmo o preço, que caiu pela metade.
“Agora é viável plantar café em área infestada com Meloidogyne paranaensis e Meloidogyne incognita. No manejo, o produtor vai diminuir perdas na produção. Muitas vezes ele começa o plantio em áreas que não tem infestação, mas o nematoide entra e ele começa a enfrentar prejuízos. A partir de agora, os cafeicultores terão redução do uso de nematicidas, e o custo com nematicidas, químicos ou biológicos, deixará de existir, ao mesmo tempo em que serão evitadas perdas na produção“, esclarece o pesquisador.
O recomendado é que antes de plantar esse café resistente haja redução da população dos nematoides com controle cultural, biológico e químico.“Porém, alguns produtores até plantam eles em áreas infestadas sem diminuição de população. Em geral, não ocorrem problemas. Ele até produz bem“, garante Gustavo Sera, esclarecendo que, ao longo do tempo, como este é um material resistente, a população de nematoide é até reduzida. “Tem um Ãndice que chamamos de fator de reprodução, e o dele é abaixo de 01, o que faz com que a população diminua“.
O fator de reprodução é o número da população final dividido pela população inicial. Se a população inicial for 05 mil e a final 2,5mil, o fator de reprodução é 0,5, e com o passar do tempo a população diminui.
A recomendação quanto à redução da população de nematoides antes de plantar esse material se justifica porque, não sendo fator de reprodução 0, a planta terá que se defender desses nematoides, induzindo ao gasto energético. “Portanto, o ideal seria combinar isso, e ao longo do tempo não precisar fazer manutenção com produto químico. Basta fazer os tratos culturais normais e o cafezal produzirá normalmente“, afirma o pesquisador.
Mais benefícios
O IPR 106 é uma excelente opção de café arábica com resistência a nematoides Meloidogyne paranaensiseMeloidogyne incognita, problemas graves em Minas Gerais, Paraná e São Paulo. “Em Minas Gerais esse nematoide está disseminando muito, sendo este o maior produtor de café, especialmente o Triângulo Mineiro e o Sul de Minas“, alerta Gustavo Sera.
A cultivar tem outras vantagens, além da resistência a nematoide, como alto vigor vegetativo, facilidade de derriça do fruto, visto que o mesmo é bem graúdo, média de peneira entre 18 e 19. O fruto é amarelo e a qualidade de bebida é especial, diferenciada e melhor do que o próprio catuaÃ, uma variedade muito plantada. O pesquisador ressalta que este café também tem uma moderada resistência à bactéria pseudômonas, e certa tolerância à ferrugem.
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Espaçamento
Como ele é muito vigoroso e apresenta intensidade de ramificação lateral muito alta, o IPR 106 deve ser plantado no mÃnimo com uma ramificação lateral de 75cm entre plantas. Como a planta é de porte baixo, o espaçamento de rua pode ser similar ao do CatuaÃ, podendo variar de acordo com a mecanização, poda, e tratos culturais. “Varia de 2,5 metros a 3,8 metros. Dependendo da tecnologia utilizada“, conclui.
Para comercialização
O Iapar terá sementes de IPR 106 Ã disposição dos viveiristas ainda neste ano. Produtores poderão adquirir mudas para formação de lavouras a partir de 2018.